Moldávia Central da seleção (formado em jornalismo) «horrorizado por explosões a 100 quilómetros de casa»
Internacional por 13 vezes pela Moldávia, o defesa-central Maxim Potirniche, atualmente no Petrocub, é também um jogador que reflete sobre o duro contexto da guerra numa das principais fronteiras do país. O êxodo de milhares de ucranianos, desesperados pela sobrevivência, despojados à força das suas raízes, dominados por sons de explosões mortais, terrivelmente acossados pela destruição das suas cidades levada a cabo pela artilharia russa, atinge em grande escala a Europa central e a própria Moldávia, dentro da sua pequenez, encontra a grandeza hospitaleira numa fase tão sensível das vidas dos ucranianos e ucranianas. Potirniche, além de jogar, nunca se descuidou dos estudos e logo na sua licenciatura é percetível o olhar clínico sobre as agressões da Rússia de Putin sobre a Ucrânia.
«É verdade que sou licenciado em jornalismo. Não sei se seguirei a minha vida por esse caminho, mas faço questão de ver tudo o que me chega pela comunicação social, tanto como espectador como pelo lado profissional», apresenta-se Potirniche, analisando as implicações dos tenebrosos bombardeamentos e de todo sangue derramado numa nação amiga. O cerco recente do exército russo sobre Odessa, cenário do extraordinário filme de Eisenstein ‘Battleship Potemkin’, de 1925, focado num massacre de civis numa icónica escadaria que representa a entrada na cidade, alerta e preocupa ainda mais os moldavos no que são os imprevisíveis avanços geográficos das forças de Putin.
«Estou horrorizado, ouço as explosões a 100 quilómetros de onde estou a morar, na nossa capital, Chisinau. Mas em todo este contexto, nós moldavos estamos a esforçarmo-nos para ajudar em tudo o que for possível os refugiados da Ucrânia. Que fogem de uma guerra, uma guerra iniciada pela Federação Russa!», acusa, marcado pela incredulidade por tamanha crueldade.
«Nunca poderia imaginar algo assim em pleno século XXI, uma guerra com equipamento militar, armas, explosões e mortos. Somos humanos, devemos falar, o poder da palavra deveria sempre prevalecer sobre qualquer disparo», desabafa. Um tom pesaroso, difícil de combater nos dias vigentes. Os alertas globais multiplicam-se…
«A vida tem corrido normalmente na Moldávia mas estamos, de facto, alarmados com o facto de haver operação militares tão fortes no nosso vizinho mais imediato. A maioria está calma e procura ajudar de todas as formas possíveis ao seu alcance. O mundo tem mostrado solidariedade com a Ucrânia por toda esta situação, nós também, mesmo com o pouco que possamos ter.
«O mais complicado é a guerra da desinformação, tem vindo a aumentar e com ela as pessoas entram mais facilmente em pânico. Algumas querem abandonar o país mas as autoridades andam vigilantes e têm banido essa desinformação em alguma imprensa», observa Maxim Potirniche, não se pondo à margem do entendimento particular que pode vir da Transnistria, um enclave separatista pró-russo na Moldávia, cuja a capital é Tiraspol, sede do Sheriff. E de potenciais apuros.
«Tiraspol sempre foi uma cidade desanexada da União Soviética. Agora não mudou muito... algumas coisas têm melhorado ao nível de infraestrutura, parques, lojas. Mas não a mentalidade. As pessoas são limitadas, é como se estivessem fechadas a viver numa caixa. A região acaba por ser um enclave, onde não acontecem muitas coisas», evidencia.