Virtudes!
Ou muito me engano ou veremos Cristiano Ronaldo em grande quando o circo da Liga dos Campeões chegar à cidade de Lisboa. Claro que Ronaldo e a Juventus terão ainda de superar o desafio dos oitavos de final com o Lyon para ganhar finalmente o passaporte para a capital portuguesa. Mas nem os italianos, nem nós, portugueses, queremos obviamente acreditar que isso possa não acontecer.
Ronaldo não começou muito bem esta retoma do campeonato em Itália. Mas, agora, nem sequer é preciso conhecê-lo muito bem para perceber que parece, aos 35 anos, cada vez melhor, tal a frescura física e mental que revela, a ligeireza como se movimenta na esquerda, na direita, pela zona central, a facilidade com que atira à baliza, a disponibilidade com que enfrenta os adversários e desafia o chamado um para um, a potência que recuperou no remate em corrida ou de bola parada, de pé direito ou esquerdo, até de cabeça.
Em consciência, ninguém pode assegurar que Cristiano Ronaldo esteja melhor que nunca, porque Cristiano Ronaldo já mostrou tantas e tantas vezes e ao longo de tantos e tantos anos o melhor dele que o melhor dele será sempre muito difícil de repetir ou de voltar a ver-se.
Mas a verdade é que desafiando-se, nesta altura da carreira, no terceiro clube internacional, somando já 47 golos (!!!) em 58 jogos pela Juventus só no campeonato italiano (26 golos em 31 jogos nesta edição), Cristiano Ronaldo é absolutamente esmagador com aqueles que parecem querer confundir o nem sempre muito atrativo futebol da Juventus com o ocaso - longe de chegar - na carreira do maior monstro que o futebol mundial alguma vez conheceu.
Lisboa, que lhe foi madrasta na final do Euro-2004, concedeu-lhe, porém, o conforto da celebração da Liga dos Campeões em maio de 2014, exatamente no Estádio da Luz onde volta a jogar-se a final deste ano. Também por isso, CR7 vai seguramente dar um bocadinho mais ainda do que… os 200 por cento que costuma dar em todos os grandes momentos. Aposto!
NÃO mostrou o presidente do Sporting qualquer dificuldade em reconhecer a importância de voltar a receber na academia do clube, em Alcochete, um ex-jogador de futebol que muito marcou a formação leonina na primeira década deste século.
Por iniciativa de A BOLA, e com o testemunho de uma reportagem assinada pela jornalista Irene Palma, Frederico Varandas voltou a abrir a porta do clube a Fábio Paim, percebendo, e muito bem, como o (mau) exemplo de um jovem como Fábio Paim pode servir de (bom) exemplo para os jovens que sonham na formação do Sporting.
Quando Fábio Paim, que muitos chegaram a considerar ter ainda mais talento do que Cristiano Ronaldo, chegou, por fim, ao Chelsea - tinha 20 anos -, isso foi suficiente para se supor que se estava em presença de uma nova estrela capaz de seguir as pegadas de Cristiano Ronaldo, quando este já brilhava no Manchester United.
Mas enquanto Cristiano, nesse mesmo ano de 2008, conquistava a primeira Liga dos Campeões e a primeira Bola de Ouro, o miúdo Fábio Paim caminhava apenas para um dos maiores trambolhões de que há memória na história mais recente do futebol português e começava a transformar um grande sonho no pior dos pesadelos.
Hoje, Fábio Miguel Malheiro Paim está com 32 anos, e além dos anos negros acumulados numa carreira que nunca o levou aonde sonhou chegar, soma agora a dolorosa experiência de uma passagem de alguns meses por uma prisão portuguesa, condenado por se envolver com droga que ele garante nunca ter consumido, e a esperança, como ele próprio afirma, de conseguir agarrar todas as boas oportunidades que lhe surgirem «como se fossem as últimas».
No fundo, como acontece com quase todos os que experimentam cair, Fábio quer apenas que o ajudem a levantar-se. E ele promete levantar-se de uma vez por todas, já não como jogador de futebol, mas como alguém que continua a amar o futebol e a sentir-se unicamente feliz com o futebol.
Frederico Varandas está disponível para dar a Paim a oportunidade, talvez a última, de tornar a vida que ele próprio levou no futebol numa vida útil ao futebol de outros jovens. Varandas com um ato muito nobre - a mostrar a responsabilidade social que um dirigente desportivo deve ter, e a visão de futuro, sentido de justiça e caráter humanitário que nenhum líder pode deixar de ter. Já lhe tinha tirado o chapéu na forma como enfrentou e geriu, como presidente de um grande clube, a questão do relacionamento da entidade com as claques. Tiro-lhe também o chapéu agora!
