Gil Vicente-Benfica: a crónica

Liga Gil Vicente-Benfica: a crónica

NACIONAL27.08.202301:06

Ideia e modelo iguais, dinâmica é que não...
 

Benfica mostrou várias faces ao longo da partida e ainda busca a identidade para 2023/24. Quando o Gil arriscou mais, encarnados não aproveitaram os espaços. Vitória justa, mas...
 

A segunda metade do Gil Vicente-Benfica podia perfeitamente ter feito parte de um jogo do campeonato dos Países Baixos, conhecido pelos espaços que as equipas têm para desenvolver os contra-ataques, muitas vezes em igualdade ou até em superioridade numérica. Quer isto dizer que os encarnados, vencedores justos de um duelo em que não deviam ter vivido qualquer espécie de angústia, chegaram a perder o controlo da partida, sujeitando-se a um tu-cá-tu-á com os gilistas, que em tese até devia ser-lhes favorável, mas não foi. Quando, na metade complementar, a equipa da casa decidiu fazer pressão alta e expor-se ao contra-pé, faltou, por estranho que pareça, ao Benfica, qualidade nas ações de finalização onde normalmente é letal. Foi por isso que quando viu o Gil Vicente reduzir para 1-2 aos 74 minutos, não deixou de pensar no Bessa e nos perigos de entregar-se aos ditames de um destino, que podia ter-lhe provocado um amargo de boca aos 90+1: Depu, em boa posição, podia ter empatado. Para ser refletido no Seixal, com o consolo dos três pontos no bornal, o porquê de ter perdido o controlo das operações, sem capacidade para circular a bola e explorar os riscos que o adversário estava a correr. Esta foi a pior parte de um Benfica que teve grandes momentos, especialmente por Di María, que ao libertar-se da exclusividade que estava a dar à ala direita, se tornou muito mais influente e desequilibrador. Não se pense, pois, que o Benfica ganhou com sorte, longe disso: mas devia ter fechado o jogo mais cedo, sem nunca abdicar de mandar no ritmo. E isso não foi capaz de fazer de forma competente. A ideia que fica é que Roger Schmidt, que há um ano parecia raramente se enganar e nunca ter dúvidas, na presente temporada ainda busca a melhor fórmula para encaixar Kokçu na equipa e viver sem as soluções que Alex Grimaldo lhe proporcionava. A estas duas situações (sem esquecer o trabalho e entrosamento de Gonçalo Ramos) acresce uma terceira, quiçá questão de tempo, que tem a ver com Arthur Cabral, manifestamente um peixe fora de água nesta equipa do Benfica. Será uma questão de tempo, porque vê-se que sabe jogar. Mas que nesta altura tem sido mais um problema que uma solução, tem...


Schmidt a ser Schmidt
 

Para defrontar um Gil Vicente que nunca adoptou uma atitude apenas defensiva, procurando com os meios de que dispunha sair a jogar, Roger Schmidt teve a preocupação de compensar as movimentações de Kokçu com um jogador mais posicional, Florentino, e apesar de ter voltado a optar por um flanco esquerdo coxo - raramente chegam à linha e quando chegam finalizam mal -  com Aursnes e João Mário, beneficiou de uma maior mobilidade de Ángel Di María, que deambulou pelo campo à procura de desequilíbrios. A dúvida que continua a permanecer tem a ver com Neres, que sem a capacidade tática de João Mário dá ao Benfica uma largura e profundidade maiores. Mas mesmo assim, por várias vezes o Benfica ficou a dever-se o 0-2, que retiraria ânimo aos donos da casa e podia tornar uma noite de algum sofrimento numa jornada tranquila.


Com a segunda parte veio um Gil Vicente diferente, a defender logo na saída de bola do Benfica, e  a desejar que o jogo se partisse. E foi isso que aconteceu, com a primeira vantagem a pertencer ao Benfica, que fez o 0-2 por Rafa (55), circunstância que não acalmou a partida. E não só não a acalmou como o treinador do Benfica pareceu ter gostado da ideia, trocando João Mário por Neres e Arthur Cabral por Tengstedt (63). Bola cá, bola lá, o jogo ficou verdadeiramente neerlandês, bom para o espetáculo mas perigoso para quem tinha uma vantagem a defender. Vítor Campelos (65) mexeu muito bem na equipa, revitalizou-a com um duplo pivot dinâmico com a passagem de Domiguez para o meio, ao lado de Tiba e foi à procura de ser feliz. Schmidt percebeu a ameaça e decidiu, com 0-2, trocar a dupla de meio-campo, Kokçu/Florentino por Neves/Chiquinho. Porém, imediatamente antes dessas substituições o Gil reduziu, por Touré. O técnico alemão não recuou, e a verdade é que o Benfica passou a controlar melhor as operações, não se livrando do já referido susto, protagonizado por Depu aos 90+2. A seguir, tal como sucedera há uma semana na Luz com Tengstedt, Musa, na primeira vez que tocou na bola fez o 1-3, que seria suficiente para garantir os três pontos, não obstante novo golo do Gil Vicente  aos 90+6. O Benfica saía de Barcelos com uma vitória justa e várias dúvidas por resolver. Apenas uma certeza: no que respeita às dinâmicas da equipa, embora o sistema e a ideia de jogo sejam os mesmos, qualquer comparação é pura coincidência...

O árbitro - JOÃO PINHEIRO (nota 5)

Muito tenso no contacto com os jogadores, foi demasiado brando com a rispidez inicial dos donos da casa. No mais, realizou um trabalho competente, mostrando estar ainda à procura da melhor forma.

Melhor em campo A BOLA - Rafa (Benfica)