«Entrada de investidores só com salvaguardas para o clube»

Atlético «Entrada de investidores só com salvaguardas para o clube»

NACIONAL29.06.202320:40

Prestes a completar 45 anos, o jovem presidente do Atlético, Ricardo Delgado, é o principal responsável pela recuperação do histórico emblema, que se prepara para disputar a Liga 3 na próxima época. Um dirigente com ideias, que não teme o futuro, mas no seu discurso fica bem presente que continua com os pés bem assentes no chão.
 

- Chegou ao clube em Maio de 2018, com a equipa na 2.ª Divisão Distrital, e na próxima época o Atlético volta às ligas profissionais (Liga 3). Podemos falar em milagre?
- Sim! Utilizámos muito esse adjetivo desde o domingo da final. Foi um milagre que conseguimos. No caminho que fizemos nos distritais não falo em milagre, porque aí o Atlético conseguia ter orçamentos muito superiores a muitas das equipas, mas depois, no Campeonato de Portugal, o nosso orçamento não era dos mais altos. Não seria também dos mais baixos, mas termos sido campeões de Portugal no Jamor é, claramente, um milagre que este grupo de homens conseguiu fazer.  

- Quais foram os principais desafios nestes anos?
- Quando chegámos, há seis anos, tínhamos o problema financeiro e o desportivo. Havia uma SAD que bloqueava o projeto desportivo do clube, que estava parado no tempo em termos financeiros e de gestão. Tínhamos um bingo com 27 trabalhadores em situação financeira muito complicada, as auditorias externas diziam que dava prejuízo há dois anos consecutivos. Quando chegámos o clube estava muito perto de fechar. Esse foi o desafio mais complicado, dar um novo rumo ao clube quer desportivamente, quer também em termos financeiros. E foi criar condições para que o clube conseguisse sobreviver.  

- Na final com o Vianense estavam cerca de 3500 adeptos a apoiar o Atlético. Como é que vai capitalizar este apoio?
- Nos dias a seguir disse que, mais do que termos ganho a taça ou subido de divisão, foi termos ali aquela moldura humana. Digo que, ali, o Atlético ganhou o futuro. A primeira medida foi criar uma campanha de angariação de novos sócios, com 50 por cento de desconto nas quotas. Aquela mobilização foi importante para o Atlético.

- O Atlético está pronto para fazer face às despesas que uma Liga 3 encerra?
- Prontos não estamos, mas estamos a criar as condições. Se esta entrevista fosse há um ano, diria que o plantel ia ser constituído a pensar na manutenção no Campeonato de Portugal. Mas as coisas correram bem, a oportunidade surgiu, e nós não dissemos que não a uma possível subida. Mas isto aconteceu mais rápido do que nós estávamos à espera. Começámos a trabalhar na próxima época logo no dia a seguir à final. Estamos a tentar angariar mais patrocinadores, a tentar perceber o que é que existe sobre a possibilidade de investidores virem aportar algum conhecimento e ajuda.

- Pondera a entrada de algum investidor no clube? Não fica de alguma forma desconfiado depois do que se passou há uns anos com investidores chineses?
- Desconfiado não estou. O Atlético vai ter de arranjar alguma solução, quer seja por investidores ou patrocinadores. Mas, ao entrar um investidor, passará sempre por cláusulas de salvaguarda para o clube. O que aconteceu no passado foi que o clube não teve o cuidado de criar essas salvaguardas se alguma coisa corresse mal. Não sou contra investidores, acho é que não pode ser a qualquer custo e o clube tem de estar salvaguardado.
 

