Entrevista A BOLA a Diogo Leite, parte I: «A passagem pelo FC Porto é positiva, mas fiz a escolha mais acertada»

Alemanha Entrevista A BOLA a Diogo Leite, parte I: «A passagem pelo FC Porto é positiva, mas fiz a escolha mais acertada»

INTERNACIONAL22.08.202310:15

Diogo Leite está a iniciar uma nova etapa na carreira, mesmo conhecendo já o palco onde irá desfilar: assinou em definitivo pelo Union Berlim, deixando para trás ligação de década e meia ao FC Porto, onde entrou uma criança e saiu um homem

- À semelhança do que aconteceu com outros jovens jogadores portugueses que abraçaram carreiras internacionais, deixou Portugal muito cedo, antes mesmo de poder dar-se verdadeiramente a conhecer. Vamos, pois, começar esta viagem pela sua carreira precisamente pelo Leixões, quando o Diogo era apenas uma criança.

- Vivia em Matosinhos, muito perto do estádio, e comecei no Leixões aos 5 ou 6 anos. Como qualquer criança quando começa a jogar futebol, comecei por jogar na frente, todos querem marcar golos. Era extremo-esquerdo, cheguei a ser melhor marcador da equipa, mas aos 8 anos fui para o FC Porto. Um olheiro do FC Porto a ver um torneio falou com os meus pais: ‘Queremos que o Diogo vá fazer as captações’. Fiz as captações, uns 100 jogadores, apenas uma minoria seria escolhida. Uns tempos depois houve uma reunião em minha casa com o tal olheiro, que me disse que tinha sido escolhido. Foi uma alegria muito grande. Era o meu clube do coração, o meu pai era sportinguista, mas depois de eu ir para o FC Porto…

- Foi avançando com naturalidade pelas várias etapas de formação do FC Porto, passando por Dragon Force, Padroense e equipa B.
- Exatamente, Dragon Force permitia jogarmos em campeonato mais competitivo, com jogadores mais velhos do escalão de formação, defrontando os sub-15 do FC Porto, e ajudava-nos a crescer; depois o Padroense, que é basicamente a mesma coisa, dado que jogávamos contra os sub-17 do FC Porto. Não terminei a época no Padroense, os sub-17 do FC Porto chamaram-me e então acabei por jogar inclusivamente contra o Padroense.

- Imagino que o escalão de sub-17 seja uma etapa inesquecível para o Diogo, pois foi campeão europeu de seleções.
- Foi muito, muito especial, pela idade e por ser um Europeu. É marca muito importante para qualquer jogador que esteve lá.

- Fale-nos dessa equipa.
- Os Diogos. Diogo Costa, Diogo Dalot, Diogo Queirós e eu, naturalmente. Depois tinha jogadores como Jota, Florentino Luís, Domingos Quina, Gedson, José Gomes, éramos seleção com muita qualidade e muito combativa. Tínhamos uma boa geração. E que acabou por ganhar o Europeu de sub-19. Não fui, pois fiz a pré-temporada no FC Porto e disputei o primeiro troféu pelo FC Porto, a Supertaça. Mas foi uma geração fantástica, vencemos a Espanha na final de sub-17, nos penáltis tive a oportunidade de converter um deles e foi um grande alívio.

- Não é um penálti qualquer. É muita responsabilidade para um adolescente?
- É um momento decisivo. Mas, no final, quando se ganha nos penáltis até parece que sabe melhor. Lembro-me de estar muito nervoso antes de ir bater o penálti, estávamos todos abraçados, era aquele momento de pensar nas coisas, mas quando ia a caminho da área já estava focado: ‘Ok, vou marcar, vou escolher um lado’. Foi um momento histórico para Portugal e é sempre especial para mim.

- A ascensão até à equipa principal do FC Porto acontece de forma muito rápida, mas segura, concorda com essa análise?
- Sim, foi tudo uma questão de evolução, passei pela equipa B, com uma grande temporada, andando sempre pelos lugares cimeiros, foi uma grande época a nível coletivo e individual, depois acabei por ser chamado por Sérgio Conceição para a equipa principal, foi um processo natural. Nesse mesmo ano tive oportunidade de fazer o meu primeiro jogo pelo FC Porto e também de conquistar o meu primeiro troféu pelo FC Porto, a Supertaça contra o Aves, mais um momento inesquecível, por ser precisamente o primeiro jogo pelo FC Porto. Estreia com a conquista de um troféu foi muito especial para mim, assim como ter a confiança do clube.

