Vitória e as suas opções

OPINIÃO04.06.201904:00

A BOLA, através de uma interação feliz entre jornal e televisão, privilegiou o imenso universo dos amantes da qualidade e do prestígio da marca com duas interessantes entrevistas nos últimos dias, que se entrecruzam e  contribuem até para ajudar a desvendar alguns dos mistérios que nublaram a vida recente do emblema da águia.
Rui Vitória regressou a Portugal para gozo de férias, com mais dois Campeonatos inscritos no currículo, embora do ponto de vista sentimental arrumados em prateleiras diferentes. No clube saudita foi ele quem ergueu o troféu de campeão, enquanto no Benfica estava fora de cena quando o título chegou à Luz.
Vitória  detesta o ‘lado arruaceiro’ do futebol e defende um  discurso ponderado, elegante e cordato, porque, no seu entendimento, os treinadores de futebol, com permanente e forte exposição pública, devem ser ‘exemplos para a sociedade’. Estou absolutamente de acordo, não me convence, porém,  quando desvaloriza  a importância  da palavra. Uma  boa comunicação é feita de mensagens simples e objetivas.  Comunicar bem não significa falar muito, apenas o necessário, com entusiasmo, convicção e elevação. O que se tem assistido em Portugal, sobretudo nos dois  últimos anos, com selo de origem determinada, é mais insulto, ofensa e  agressão, um despudorado ‘terrorismo comunicacional’.

Lage - Na entrevista, conduzida pelo jornalista Gonçalo Guimarães, Rui Vitória acentuou a sua independência e verticalidade que lhe permitiram deixar ‘belíssimas relações’ com todos os clubes por onde passou e manter abertas todas as portas, como explica: «Vivi no Benfica intensamente, como vivi todos os outros clubes, mas a partir do momento em que aquela porta se fechou e acabou a relação é a minha vida que conta e ela está aberta para todos os clubes.» Fim de citação.    
Não liga aos folclores da vida e com esse desprendimento se justificou  para não dar os parabéns a Lage. Nem sequer ficou com o contacto dele, atitude que pode manifestar alguma sobranceria, reflexo de situação mal resolvida ou tique de novo-riquismo  que os ganhos desportivos e financeiros no Benfica seguidos de contrato de milhões nas arábias lhe permitem pavonear.
Acredito que foi mais o seu pouco jeito para se expressar sem reticências.  Não felicitar Lage é um direito que lhe assiste, mas devia assumi-lo. Dizer que não tem o contacto dele é desculpa que não convence. Eu também não tenho,  mas se precisar de lhe falar não demoro a encontrar gente amiga que me solucione  o problema.
Se não felicitou Lage foi porque não quis. Ponto final.

Samaris - Não entendo, não entende ninguém, o clima de violência emocional a que sujeitou Samaris e esta entrevista  pouco adianta,  por vontade do entrevistado. Que pecados tamanhos do grego terão estado na base da sua eliminação do reino dos aptos  decretada pelo treinador? Provavelmente, nenhuns.  
Afirmou Vitória que foram opções, porque do ponto de vista profissional não tem praticamente nada a dizer de Samaris. Foram opções,  repetiu. O jornalista insistiu, em vão. Foram opções. Até  Alfa Semedo passou à frente de Samaris, empurrado pelas opções de Vitória e não mais do que opções, seja o que isso for.
 No entretanto, o Benfica foi apressado ao mercado contratar Filipe Augusto, por solicitação técnica, prova provada de que, por entre vagas de opções, Samaris, como praticante, não contava para nada.

Luisão - Samaris foi tramado pelas opções e Gabriel  prejudicado pelas negociações demoradas, além de precisar de tempo para adquirir rendimento, como acabou por ter, sublinhou. E Seferovic, que estava para ser despachado e acabou por ser o vencedor  de A BOLA de Prata, com 23 golos?
Normal, diria normalíssimo, porque, segundo Vitória, o ‘cenário montado no início da época foi montado a pensar nestas coisas todas’. Todas menos em uma: essa de dar uma nova oportunidade a Taarabt estaria riscada do programa. Porquê?  ‘Há coisas que não é só o treinador, é o clube. Não é só o Rui Vitória, é o Benfica’. Li, reli,  e admito a minha dificuldade: não alcanço, nadinha. O defeito é meu. Não percebo, como não percebi o que aconteceu com Luisão.
Vitória transmitiu a sua ideia  ao jogador e ao presidente. Mais, transmitiu a todas as partes ‘aquilo que entendia’. Portanto, ‘ o Luisão é que poderá responder qual era a sua vontade’, adiantou.
Sem  nenhum truque de magia, a verdade é que A BOLA, no seu jornal e na sua televisão, encontrou a resposta, ontem dada pelo próprio Luisão, em entrevista assinada pela  jornalista Irene Palma.
Sobre os treinadores  com quem trabalhou ao serviço do Benfica, falou de todos. José Antonio Camacho (‘Apostou e protegeu-me’), Giovanni Trapattoni (‘Corríamos por ele’), Ronaldo Koeman (‘Tratava-me muito bem’), Quique Flores (‘Podíamos ter feito mais por ele’), Fernando Santos (‘Disse-me que gostaria de ter 11 Luisões na equipa’),  Fernando Chalana (‘Um ídolo do clube’) e Jorge Jesus (‘O melhor com quem trabalhei’).  
Sobre Rui Vitória, duas linhas apenas: «Gostei da forma de trabalhar dele, fica marcado pelo título. Só isso.»
Agora, sim, ficámos elucidados.  Eu, pelo menos, fiquei.