«Ideia é manter a espinha dorsal»

- Confirma que vai nascer nos terrenos anexos ao estádio um condomínio de luxo?
- Sim, está previsto há uns anos a esta parte o nascimento de um condomínio ali na Pedreira da Tapada. Pelo que sabemos, o processo está um bocado parado, mas acredito que a construção ali de um condomínio poderia criar uma envolvência diferente à Tapadinha, poderia trazer também outro tipo de adeptos. Acho que isso é também o futuro do Atlético, que tem de ser cada vez mais um clube inclusivo, não estar apenas fechado a Alcântara. Digo isto em muitas reuniões, o futuro do Atlético é fazer algo diferenciador no panorama desportivo nacional. Se o Atlético tentar ser só mais um clube, com as mesmas condições e receitas... o sucesso não é por aí. Penso que o Atlético, neste momento, tem nas suas mãos a capacidade de criar aqui algo diferenciador, com a criação de dinâmicas diferentes à volta dos próprios jogos ou da Tapadinha. O futuro pode ser por aí.

- O diretor desportivo, Cândido Dias (Dani), e o treinador, Tiago Zorro, renovaram, assim como alguns jogadores. Já anunciaram uma contratação. Qual é a ideia?
- Esta Direção aposta muito na estabilidade e continuidade e acreditamos que com essa base, associada ao trabalho, compromisso e empenho, estaremos sempre muito mais perto do sucesso. A nossa ideia é manter a espinha dorsal do grupo do ano passado, que serão sete ou oito jogadores do plantel da época passada, depois vamos ter de criar condições para aportar mais qualidade à Liga 3, que tem outra exigência.  

- Qual é o orçamento para a próxima época?
- Temos um orçamento já fechado, que, não falando em números, é muito superior ao do Campeonato de Portugal. O nosso ponto zero foi criar esse orçamento, pois somos muito rigorosos no que a isso diz respeito, porque as dificuldades mensais de tesouraria são uma realidade. Mas acredito que vamos conseguir criar condições para termos uma boa equipa, fazermos um bom campeonato e, como aconteceu o ano passado, se a oportunidade nos for dada, não iremos recusar.

- Vai fazer algum melhoramento no estádio?
- Há melhoramentos obrigatórios a fazer para que o estádio seja homologado para a Liga 3: os bancos de têm de ter mais lugares para suplentes, a cabina dos adversários tem de ser melhorada, a bancada norte também precisa de melhorias. Temos de criar condições para a imprensa, há a transmissão dos jogos e temos de criar plataformas para isso, e criar uma sala para as conferências de imprensa.  
Modalidades em análise

- O futsal sénior masculino, cuja equipa também estava na Liga 3, vai acabar? Confirma?
- Sobre o futsal masculino sénior ainda não está decidido o que vai acontecer. O que nós defendemos é que o clube não pode, nem tem, condições financeiras e humanas para ter muitas equipas nos campeonatos nacionais. Até costumo dizer que ou somos medíocres em muitas modalidades, ou conseguimos ser bons em menos modalidades. Esta é a decisão que sócios e Direção têm de tomar, se queremos ser bons em poucas modalidades ou medíocres em muitas.

- Qual o projeto para as modalidades? Há ainda o basquetebol, futsal feminino…
- O futsal feminino é mais um desafio, subiu à 1.ª Divisão nacional. É a única equipa que está na 1.ª Divisão e o clube tem de dar algum apoio, apesar da secção fazer um trabalho incrível ao nível de patrocínios ou donativos, e de criar condições para que a modalidade seja quase auto suficiente. Mas é nosso dever, também, o clube dar condições a uma equipa que está na 1.ª Divisão nacional a defender o emblema e o nome do Atlético. Depois há o futsal masculino e o basquetebol. Penso que a formação será sempre de manter, esse é o futuro, mas em relação às equipas seniores estamos ainda a discutir e a perceber qual será o melhor caminho, porque a verdade é que o clube não tem recursos financeiros ou humanos para ter tantas equipas em campeonatos nacionais. Isto é até uma decisão de fundo do próprio clube. Somos poucos, a estrutura é pequena, e acabamos por não conseguir chegar a todo o lado. É algo que nos preocupa, mas estamos a pensar no futuro também.