- Considera que mostrou no FC Porto tudo aquilo que vale ou entende que há algo por mostrar?
- É um processo natural de crescimento, com a idade vai-se aprendendo e vai-se evoluindo cada vez mais. Na questão de dar o máximo, sempre o fiz em qualquer momento e sinto que a minha passagem pelo FC Porto foi positiva. Foi o meu primeiro ano, era muito jovem, mas julgo que tive aprendizagem e evolução muito grandes, também pela ajuda que tive em todo o meu percurso. Os companheiros de equipa ajudaram a que me adaptasse mais facilmente e isso também me permitiu fazer o primeiro jogo, um jogo importante, decisivo. O FC Porto ajudou-me a crescer como jogador e como pessoa, deu-me essa mística e garra que só o FC Porto tem, que quem lá está sente muito bem.

- Gostaria de ter tido a oportunidade de ficar mais algum tempo no FC Porto?
- Costumo dizer que gosto de viver o meu presente e o que posso dizer é que a escolha que fiz é a mais acertada pelo carinho que recebi e pela confiança que demonstraram em mim. E sei que estou bastante contente e quero viver o momento e transportar essa confiança que depositaram em mim para dentro de campo e ajudar o clube a atingir os objetivos. Para recompensar a confiança que me deram.  


- Como é a sua relação com o treinador do FC Porto, Sérgio Conceição?
- Sempre tive uma boa relação com o mister, também me ajudou bastante a crescer como jogador e como pessoa, pela forma exigente como trabalha diariamente. Ajudou-me igualmente na forma de ver o dia a dia, como qualquer detalhe ajuda a estarmos a 100 por cento dentro de campo. Sem dúvida que o mister me ajudou muito em diversos aspetos dentro e fora de campo, sempre tive uma boa relação com ele.

- Uma pergunta sobre Diogo Costa: tem melhores pés do que alguns jogadores de campo?...
- [risos]  Joguei com ele quase todos os anos desde a formação, por isso conheço-o bem e desde então que sabia que ele tinha uma qualidade diferente de um guarda-redes normal. O Diogo é muito completo e em termos de qualidade de jogo de pés é fantástico e dá mais-valia para o FC Porto sair a jogar com bola. Já nem sequer estou a falar da questão puramente defensiva de um guarda-redes. Entre os postes também é excelente. Mas sem dúvida que desde a formação que tinha uma qualidade acima da média a jogar com os pés.

- Há muito que é esperada a saída dele, até onde é que Diogo Costa poderá ir?
- Não sei, sei que tem capacidade muito grande e ele sabe. É meu amigo e sabe que desejo sempre o melhor para ele e também já lhe disse que a qualidade dele é muito acima da média, que tem capacidade para jogar em qualquer lugar. E o que desejo sempre é que seja feliz e que continue a mostrar o seu valor, que é muito e que eu já reconheço há muito tempo.

- Passou a temporada 2021/2022 emprestado ao SC Braga, algo que acabou por ser muito importante para a sua carreira, pois foi o último ano de futebol português antes de dar o salto para o futebol internacional.
- Sim, o SC Braga deu-me a oportunidade de continuar a jogar regularmente no Campeonato. Penso que fiz uma temporada regular, com bastantes jogos realizados [23 na Liga, total de 34 em todas as competições], depois nasceu então daí a oportunidade de encontrar opções para o futuro, no caso o Union Berlim. Foi um ano que me deu a oportunidade de continuar a evoluir, de mostrar o meu valor, de adquirir mais competitividade em função dos jogos que fui fazendo.

- No SC Braga formou dupla de centrais com David Carmo, atual defesa do FC Porto. Que opinião tem sobre ele?
- É um grande jogador e uma grande pessoa, fiz dupla com ele e senti-me bem ao lado dele. Temos uma boa ligação e posso dizer que é grande jogador.

- Apesar de ter sido uma contratação cara do FC Porto, não tem sido regularmente utilizado. Sente que David Carmo acabará por afirmar-se no FC Porto?
- Sim, acho que sim, acho que o primeiro ano é sempre mais de aprendizagem, de aprender a ser FC Porto, de sentir a mística, mas acredito que sim, que irá afirmar-se.