A culpa será do carro ou será do condutor: a crónica do Benfica-Real Sociedad

A culpa será do carro ou será do condutor: a crónica do Benfica-Real Sociedad

NACIONAL25.10.202300:13

Este Benfica dá demasiado tempo e espaço para o adversário jogar bem e sem erro; em cinco substituições salvaram-se apenas duas

Três jogos, zero pontos e zero golos, eis o triste histórico do Benfica, esta época, na Champions. Muito diferente dos resultados e das exibições conseguidas na época passada e, por isso, terá de ser a partir desta realidade concreta e objetiva que Roger Schmidt deve assentar a sua análise e uma ideia urgente de solução para o futuro. Três jogos europeus e três desastres. Não há coincidências. A culpa só pode ser do carro ou do condutor. Ou, até mesmo, dos dois. 

No nosso lugar de mero observador, apenas a constatação de factos. A equipa não consegue superar situações em que um adversário, como a Real Sociedad, atualmente uma das boas equipas espanholas, consegue juntar intensidade, velocidade e organização tática. Com bola, a equipa não sabe retê-la em posse, esbanjando um bem essencial ao jogo. Sem bola, surge-nos na frente um conjunto desconjuntado, uma soma de parcelas avulsas, um queijo suíço esburacado e sem consistência. 

Jogar com uma linha de um trio adiantado como Neres, Rafa e João Mário é um suicídio neste tipo de jogos em que cada palmo de terreno custa o preço do metro quadrado na Avenida da Liberdade. Na verdade, nenhum deles exerce qualquer pressão quando não tem bola e obrigam, assim, os seus laterais, aliás, também sem grande perspicácia posicional, a parecerem baratas tontas. Tal como obrigam a equipa a defender muito recuada e a abrir espaços largos e tempos tolerantes que permitem ao adversário jogar bem e sem erro. 

Substituições questionáveis

Não era preciso ser particularmente entendido na ciência do jogo para se perceber que o empate, ao intervalo, era um resultado muito generoso para o Benfica. Roger Schmidt também achou e fez bem em não esperar para arranjar soluções no banco. Mas a questão é se decidiu o melhor. Trocou João Mário por Kokçu, o que pareceu muito razoável, mas fez troca direta de Musa por Arthur Cabral e, aí, não se percebeu bem porquê.

Pior quando trocou Jurásek por Bernat porque nem os dois juntos fariam o lateral que o Benfica precisava. Tal como também tirou Bah para recuar Aursnes que anda manifestamente com a bússola desorientada de tantas posições que faz em campo. Sinceramente, penso que Schmidt acertou em duas das cinco alterações. A mais conseguida foi quando trocou Neres por Tiago Gouveia, tornando a equipa mais sólida no meio-campo, mais intensa e com mais pressão ofensiva. E foi quanto bastou para o Benfica dar um ar da sua graça e obrigar, mesmo que a espaços, a Real Sociedad a recuar, a inquietar-se, a sentir algum respeito. 

Numa prova como a Champions o pior que se pode fazer é ser condescendente com a vulgaridade e a verdade é que o Benfica foi vulgar nos três jogos que já disputou. Sinceramente, penso que mesmo que consiga resolver o mal de que sofre, já não irá a tempo de conseguir a qualificação para os oitavos de final. Por isso deve apostar as fichas todas em garantir, o que não está fácil, a continuidade na Europa, mesmo que seja na segunda divisão. Sair das provas europeias com um balanço desastroso torna improvável que a ressaca não chegue às provas nacionais. 

Seja como for, fora ou dentro de portas, o Benfica precisa de se reencontrar e de voltar a ser uma equipa com qualidade competitiva, uma equipa com sentido de organização tática, mais compacta e mais ligada nos seus setores, uma equipa com personalidade e com maturidade. Uma equipa que precisa de resolver urgentemente um problema de organização para tirar partido dos talentos individuais que possui.