‘Vós num vindes pa festa?’

OPINIÃO17.07.202004:00

Sérgio Conceição

O perfil do actual treinador dos Dragões convida-me, muito frequentemente, a traçar um paralelismo com outro técnico, mais precisamente Diego Simeone, aos comandos do Atlético Madrid nas últimas nove (!) temporadas. Pese a nada subtil diferença de o argentino só por uma única ocasião ter conquistado o título de campeão nacional, enquanto Sérgio acaba de conseguir o seu segundo troféu em três épocas.

André Villas-Boas

O antigo treinador dos azuis e brancos André Villas-Boas felicitou o FC Porto pela conquista do título de campeão nacional, dedicando-o aos adeptos do clube vitimados pela Covid-19: «Em memória dos portistas que perderam a vida nesta terrível pandemia este campeonato é vosso. Que o vosso ardor azul e branco perdure para sempre.» Muito bem.    

Os adeptos do Dragão

A verdade verdadinha é que o FC Porto lá acabou por aceitar o resgate do ceptro. Com mérito, evidentemente, porque não há campeões sem mérito. E se alguém o mereceu, sem embargo da equipa técnica e do plantel, acima de todos, foram os seus espantosos adeptos.

Rúben Amorim

Rúben Amorim é um alfaiate que, ao invés dos outros oficiais da mesma profissão, em vez de fazer um fato à medida dos clientes, opta por moldar o corpo destes às medidas dos seus cortes próprios, autênticas obras de autor. Desde que chegou à liderança de uma equipa de topo, in casu o Sporting de Braga, dois traços se tornaram particularmente evidentes e demonstrativos do seu estilo. Em primeiro lugar, a forma clara, segura, lúcida e respeitadora como sempre se pronunciou sobre os adversários. Em segundo lugar, uma ideia de jogo original, que, sendo embora arriscada, se mostrou capaz de conseguir resultados  imediatos, sem se esconder atrás da cortina da boca de cena invocando supostos projectos de longo prazo (segundo a lição de Keynes, «a longo prazo estamos todos mortos»). Como já aqui escrevi, estou mesmo convencido de que aquilo que pareceu um risco demasiado grande - e ainda por cima dispendioso, dada a indemnização a pagar aos arsenalistas - vai acabar por se converter no impacto mais positivo que os leões poderiam desejar. Não, ele não é, em definitivo, uma mera promessa ou um rapaz jeitoso. Ele pertence ao topo e por lá vai ficar. Só me resta uma dúvida: tanto quanto julgo saber ele só tem o curso de treinador de nível II, sendo que, de acordo com os regulamentos, precisaria de possuir o IV grau para poder, formalmente, constar da ficha de jogo. Assim, daqui resultam duas situações bizarras: se ele já está no topo do reconhecimento quem são os sábios que lhe vão ensinar o quê para obter tal diploma? Alguns técnicos desempregados, talvez? Por outro lado, ninguém parece notar, ou todos fingem não ver, a hipocrisia que é a discrepância entre o nome que consta da ficha oficial do jogo e a pessoa que ocupa a área técnica.

A revelação e a confirmação

Ainda falta jogar duas jornadas - além da final da Taça de Portugal - para esta época se poder dar como corrida.  Mas não se poderá deixar de reconhecer que, Rúben Amorim à parte, a revelação, entre os técnicos, foi João Pedro Sousa, conduzindo o Famalicão a um patamar qualitativo de todo inesperado. Já a prova consumada pelos açorianos do Santa Clara certifica a confirmação da qualidade de João Henriques.

Jorge Jesus

quando escrevo estas linhas não é ainda sabido se Jorge Jesus volta para o Benfica ou se prefere continuar no Flamengo. Sei apenas que pode dizer, em qualquer dos cenários: «Depois de mim virá quem bom de mim fará.»


Mais ressacas

E depois da originalidade que constituiu realizar, na Áustria, dois Grandes Prémios de Fórmula 1, este fim de semana vai marcar - finalmente! - o regresso das corridas de Moto GP. Desejo a maior das sortes para Miguel Oliveira. E espero ouvir menos desculpas se os resultados não estiverem ao nível das expectativas.