«A coisa mais maluca que Guardiola me pediu foi defender o Saka no Emirates»
Bernardo Silva, figura de 2023 para A BOLA (Foto: Adrian O'Toole)

BERNARDO SILVA - FIGURA DO ANO 2023 «A coisa mais maluca que Guardiola me pediu foi defender o Saka no Emirates»

INTERNACIONAL26.12.202323:00

ENTREVISTA EXCLUSIVA - O romance entre Bernardo Silva e Pep Guardiola está longe de chegar ao fim. O português reconhece a importância que o técnico espanhol tem na sua carreira e acredita que ainda não aprendeu tudo o que pode aprender.

- Qual foi a coisa mais maluca que Guardiola lhe pediu? 

- A coisa mais maluca que me pediu foi provavelmente jogar a lateral no Emirates contra o Saka. Não foi fácil e foi um jogo de muita pressão porque estávamos atrás deles e se perdêssemos ou empatássemos esse jogo estaríamos fora da luta pela Premier League. Ter de jogar esse jogo contra um dos melhores extremos da liga foi o momento que vou lembrar para sempre na minha carreira. E adorei, adorei. No final de contas foi duro, mas foi um grande desafio, que eu adorei.

- E trocou algumas palavras com o Saka nesse jogo?

- Não nesse jogo. Mas já troquei de camisola com o Saka há uns anos e é um jogador que admiro muito, porque é um dos melhores extremos da liga, além de ser muito trabalhador, com golo e com uma boa mentalidade. Gosto muito dele. 

- Já falámos da primeira, e a segunda coisa mais maluca que Guardiola lhe pediu?

- Eu não considero maluca, mas o Guardiola já me pediu bastantes vezes para, no pontapé de baliza, ir para o lado do guarda-redes, ele passar-me a bola e eu entrar a conduzir pelo meio, porque ele sabe que sou um jogador bastante confortável com bola na zona de construção. A verdade é que vai correndo bem (risos), mas é uma zona perigosa, não é? Ele sabe que eu sinto-me bastante confortável, mas não deixa de ser uma zona perigosa em que se perder a bola estou muito próximo da nossa baliza e pode dar golo.

Bernardo Silva em mais um duelo com Bukayo Saka, aqui na Charity Shield deste ano (Foto: IMAGO / Uk Sports Pics Ltd)

- Voltando a Guardiola, o documentário All or Nothing (2018)… Confesso que fiquei um pouco surpreendido porque de cada vez que a imagem captava o Bernardo mostrava-o de boca aberta, quase espantado…

- Sempre fui assim.

- O que é que ele significa para si na sua carreira? 

Sempre fui assim, de boca aberta. Quando estou a olhar para alguém estou sempre de boca aberta. Agora, o Pep sempre foi… Quando era mais novo e via aquela equipa do Barcelona dos pequeninos, do Xavi e do Iniesta, do Messi e desses jogadores todos, treinada pelo Pep, foi uma inspiração para mim. Inspiração porque surge num momento em que não jogava na formação do Benfica ao não ser fisicamente tão forte como os meus colegas de equipa. Acabei por não jogar durante vários anos na formação do Benfica e houve uma altura em que estive para ser mandado embora da formação e emprestado ao Belenenses. Num momento difícil para mim, perceber que o tamanho podia não ter assim tanta importância no futebol ao ver essa equipa do Barcelona a jogar foi sem dúvida uma inspiração. E um dos meus sonhos no futebol sempre foi ser treinado por ele, portanto poder chegar ao Manchester City foi na altura um orgulho e ainda hoje poder aprender com ele é sem dúvida algo que nunca vou deixar de querer aproveitar. Vou tomar sempre o máximo de atenção que puder em todas as reuniões e em todos os treinos para ir sempre evoluindo. Não só com ele, mas também com os meus colegas de equipa, mas sobretudo com ele. 

Bernardo Silva com Guardiola após a final da Liga dos Campeões deste ano (Foto: IMAGO/ANP)

- Guardiola deu uma entrevista à psicóloga Soledad Bacarreza em que diz que um dos seus desafios mais interessantes é saber como chegar a um jogador a fim de conseguir motivá-lo e potenciá-lo ao máximo. Por exemplo, convidar para um jantar em casa, ir tomar um café, ficar a falar com ele depois do treino… O que é preciso para motivar o Bernardo?

O que é preciso para me motivar?

- Ou para potenciar em campo por exemplo?

- Gosto de treinadores exigentes. Guardiola é o exemplo perfeito de um treinador que me motiva da forma certa. Primeiro, porque vemos o futebol da mesma maneira, temos a mesma ideia de jogo… E nem sempre é fácil porque às vezes… não há uma ideia correta de jogo no futebol, não é? Uns treinadores são um bocadinho mais ofensivos, outros mais defensivos, uns gostam de jogar mais com a bola, outros mais em contra-ataque, e pode-se ganhar de qualquer das formas. Eu, da forma que vejo o futebol, gosto de pressionar alto, gosto de ter bola e, portanto, ter um treinador como o Guardiola que pensa exatamente dessa forma ajuda a que eu esteja motivado. Só por aí, ter um treinador que pensa da mesma forma do que eu já é uma motivação para todos os dias ir para o treino com uma cara feliz. E, depois, eu gosto de alguém… eu gosto de alguém honesto. Focado, mas honesto. Com princípios, mas honesto, que me diz, para bem e para o mal, aquilo que fiz bem e mal nos momentos em que tem de dizer. E não tenho problema algum, acho eu… Acho que lido bem com a crítica, mas gosto sobretudo de honestidade. Quando eu vejo que no fundo é só para melhorar a equipa, porque a crítica nunca é pessoal, estou motivado por mim mesmo.

- Não precisa de um convite para jantar…

- Não, não preciso que ninguém me convide para jantar. Percebo que haja jogadores que precisem um pouco mais de carinho, outros de menos, jogadores que precisem mais… Por isso é que é difícil ser treinador, é preciso lidar com os jogadores de forma muito diferente. Há jogadores que precisam levar uns gritos, há outros que precisam mais de umas palmadinhas nas costas, e é difícil perceber o que cada um precisa.

- E o que é que o Bernardo precisa, de gritos ou de palmadinhas nas costas? Ou de nada disso?

- Não me importo que me deem um grito de vez em quando, embora não seja um jogador de que precisem de gritar muito comigo, porque acho que sou bastante trabalhador e cumpridor das regras. No entanto, se levar um grito não me chateia. Já levei muitos gritos, tanto do Guardiola como do Fernando Santos, como de muitos outros treinadores meus, e nunca levei a mal.

Bernardo Silva e Fernando Santos (Foto: IMAGO / Beautiful Sports)

- Naquela declaração sobre a humildade do Bernardo, Guardiola disse que não tinha tatuagens. Ele nunca viu o seu braço esquerdo?

- Tenho uma, tenho uma. Há bastante tempo. 

- Chegou a vê-la?

- Eu acho que sim, mas se calhar esqueceu-se. (risos)

Pode ler o resto da entrevista esta quarta-feira neste site e no jornal em papel, e vê-la depois n'A BOLA TV.