Volta o circo de feras
Chelsea, Bayern e PSG 'de Messi' favoritos, City, Liverpool e Man. United 'de Ronaldo' atrás. Espanhóis e italianos em segundo plano
COMEÇOU ontem a trigésima edição da Champions League, a competição que veio substituir (em 1992) a Taça dos Campeões Europeus e rapidamente se tornou um sucesso estrondoso tanto a nível desportivo como financeiro. Referência máxima a nível mundial, a Champions é a prova que reune, não somente os campeões de cada país europeu, mas as melhores equipas do continente que é a referência-mor da modalidade. É um forum de elites, mais ou menos endinheiradas. O palco onde qualquer treinador e futebolista minimamente ambicioso se quer expressar; a suprema prova dos nove de «estofo» e grandeza, a competição onde realmente se percebe quem é quem no contexto europeu. Não é para quem quer: é para quem pode.
A Champions gera audiências e receitas de larguissimos milhões, lança carreiras e forja lendas para a eternidade. Como a do Real Madrid, que tem confirmado neste modelo a supremacia indiscutível que já detinha no modelo antigo: 7 títulos em 7 finais, única equipa que passou sempre da fase de grupos: 25 qualificações em 25 presenças. Como a de Cristiano Ronaldo que ontem, em Berna, além do golo da praxe, apossou-se do único recorde que lhe faltava: é agora o futebolista com mais jogos (177), mais golos (135), mais assistências (44), mais títulos (5), mais finais (6) e mais meias-finais (11) da Champions. Um registo fabuloso que faz deste português nascido na Madeira a «cara» da competição clubistica mais importante do futebol.
PSG de Messi (e muitas outras estrelas) é um dos candidatos à conquista da Champions
O campeão deste ano, com 98% de probabilidade, virá das ligas «big five», como aconteceu em 27 das 29 edições. As excepções ocorreram em 1995 (Ajax de Louis van Gaal) e 2004 (FC Porto de Mourinho). A meu ver os ingleses apresentam o bloco mais forte: qualquer dos seus quatro representantes tem argumentos para vencer a prova. Mas creio que os mais favoritos são o titular Chelsea, reforçado com Lukaku (ontem fez o único golo dos campeões ao Zenit); o sempre forte e competente Bayern, agora com Julian Nagelsmann, que cilindrou com naturalidade o Barcelona em Camp Nou (3-0); e o reforçado Paris SG, que incorporou Wijnaldum, Hakimi, Sergio Ramos, Donnarruma, Messi e Nuno Mendes num plantel já de si rico e versátil - e ainda manteve o estonteante Kylian Mbapée. Numa segunda linha, mais suspeitos do costume: o Liverpool de Klopp, finalista em 2018 e campeão em 2019, agora com a defesa recomposta.
O City de Guardiola, finalista na época passada, a quem continua a faltar um aríete capaz de dar continuidade a todo aquele volume ofensivo; e, num degrau abaixo, o Man. United, um histórico cuja ambição parece ter crescido exponencialmente com a chegada de Cristiano Ronaldo, que, no jogo de regresso a Inglaterra, conseguiu electrizar um estádio, uma cidade, adeptos, televisões, Imprensa e redes sociais como não há memória na história do futebol inglês. É desta matéria que são feitas as lendas e o United conseguiu a maior delas todas para reforçar um plantel que já era forte. Pela primeira vez em muitos anos os grandes dominadores da Champions no séc. XXI não constam no rol de favoritos. Falo do Real Madrid, com um onze de ITÁLICO heróis da Champions em fim de ciclo, e do Barcelona, que se encontra falido, dorido e em reconstrução. Também os italianos, que têm a selecção campeã da Europa, dificilmente verão um dos seus (Inter, Milan, Juventus, Atalanta) levantar a «orelhuda» que lhes foge desde 2010 (Inter de Mourinho).
Fora das «big five», FC Porto e Ajax são, como habitualmente, os candidatos mais credíveis a uma gracinha que ultrapasse, eventualmente, a presença nos quartos de final. O FCP é a referência do futebol português nesta competição: é o único que a ganhou e o único no «ranking» dos melhores: segundo com mais presenças (25) na fase de grupos, só atrás de Real Madrid e Barcelona; e o sexto com mais jogos, mais vitórias e mais presenças na fase eliminatória. Sozinho, o FC Porto tem jogos (206) e mais vitórias (91) do que todos os outros clubes portugueses juntos (187 jogos e 59 vitórias, assim distribuidos: Benfica, 107/37; Sporting: 50/14; Boavista: 18/4; Braga: 12/4). O grupo dos dragões é diabólico, mas Sérgio Conceição já mostrou possuir estofo para estas andanças. É de presumir que vai competir de olhos nos olhos até ao fim com Atletico, Liverpool e Milan. Benfica e Sporting ainda não conseguiram ganhar expressão na Champions e geram as dúvidas habituais.
O Benfica, com muita posse mas escassa contundência ofensiva, empatou em Kiev com o VAR a anular um golo ao Dinamo nos descontos. Agora tem quatro jogos seguidos com Bayern e Barcelona. Veremos em que estado chega à 6.ª e última jornada (recepção ao Kiev). O Sporting parece ter um grupo mais acessível (Dortmund favorito destacado), mas convém lembrar que o Ajax, adversário de hoje em Alvalade, tem muito mais experiência e currículo que os leões nesta competição. O Sporting não ouve o hino da Champions há quase três anos - o último jogo foi há 1380 dias, em Barcelona (0-2 a 5 dezembro 2018). Ora há pouco mais de dois anos o Ajax, com este mesmo treinador, esteve a um segundo (!) de chegar à final da Champions. Curiosidade de ver como Rúben Amorim, a revelação mais electrizante na área do treino desde Mourinho, se estreia no maior de todos os palcos…