João Alves recorda como a clubite marcou a sua era: «Vim para o Benfica e acabou-se a paz»

Seleção João Alves recorda como a clubite marcou a sua era: «Vim para o Benfica e acabou-se a paz»

SELEÇÃO19.06.202310:50

João Alves, antigo médio do Benfica e da Seleção Nacional, aprecia a rivalidade quando esta é saudável, mas vê com maus olhos a crescente onda de assobios a jogadores quando vestem a camisola de Portugal.

Internacional em 31 ocasiões e hoje com 70 anos, em conversa com A BOLA, o antigo craque recorda como a clubite doentia impediu que «uma das melhores gerações portuguesas, com alguns dos melhores futebolistas do Mundo» estivesse mais vezes em fases finais.


«Depois de muito penarmos, lá se conseguiu a brilhante presença no Euro-84. Porque nos 12/14 anos anteriores, tínhamos dos melhores do Mundo e por causa das guerras entre clubes, da contestação a jogadores que fossem dos rivais, nunca conseguimos chegar a lado nenhum. É verdade que só se apuravam oito seleções para os Europeus, mas a rivalidade exacerbada em nada contribuiu. E éramos muitos mais a jogar em Portugal do que hoje», disse, criticando depois os assobios a Otávio como algo que «já não deveria acontecer e que arrisca trazer coisas más».


A fechar, João Alves recorda um episódio que aconteceu com ele, em 1978, também numa qualificação para um Europeu (o de 1980): «Eu comecei a ir à Seleção Nacional com 21 anos, jogava então no Boavista. E era bem tratado e apoiado em todo o lado, fosse na Luz, em Alvalade, nas Antas [antigo estádio do FC Porto]. Depois fui para Espanha, para o Salamanca, e era bem tratado e acarinhado em todo o lado. Até que vim para o Benfica e acabou-se a paz. Bastava o jogo não ser na Luz para haver quem insultasse ou assobiasse. Lembrarei sempre o episódio num Portugal-Bélgica em Alvalade [1-1, a 11 de outubro de 1978]. Eu joguei de início. Mas, a certa altura, a contestação e os assobios eram tais sempre que eu tocava na bola que o mister Mário Wilson teve de substituir-me. É claro que, quando estamos em representação de Portugal e somos assobiados por portugueses, isso afeta um jogador. E afeta os companheiros.»