Espaço Universidade Minha alma está em brisa (artigo de Manuel Sérgio, 313)
Depois de uma conversa telefónica, com o Carlos do Carmo, fadista (o maior de sempre), cançonetista, um homem culto, estruturalmente delicado, afável e bom, afinal um ser humano exemplar, ocorreu-me um poema do brasileiro Mário de Andrade (1883-1945), pioneiro da moderna poesia brasileira. O poema intitula-se “Minha alma está em brisa” e, porque Desporto e Arte deverão encontrar-se, sempre, em clima de cordialidade fraterna (já Pierre de Coubertin assim o queria) reproduzo, aqui, a mensagem de Mário de Andrade:
«Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver, a partir daqui, do que o que eu vivi até agora. Eu me sinto como aquela criança que ganhou um pacote de doces. O primeiro comeu com prazer, mas quando percebeu que havia poucos, começou ba saboreá-los profundamente. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis em que são discutidos estatutos, regras, procedimentos e regulamentos internos, sabendo que… nada será alcançado!
Não tenho mais tempo para apoiar pessoas absurdas que, apesar da idade cronológica, não cresceram. Meu tempo é muito curto, para discutir títulos. Eu quero a essência, minha alma está com pressa… sem muitos doces no pacote! Quero viver ao lado de pessoas humanas, muito humanas. Que sabem rir dos seus erros. Que não ficam inchadas com os seus triunfos. Que não se consideram eleitos, antes do tempo. Que não ficam longe de suas responsabilidades. Que defendem a dignidade humana. E querem andar do lado da verdade e da honestidade.
O essencial é o que faz a vida valer a pena. Quero cercar-me de pessoas que sabem tocar o coração das pessoas. Pessoas a quem os golpes da vida ensinaram a crescer, com toques suaves na alma. Sim… estou com pressa, para viver com a intensidade que só a maturidade pode dar. Eu não pretendo desperdiçar nenhum dos doces que eu tenha ou ganhe. Tenho a certeza de que eles serão mais requintados dos que comi até agora.
Meu objetivo é chegar ao fim satisfeito e em paz com os meus entes queridos e com a minha consciência. Nós temos duas vidas e a segunda começa, quando você percebe que você só tem uma!».
Mais palavras… para quê?
Manuel Sérgio é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto