Rio Ave-FC Porto: a crónica

Liga Rio Ave-FC Porto: a crónica

NACIONAL29.08.202300:55

Despertador do golo voltou a tocar a tempo
 

Jogo agreste, como a nortada que fustigou o estádio dos Arcos. Faltou ao Rio Ave, quando em vantagem, capacidade para manter dragões sob ameaça. Árbitro foi ‘amigo’ de Eustaquio


Os italianos têm uma expressão curiosa para jogos como o desta segunda-feira entre Rio Ave e FC Porto: una brutta partita, ou seja, um jogo feio, repleto de faltas e incidentes, com muitos passes falhados e, para piorar o cenário, mal arbitrado. O FC Porto acabou por vencer em Vila do Conde da mesma forma que fizera nas jornadas anteriores, quando se esperava um KO puro e duro e acabou por ganhar aos pontos. Vitória injusta, então, dos dragões? Não se pode dizer isso, embora o empate não desmerecesse da verdade dos 90 minutos. O FC Porto teve mais argumentos no banco que o adversário e soube utilizá-los bem. Já o Rio Ave, que este ano está proibido pela FIFA de inscrever novos jogadores, pode queixar-se de algumas lesões, que acabaram por levar a mexidas indesejadas, num onze que chegou à fase final no encontro muito desgastado, e incapaz de suster a derradeira vaga dos portistas. Para quem diz que a história não se repete, o golo de Marcano revela um padrão nesta equipa de Sérgio Conceição, que nunca se rende e à falta de outros argumentos, vai à procura do seu Seba Coates para resolver os problemas atacantes.


E a verdade é que o FC Porto, onde Mehdi Taremi está uma sombra do que vale, só 73 minutos conseguiu fazer, por Galeno, o seu primeiro remate enquadrado. Até esse momento, apenas uma perdida incrível de Pepê (21), já depois de João Graça ter estado perto do golo, fez tremer a organização vilacondense. Pouco, muito pouco...


Num jogo com uma grande penalidade para cada lado, o maior erro do árbitro e do VAR esteve na vista grossa que foi feita a uma entrada de Eustaquio sobre Boateng,  aos oito minutos, que só podia ter como desfecho um cartão vermelho direto ao internacional canadiano, e nem cartão amarelo mereceu. Estava-se no início do encontro e uma desvantagem numérica seria por certo significativa para o desenrolar da partida...  


FC Porto busca método
 

A procissão ainda está a sair do adro e já se percebe que Sérgio Conceição tem alguns problemas sérios para dar a volta. Os laterais não deram à equipa o que era preciso, Pepê pareceu a maior parte do tempo perdido no campo, como que, após tanta polivalência, já não soubesse que terrenos devia pisar, o duplo pivot, marcado por uma excesso de entradas perigosas de Eustaquio e um Nico González sem continuidade, que vai valendo por alguns detalhes de boa escola. Na frente, Taremi andou, embora empenhado, triste e abúlico, valendo, para espevitar as hostes, Galeno, o mais constante dos portistas.


Perante um opositor abaixo do que pode e sabe, o Rio Ave, que enquanto teve força esteve bem na pressão alta que dificultou a saída de bola dos dragões, foi pouco efetivo na circulação da bola, errando demasiados passes, aliás à imagem dos portistas. Seria do vento e do terreno duro que dificultava a vida aos jogadores? Talvez, mas para galeno e Costinha, o melhor em campo, a bola esteve sempre mais redonda do que para os outros elementos em campo...


Futebol direto

Em desvantagem a partir dos 52 minutos, o FC Porto demorou dez minutos a refrescar a equipa (Toni Martinez por Namaso e Zaidu por Wendell), sem mexer um milímetro no desenho tático, respondendo Luís Freire com Vítor Gomes e Leonardo Ruiz. Porém, com os três centrais amarelados (Aderlan, 16; Josué, 55; Pantalón, 62), a equipa começou a recuar, para evitar espaços nas costas em lances de um contra um, ao mesmo tempo que os dragões optavam cada vez mais por um futebol direto, muitas vezes saído dos pés de ouro de Diogo Costa. Faltavam 23 minutos para o jogo acabar (13+10), quando Sérgio Conceição meteu a carne toda no assador e de uma só vez lançou Fran Navarro, André Franco e Gonçalo Borges. Este último foi um diabo à solta e acabou por debilitar ainda mais um Rio Ave que suspirava pelo final da partida. Mas o despertador do FC Porto ia voltar a tocar tarde mas ainda a horas de ser dada a a volta ao jogo, primeiro numa grande penalidade em que as imagens disponibilizadas pela TV  (o VAR teria outras...) não permitiram qualquer conclusão e a seguir, aos 90+4, pelo suspeito do costume, Marcano, que se integrou numa movimentação atacante como se fosse um ponta-de-lança e à boca da baliza não  desperdiçou uma assistência açucarada de André Franco. O FC Porto, que chegou a ver a vida a andar para trás,  acabou por sair de Vila do Conde com os três pontos, mas também com a certeza de que tem muito que melhorar se quiser chegar ao título nacional e fazer uma boa campanha europeia.


O árbitro - Fábio Veríssimo (nota 3)
Há coisas difíceis de explicar na arbitragem e a forma como Eustaquio - que no terceiro minuto devia ter sido pelo menos amarelado depois de inadvertidamente pontapear Guga - não foi expulso aos 8 minutos por entrada de sola e à canela sobre Boateng, é uma delas. Um trabalho fraco, que na dúvida caiu sempre para o lado do mais forte.
 

Melhor em campo A BOLA - Costinha (Rio Ave)