Ocaso
Álvaro Pacheco e o presidente do Vitória, António Miguel Cardoso, no momento da apresentação (Vitória SC)

Ocaso

OPINIÃO21.05.202409:00

O corte abrupto de relações entre o Vitória e o seu treinador Álvaro Pacheco. Tal como nos divórcios, pode acabar a meio, mas é suposto que termine com dignidade.

Sentido de pertença

1- Em Portugal a taxa de divórcios dos últimos anos ronda os 60%. A muitos amigos que tenho que se divorciam digo sempre que não compreendo a razão pela qual, após o divórcio, se transformam nos maiores inimigos (devo notar que tenho alguns amigos cujos divórcios são mais exemplares que muitos casamentos). O divórcio entre as pessoas normalmente é por razões sentimentais, às vezes por motivos racionais, mas a forma como as pessoas se divorciam diz muito delas e deve procurar honrar o tempo que passaram juntos. O ódio que tantas vezes soçobra do corte de relações acaba por tornar quase hipócrita o relacionamento que se termina. E isso não devia ser assim.

2- Obviamente que vem isto a propósito do corte abrupto de relações entre o Vitória e o seu treinador Álvaro Pacheco. Sendo que o se me oferece dizer é parafrasear o saudoso personagem de Herman José Diácono Remédios…

Vejamos isto com racionalidade: o Vitória já teve muitos treinadores e jogadores que nos marcaram na sua passagem pelo clube, mas praticamente todos saíram para outras paragens (a única exceção de que me lembro em décadas foi o grande N’Dinga). E o nosso clube prosseguiu. Sempre assim sucedeu e continuará a suceder. O mesmo poderá suceder com Jota Silva, que soube criar uma ligação única aos vitorianos mas poderemos ter de prosseguir sem a sua presença na próxima época.

Dito isto, também não pode deixar de ser dito que grande parte do sucesso desta época se deve a Álvaro Pacheco, que conseguiu imprimir uma dinâmica, um querer e um jogo de pressão alta na equipa que fez a diferença para termos saído da segunda metade da tabela onde nos encontrávamos para assegurar a qualificação europeia a quatro jornadas do fim da época. Esse crédito tem obviamente que lhe ser concedido e reconhecido.

3- Mas, que diabo, estar a servir esta centenária instituição e faltar a um convívio marcado pelos atletas alegando motivos pessoais e, afinal, ir ao Solar dos Presuntos negociar com outro clube deixando-se fotografar com o Pedro que, para piorar, publicou a foto com aquela frase assassina, é que não havia mesmo necessidade… Correu mal, acontece, mas havia formas de resolver. O Rúben Amorim teve episódio equivalente, reconheceu, pediu desculpa, acabou-se o assunto. A humildade normalmente ajuda. Não houve essa humildade e, a partir daqui, entrámos num braço de ferro que deslustra e desvaloriza o tanto de bom que se fez esta época. Então rescindir antes de terminar a época e falhar o último jogo é que não havia mesmo necessidade. As entradas e saídas de jogadores e treinadores fazem parte do quotidiano dos clubes de futebol, já todos estamos habituados a isso. Tal como nos divórcios, pode acabar a meio, mas é suposto que termine com dignidade.

4- A palavra principal, após o final da temporada com uma vitória categórica em Arouca, não pode deixar de ser para a fantástica época realizada. Como tive oportunidade de referir no meu texto de 29.04.2024, trata-se da «terceira qualificação europeia consecutiva e apenas a segunda vez na nossa História que nos conseguimos qualificar três vezes consecutivas para as competições europeias (a outra tinha sido nas saudosas épocas de 1986/87, 1987/88 e 1988/89, aquela que afirmou o ‘Vitória Europeu’)». Eu vou repetir: apenas a segunda vez na nossa História que nos conseguimos qualificar três vezes consecutivas para as competições europeias. Acho que isto diz muito da época realizada.

A aliar a este facto inelutável o Vitória atingiu 63 pontos, batendo o seu recorde de pontos! É algo que nos pode parecer estranho se nos recordarmos das grandiosas épocas em que atingimos o 3.º lugar, tendo agora ficado apenas em 5.º, mas é mesmo assim.

- Nas épocas 1995/96 (5.º lugar) e 2016/17 (4.º lugar) atingimos 62 pontos e em 1989/90 (4.º lugar), ano em que terminámos com 45 pontos, se atribuíssemos 3 pontos às vitórias atingiríamos os mesmos 62 pontos.

- Nas épocas em que atingimos o 3.º lugar:

- 1968/69: 36 pontos que correspondem a 49 (campeonato com 14 equipas)

- 1986/87: 41 pontos que correspondem a 55 (campeonato com 16 equipas)

- 1997/98: 59 pontos (campeonato com 18 equipas)

- 2007/08: 53 pontos (campeonato com 16 equipas).

5- Uma última palavra para a equipa de polo aquático do Vitória. Após termos sido tetracampeões nacionais, perdemos o campeonato frente ao Fluvial, a equipa que nos últimos anos vencemos para nos tornarmos campeões. Acontece, traz mais dinâmica à disputa do campeonato, mas nada retira ao trabalho absolutamente extraordinário que o Vitória está a fazer nesta modalidade. Criando um projeto de base para ser, como já é, a melhor equipa nacional nesta modalidade e poder ajudar o polo aquático português a atingir níveis de competitividade internacional superiores ao que apresentava até ao surgimento do Vitória. Continuem! Mantemos intacto o orgulho no vosso trajeto.