Vitória (e derrota)
NO futebol, há máxima que diz que os deuses estão sempre ao lado de quem tem o melhor treinador - e quando Rui Vitória começou a parecer pior treinador do que é deixaram de estar ao lado do Benfica (e, em Portimão, foi claro como a água e a mágoa). Por isso lhe aconteceu o que lhe aconteceu.
José Mourinho afirmou-o, uma vez:
- Sou treinador de futebol, não sou o Harry Potter. O Harry Potter faz magia. No mundo real, a magia não existe, a magia é ficção - e o futebol é realidade.
Sim, o futebol é realidade - e é, sobretudo, a realidade do resultado. E é realidade porque não se pode ganhar através de varinhas mágicas ou pós de perlimpimpim - e só se ganha fazendo o que é preciso fazer-se para não se perder o que se está obrigado a ganhar (ou a continuar a ganhar) - e sim: Rui Vitória deixou de conseguir fazê-lo. Por isso lhe aconteceu o que lhe aconteceu.
É, também é realidade: no futebol mais importante do que explanar-se uma boa ideia de jogo é uma equipa mostrar-se em boa emoção. Depois da epifania que Luís Filipe Vieira teve durante o sono (descontando-se-lhe o fogacho do SC Braga) o que realmente se viu foi uma equipa sem boa ideia de jogo e sem melhor emoção - firme no seu caráter, apaixonada na sua vontade. Foi uma equipa a ceder ao disparate e ao desleixo, angustiada e angustiante - mesmo que Rui Vitória desatasse a exclamar que não (em vez de lhe mudar o rumo). Por isso lhe aconteceu o que lhe aconteceu.
Se na guerra o pessimismo pode ser uma traição - no futebol é sempre uma perdição. Com ele na cabeça dos adeptos (e nos pés de quem está a jogar mal e a competir ainda pior...) a cada minuto que passava o Benfica era menos Benfica - e Rui Vitória também. Por isso lhe aconteceu o que lhe aconteceu. E aconteceu-lhe o que lhe aconteceu por outras razões, por o futebol ser mesmo assim: ser mais fácil despedir o treinador do que o presidente (ou os jogadores contratados em vão e os que partem ou incendeiam o balneário - escondidos ou não...)