CARLOS CARVALHAL conduziu ontem o Rio Ave ao 14.º triunfo no campeonato - conseguindo, mesmo ao cair do pano, o 2-1 sobre um aflito Portimonense - e ninguém pode negar que se juntou em Vila do Conde um bom treinador a um bom plantel.
O Rio Ave mantém assim a ambição de lutar pelo 4.º lugar com SC Braga (o melhor posicionado), Famalicão e V. Guimarães, e Carvalhal mantém assim a aura positiva que começou por ganhar quando há quase 20 anos se tornou o primeiro treinador (e único, até hoje) a conseguir apurar uma equipa da segunda divisão B, o Leixões, imagine-se, para a final da Taça de Portugal, que veio a perder (0-1, em 2002) para o Sporting, e o primeiro técnico, então com o V. Setúbal, a vencer a Taça da Liga, numa final de novo com os leões, quando em 2008 se jogou a primeira edição.
Quase sempre muito descontraído, muitas vezes sorridente, fluente no discurso e suficientemente claro para se perceber na grande maioria das vezes o que quer realmente dizer, Carvalhal construiu uma boa imagem no futebol português, que soube estender ao futebol inglês, onde viveu experiências muito interessante e reveladores de competência.
Mas há uma semana, após perder com o Gil Vicente num jogo que entende - e se calhar bem - que o seu Rio Ave merecia ter ganho, Carvalhal sentiu-se ainda injustiçado ao ver o árbitro conceder apenas 10 minutos de tempo extra e não 15 ou 20 como talvez Carvalhal achasse que devia e protestou muito. Está no seu direito.
Mas já perde o direito a dizer o que disse depois, na chamada «flash interview» televisiva que antecede a ida à conferência de imprensa após o jogo. O jornalista questionou-o sobre os protestos relativamente ao tempo de compensação e Carvalhal não foi de modas:
- E qual é a sua opinião?, perguntou carvalhal ao jornalista.
- A minha opinião não conta!, respondeu, naturalmente bem, o jornalista.
- Então se a sua não conta, a minha também não!, disse Carvalhal.
Nem sempre o que parece é, mas o que parece é que muitos treinadores, como Carvalhal, só parecem realmente bem preparados quando ganham. É pena!
O jovem treinador, Nélson Veríssimo, que ficou na Luz com a criança nos braços e a missão de juntar os cacos emocionais de uma equipa que procura levantar a cabeça e focar-se, também, na ideia de ter ainda uma grande competição (a Taça de Portugal) para discutir, assumiu, na última conferência na Luz, não saber que o FC Porto jogava, ontem, antes do Benfica.
Se Veríssimo foi sincero, é difícil de compreender como o (interino) treinador do Benfica não sabe quando joga o seu principal rival no campeonato; se não foi sincero, é difícil compreender como o (interino) treinador do Benfica possa ter dito o que disse apenas com a intenção de mostrar que não quer nem saber quando joga o rival. Em qualquer dos casos, não lhe ficou bem!
PS 1: Bem ficará ao FC Porto, seja quando for, a coroa da Liga portuguesa, mesmo tendo sido jogado quase um terça de campeonato numa espécie de estranha forma de vida. Sérgio Conceição e seus rapazes vão recuperar a coroa com menos brilho mas muita luta. E tal como o Benfica de Lage mereceu o título de 2019, o FC Porto de Conceição merece evidentemente o título de 2020, não tanto pelo que foi, agora, jogando, mas pelo caráter que quase nunca deixou de ter. Ao contrário de outros grandes, a verdade é que o FC Porto, mesmo quando perde, vende sempre muito cara qualquer derrota. E essa será sempre uma das primeira virtudes dos que se tornam grandes campeões!
PS 2: Não sei se Jesus vai ser o próximo treinador do Benfica, mas, pelas informações disponíveis, sinto-me, também eu, tentado a considerar que Vieira e Jesus parecem condenados a entender-se e a voltar a trabalhar juntos, como em tantas ocasiões ambos terão confessado, ainda que em círculos mais privados, ser forte desejo pessoal. Falta, porém, saber se pesará isso o suficiente para ser decisivo!