Benfica-E. Amadora: a crónica

Liga Benfica-E. Amadora: a crónica

NACIONAL20.08.202301:23

Neres salvou noite de invenções e remendos
 

Nervoso muidinho na Luz. Schmidt demorou 69 minutos a perceber que a esquerda com Aursnes e João Mário não funcionava. Estrela chegou a acreditar no ‘autocarro’ da Amadora
 

A ausência de Odysseas Vlachodimos da folha do jogo de ontem frente ao Estrela da Amadora, com todas as notícias que davam conta da rutura entre o guarda-redes grego e o treinador alemão, a que se juntou a titularidade de Samuel Soares (e não Trubin), que esteve sempre sereno, aliás, criou na Luz um ambiente de efervescência, vivido em comunhão por jogadores  e adeptos.


A estas circunstâncias anómalas, acresceu a estreia de Arthur Cabral, tecnicamente bom, sempre esforçado, mas muito diferente, no que pode aportar à equipa, de Gonçalo Ramos, e ainda uma das mais estranhas decisões que Roger Schmidt tomou desde que chegou ao Benfica: colocar na mesma ala Aursnes e João Mário, que tornaram absolutamente ineficaz  o lado esquerdo do Benfica. Ambos dextros, não só não chegavam à linha  e tinham de evitar o pé esquerdo para cruzar, como ainda, um e outro, insistiam no jogo interior, facilitando muito a vida à superpovoada defesa do Estrela da Amadora. Sem largura, e sistematicamente em inferioridade numérica no último terço do campo, a equipa encarnada foi durante muito tempo uma pálida caricatura do conjunto pressionante e sempre de olhos postos na baliza contrária que não só enamorou o exigente Terceiro Anel como chegou ao 39.º título nacional da história benfiquista.


Mas as agruras encarnadas na noite de ontem não ficaram por aqui. Sem Jurasek, lesionado, quando Roger Schmidt optou por lançar Aursnes como defesa esquerdo, passou um atestado de inutilidade a Ristic, que deve ter perdido quaisquer esperanças de singrar na Luz; da mesma forma, a situação de Vlachodimos ficou periclitante, quando ainda faltam 11 dias para o mercado fechar, sendo que nas arábias só encerra daqui a um mês...  


Um jogo emblemático
 

Quando nos perguntamos por que razão a Liga portuguesa está a ser posta de lado, televisivamente, em inúmeros países, este Benfica-Estrela da Amadora explicou tudo. Em presença duas equipas de cilindradas diferentes, a mais forte de tração à frente, e a mais fraca a defender-se como podia, num 5x4x1 clássico, que procura, na prática com dois laterais em cada ala, empurrar o adversário para um zona central onde abundam pernas e falta espaço. Se a isto juntarmos defesas centrais bons no jogo aéreo e um guarda-redes inspirado, chegamos à fórmula que permite criar um resultado equilibrado entre potências que nada têm a ver uma com a outra. É de criticar a atitude do Estrela? Nem por sombras. Lutaram com as armas de que dispunham e obrigaram o Benfica a um desgaste, físico e sobretudo psicológico, que não estaria à espera.

Mas os da Luz também ajudaram à festa, pelo menos até à entrada de David Neres...

Um Benfica problemático


O que é que faltou, então, ao Benfica, para traduzir em golos uma superioridade futebolística incontestável? Em primeiro lugar, profundidade. Só Rafa (e a espaços João Neves) estava disposto a acelerar, enquanto Arthur Cabral pareceu um peixe fora de água, solicitando a bola quase sempre para onde ela não era endossada, Aursnes e João Mário empastelavam a esquerda e Di María, a ter de optar pelas jogadas individuais, nunca teve em Bah (está uma sombra do que vale) um parceiro à altura. Ainda assim, primeiro por Cabral (32) e depois por Di María (41), os encarnados só não chegaram à vantagem por mérito de Brígido, o melhor dos forasteiros. Mas foi pouca uva para tanta parra, traduzida em 70 por cento de posse de bola, muitas vezes estéril.


Neres tarde, mas ainda a tempo  
Depois de um recomeço em que o Estrela conseguiu soltar-se mais,  foi preciso chegar-se ao minuto 69 para Roger Schmidt fazer o que devia, provavelmente, ter feito logo de início: a entrada de Neres. Com o brasileiro em campo, o Benfica ganhou largura, chegou à linha de fundo, e dinamitou a organização do Estrela, obrigando Brígido a duas grandes defesas (Cabral e Di María), antes do próprio Neres ter assistido Tengstedt (79), que na primeira vez em que tocou na bola fez golo. E seria novamente David Neres (90+3), a dar o 2-0 a Rafa, acabando de vez com as dúvidas quanto ao destino dos três pontos. O Estrela da Amadora, desgastado e com o central Mansur a jogar, por lesão, a ponta-de-lança, fez o que pôde e como pôde para travar o Benfica, mas acabou por soçobrar perante os argumentos encarnados. Porém, desta vitória do Benfica, pode concluir-se que esta equipa vai jogar um futebol muito diferente daquele do conjunto campeão em 2022/23. O que, para já, não parece ser uma boa notícia para os encarnados.  

O árbitro - GUSTAVO CORREIA (nota 3)
Más decisões, pouca coerência, e sensibilidade para o jogo residual, tornaram estranhas as insígnias da FIFA que ostenta. A tudo isto acresce que foi mal auxiliado, valendo-lhe o VAR que reverteu um penálti absurdo que assinalou contra o Benfica.


Melhor em campo A BOLA - David Neres (Benfica)