Os efeitos das emoções na prática desportiva (artigo Vítor Rosa, 219)

Espaço Universidade Os efeitos das emoções na prática desportiva (artigo Vítor Rosa, 219)

ESPAÇO UNIVERSIDADE02.02.202323:05

As emoções desempenham um papel importante na prática e nos eventos desportivos. Elas são importantes não só para os atletas, mas também para os participantes. Surgem da ação e podem influenciá-la. As emoções remetem para a zona de conforto, criando ilusões. Em psicologia, sabe-se que as emoções primárias não estão viradas para nos fazerem felizes, mas sim para sobrevivermos. No âmbito da competição, muitas vezes são as emoções que decidem os resultados. A experiência de certas emoções pode levar um atleta a fazer o melhor uso das suas capacidades e ter também uma influência positiva na performance. Não interessa aqui explicá-las todas, mas tomemos, como exemplo, seis das emoções básicas: alegria, raiva, surpresa, tristeza e medo.
 

No caso da alegria, verifica-se que está associada ao comportamento de ligação, manifestando-se no corpo nas chamadas “hormonas felizes”. Essas hormonas podem ter, por exemplo, um efeito positivo na nossa perceção de dor. No desporto, este comportamento poderia estar associado à procura de desempenho, ao esforço, à atividade focalizada, etc. Teoricamente, uma emoção como a alegria promove o desejo de se praticar algo ou, de uma forma mais geral, de se praticar um desporto.
 

Relativamente à raiva, a sua função biológica original é a destruição. A experiência desta emoção preparou automaticamente o ser humano para um comportamento agressivo, destinado a remover obstáculos para a satisfação de necessidades importantes. Tal como a alegria, a raiva pode ser associada a uma tendência para a ligação, mas com outros motivos subjacentes.
 

O fator surpresa: no passado, a surpresa era definida como uma emoção desencadeada por um objeto inesperado, permitindo a uma pessoa se adaptar a uma situação nova ou estranha. A surpresa negativa pode, rapidamente, se transformar em frustração ou descontentamento, ou causar uma espécie de choque, o que pode atrasar a ação e o desempenho. Se num evento, aumentarmos o desvio do valor-alvo, a surpresa tem uma carga negativa; se reduz o desvio do valor-alvo, a surpresa é sentida positivamente.
 

Quanto à tristeza, ela é uma reação a uma perda de algo importante que foi possuído ou valorizado. No desporto, a reação emocional não é geralmente uma tristeza enquanto tal, mas sim uma forma suavizada desta emoção: desilusão perante a derrota ou fracasso pessoal. A tristeza e a desilusão são emoções, cujas consequências negativas são mais prováveis de serem sentidas a longo prazo. A motivação, especialmente para continuar a treinar e atingir objetivos, pode sofrer alterações. Esta emoção de motivação é de grande importância na educação física, uma vez que as crianças são particularmente influenciadas pelo fracasso e perdem rapidamente o interesse pela prática desportiva.
 

Finalmente, uma nota sobre o medo: em contraste com a raiva, o medo não serve para destruir, mas sim para proteger. Quando confrontados com uma reação ao stresse de qualquer tipo, analisamos automaticamente a situação. Se nos vemos mais fortes do que o objeto de stresse, sentimo-nos zangados. Mas, se nos vemos mais fracos, sentimos medo. O comportamento não está focado na aproximação, mas sim em evitar. Se nos sentirmos ameaçados, adotamos um comportamento para nos protegermos do perigo e dos danos. No desporto, o medo é um fenómeno omnipresente. O medo, semelhante à alegria, pode levar a uma diminuição da atenção. Para além dos efeitos cognitivos, o medo também pode levar a um aumento geral da excitação física ou a um bloqueio do comportamento motor. Uma pessoa medrosa é, assim, incapaz de atuar.
 

Existem, grosso modo, quatro leis sobre a independência emocional: 1) a mente a as emoções primárias não nos fazem felizes, mas sim sobrevivermos; 2) o piloto automático (a forma de se reagir) é o resultado das decisões de uma criança muito jovem. O adulto que somos hoje é fruto da infância. 3) nós somos condicionados por regras e modelos de outras pessoas; 4) a programação emocional e personalidade foram moldadas sem nós escolhermos, e não é quem você realmente é.
 

Eu diria que o maior erro é se olhar para trás no tempo e lamentar o que se perdeu e aquilo que hoje falta. Os pensamentos não são a realidade. Recomendo, se me permitem, a não punição constante pelos erros cometidos, sob pena de se criar uma prisão emocional perpétua.

Vítor Rosa
Sociólogo, Pós-Doutorado em Sociologia e em Ciências do Desporto, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática.

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