FC Porto-Farense: a crónica

Liga FC Porto-Farense: a crónica

NACIONAL21.08.202300:09

Salto divino e divinal da agonia para a festa

Toni Martínez marcou cedo, mas Farense perdeu a timidez e empatou antes do descanso. Foi outro espanhol, Marcano, a salvar a pele dos dragões, aos 90+10! Triunfo azul muito sofrido
 

O defesa mais goleador da história do FC Porto salvou a pele ao dragão quase no último suspiro do jogo, num cabeceamento tão divino como divinal. Escrevemos quase porque mesmo no último momento de um duelo eletrizante, já depois do golo de Marcano, o Farense quase empatou e aí emergiu a classe de Diogo Costa. São pouquíssimos minutos que resumem muito o que foi a história do primeiro jogo do FC Porto para a Liga, em casa, frente a um Farense que começou tímido e depois atreveu-se a sonhar.


Mais FC Porto, como era obrigação de um candidato ao título, muito mais Farense do que se esperava, depois de derrota 0-3 no seu domicílio frente ao Casa Pia. Talvez por isso, os azuis e brancos tenham sofrido tanto e celebrado de forma efusiva o triunfo: o Farense teve o mérito, tremendo, de surpreender e levar o FC Porto ao limite, de forçar Conceição, hoje no camarote, a queimar todas as soluções de ataque, até desencantar o homem (no caso um rapaz de 22 anos) que definiu o rumo da vitória. Sim, Marcano marcou o 2-1, mas o centro de Gonçalo Borges foi meio golo, meia festa, e uma absoluta obra de arte.

Pepê (não) fez de Otávio


Sem Otávio, que partiu hoje com destino à Arábia Saudita para fazer exames médicos e assinar pelo Al Nassr, Conceição introduziu uma novidade no onze, sacrificando Grujic para promover Nico González a titular. O treinador portista, que por vezes fura a lógica com alterações desconcertantes, procurando deste modo surpreender os adversários, desta vez, foi ao encontro das opiniões de uma maioria qualificada de adeptos e da crítica que, em Moreira de Cónegos, considerou o recuo de Eustaquio para a posição 6 e o lançamento de Nico como segundo pivot, fundamental para o FC Porto subir de produção e sair da jornada inaugural da Liga com uma vitória difícil e os três pontos.


Claro que não há uma relação direta entre Otávio e Nico, neste domínio Conceição não tinha margem para criar cenário de incerteza, foi mesmo Pepê a ocupar o espaço do baixinho, por ter características mais próximas de Otávio - intensidade, talento, capacidade de rasgar horizontes e explorar zonas interiores. Ter essa responsabilidade no jogo 100 pelo FC Porto foi uma feliz coincidência para o brasileiro, mas Pepê, numa tarde pouco inspirada, não fez esquecer o baixinho.
Ainda assim, ao expor um meio-campo com mais fantasia e dinâmica, o FC Porto tornou-se também um conjunto mais efetivo no ataque, desta feita com Toni Martínez a titular ao lado do (uma vez mais) apagadíssimo Taremi, no regresso do desenho mais utilizado na época passada, com dois avançados em linha, e com isso na primeira abordagem à partida o Farense sofreu. Até foram os laterais, João Mário e Zaidu, a descobrir os primeiros atalhos para a área do Farense, o que se compreende pela liberdade que os dois defesas gozaram em razão da forma competente como os médios compensam essas subidas, mas também pelo encolhimento dos algarvios, na resposta à pressão dos dragões.


O golo de Toni Martínez, aos 13’, parecia ser um convite para uma tarde serena da equipa de Sérgio Conceição, mas o que aconteceu é que progressivamente o Farense, muito competente na defesa do seu meio-campo, libertou-se de complexos. Correu o risco de sofrer o segundo golo (Marcano e Toni Martínez foram ‘travados’ pelos instintos de Ricardo Velho), mas ao fazê-lo assumiu o compromisso de discutir o resultado. O FC Porto é que não deu por isso. Por duas vezes o Farense avançou em contra-ataque em superioridade numérica sobre o FC Porto, mas o primeiro grande alerta foi dado pouco antes do intervalo, num espetacular pontapé de bicicleta do central maltês Muscat, com a bola a ser devolvida pelos ferros da baliza de Diogo Costa. Da ameaça ao golo foi um saltinho, um erro de Marcano originou ataque rápido os homens de Faro, com Rui Costa a trabalhar bem a bola, a iludir o central espanhol e a rematar com intenção de provocar estragos - e assim aconteceu, a bola ainda raspou em Fábio Cardoso e a trajetória tornou impossível qualquer reação do guardião portista.


O empate servia ao Farense, não servia, naturalmente, ao FC Porto, que nos últimos 20 minutos carregou a fundo no acelerador. A entrada de muitas unidades de ataque (Franco, Namaso, Fran Navarro, Borges) trouxe mais pressão sobre a área do Farense e uma erosão de tal maneira implacável que mesmo com Ricardo Velho em grande estilo entre os postes os algarvios não resistiram. Quebraram no final do tempo de compensação, mas podiam perfeitamente ter saído felizes com um ponto.
 

O árbitro - CLÁUDIO PEREIRA (nota 6)

Trabalho competente do juiz de Aveiro, que impôs a sua autoridade de forma serena, mas... por vezes é preciso ser mais firme. Ficaram algumas reticências na avaliação de uma falta de Pepê sobre Marco Matias: o amarelo ao portista pareceu exagerado.

Mehor em campo A BOLA - Gonçalo Borges (FC Porto)