Vinte anos depois…
Dado aquilo que tem acontecido, para Ronaldo a melhor solução seria voltar ao Sporting. Resta saber se em Alvalade se vê com bons olhos essa hipótese
SEGUNDA humilhação seguida do Man. United, desta vez em Brentford (0-4), na quarta derrota consecutiva na Premier (contando com as duas no fecho do último campeonato). E o pior é que se chama Liverpool o próximo adversário deste ridículo destroço que é o atual Man. United — já era com Ralf Rangnick e parece ter piorado com Erik ten Hag, até há pouco o competente treinador do Ajax. O clássico joga-se em Old Trafford, na próxima segunda-feira, dez meses depois de o cilindro compressor de Jurgen Klopp ter aplicado ali uma goleada traumática para os devils (5-0), traduzida na face pálida e consternada de sir Alex Ferguson. Ronaldo não esteve nesse jogo e tenho vontade de escrever, porque não gosto de o ver fazer má figura, que faria bem se conseguisse falhar o próximo, pois não é preciso ser fã do Liverpool para perceber que a máquina Klopp, mesmo gripada e desfalcada, tem capacidade mais que suficiente para voltar a cilindrar o eterno rival.
Por esta altura o próprio Ronaldo já só deve querer uma coisa: sair de Manchester custe o que custar, porque ninguém gosta de passar de campeoníssimo a saco de pancada e ser gozado por meio mundo. E se CR7, lenda viva do desporto, preza a sua imagem! Mas sair para onde? Vou admitir que metade do que tem sido publicado na Imprensa internacional é falso e que metade do que sobra é exagero, especulação e fantasia. Ainda assim, temos de concordar numa coisa relativamente a Ronaldo: tendo ele assumido junto do United que não queria continuar no clube e tendo essa vontade sido tornada pública, facto é que, até ao momento, CR7 não conseguiu encontrar lugar em nenhuma das escapatórias desejadas. Que são, a fazer fé no que tem sido dito e escrito: Bayern, PSG, Chelsea, Tottenham, Barcelona e Atlético Madrid (?!?, custa-me muito a acreditar que CR7 cometesse o erro de permitir que o oferecessem aos maiores rivais do Real Madrid, o clube de que ele é ícone absoluto…); Inter e AC Milan. Ontem o jornal AS acrescentava o Dortmund à lista e voltava a insistir na possibilidade de um regresso a casa, ou seja, ao Sporting. Aparentemente, todos estes clubes terão torcido o nariz à possibilidade de receberem Ronaldo. Uns invocando razões financeiras, outros invocando razões de outro tipo (estratégicas, conjunturais, etc, etc).
Ronaldo vive tempos complicados
Volto a dizer que o assunto Cristiano gera sempre muita especulação e não menos fake news, mas não consigo deixar de pensar que vinte anos depois de se ter estreado no futebol oficial com a camisola do Sporting (14 de agosto de 2002, em Alvalade num jogo de qualificação da Champions, contra o Inter), este é seguramente o verão mais penoso na carreira de Cristiano. Como penoso foi vê-lo em Brentford, afogado na mediocridade daquela equipa miserável que alguns colunistas ingleses do Daily Mirror consideram «séria candidata à descida de divisão» se não arrepiar rapidamente caminho. A intenção de sair, o olhar vazio, a omnipresente máscara de frustração, os resmungos, os protestos e as caretas a sublinharem erros dos colegas queimaram rapidamente o estatuto de CR7 no United: passou de insubstituível abono de família a elemento tóxico para boa parte do balneário. Não esquecer: ele disse à direção do clube que queria sair porque não acredita neste projeto !...
Num mundo ideal o regresso ao Sporting, com presença assegurada na Champions, talvez fosse a solução ideal para Cristiano fechar rapidamente este capítulo sem prejudicar ainda mais a sua imagem e ganhar a serenidade de que precisa para se apresentar em grande forma no Mundial do Catar, em novembro próximo. Que o Sporting e a Liga Portuguesa ganhariam um boost extraordinário com o regresso de Ronaldo, julgo que ninguém contesta. Pergunte-se a Pedro Proença se gostava ou não de ter na Liga Portugal o maior futebolista português de todos os tempos e o único que atingiu o estatuto de lenda indiscutível do desporto Mundial. Mas esse passo parece de difícil, senão impossível concretização. Não só porque CR7 é um jogador demasiado caro para a realidade do País, mas porque também é um jogador que, nesta fase da sua carreira, obriga a que toda a equipa seja pensada (repensada, no caso leonino) em torno dele e em função dele; nesse particular, a vinda de Cristiano talvez implicasse demasiadas cedências para um treinador — Rúben Amorim — que está habituado a ser o único maestro da orquestra. Bem habituado.
PS – Abel Ferreira tem construído no Palmeiras uma das mais extraordinárias sagas de treinadores portugueses no estrangeiro. No próximo domingo, se não perder em casa com o rival Flamengo (ficará com 9 ou 12 pontos de vantagem), Abel coloca uma mão no título brasileiro, o único que lhe falta para completar o pleno no Brasil… enquanto se mantém na corrida a uma terceira Libertadores seguida (!). Por este andar, Abel será o novo Imperador do futebol brasileiro. Rei já ele é.
TEM PACIÊNCIA, KIEV…
OBenfica tem de chegar à Champions para não sofrer um rombo financeiro difícil de gerir. Roger Schmidt, racional e pragmático, preparou um onze para concretizar esse objetivo crucial (que até pode não ser o onze do resto da temporada) e não se tem desviado desse caminho. Faz muito bem. No resto, creio que muito dificilmente o Dínamo Kiev poderá fazer ao Benfica o que fez ao Fenerbahçe do nosso Jesus e ao Sturm Graz… apesar da astúcia e da larga experiência do quase octogenário Mircea Lucescu (43 anos de carreira!). O Kiev, equipa muito física, não compete em campeonato nenhum e creio que não vai apresentar intensidade de jogo equiparável à do Benfica, que, ainda por cima, tem mais qualidade no plantel. Acredito que os adeptos não portugueses estarão mais inclinados a torcer pela qualificação do Kiev, por razões relacionadas com o drama dos ucranianos, brutalmente agredidos pela Rússia de Putin, mas a política, felizmente, não decide jogos. Seria ótimo para Schmidt ganhar em Kiev, mas importante, acima de tudo, é fazer a festa da qualificação dentro de uma semana na Luz.
MATHEUS, QUE BAIXA!
NÃO sei o que terá levado Matheus Nunes a fazer marcha-atrás na decisão de rejeitar as propostas do Wolverhampton. É claro que a Premier é o topo do futebol mundial, mas o Wolves, com onze portugueses (!), não é um grande e está muito longe de poder sonhar com a Champions. O objetivo de Matheus só pode ser um: fazer de Molineux a rampa de lançamento para um big (como aconteceu com Diogo Jota); com todo o respeito pelos lobos, Matheus é jogador para outros voos (Guardiola terá a mesma opinião), talvez para o ano esteja no City… ou no Liverpool. Ver-se-á. Claro que o médio vai ganhar o quádruplo ou o quíntuplo do que ganhava em Alvalade (um detalhe que não se pode ignorar...) e que a tesouraria do Sporting recebeu um boost tremendo neste defeso: 75 milhões com as vendas de Palhinha, Tabata e agora Matheus. Falta dizer que a saída deste último é uma baixa brutal, muito difícil de superar (têm a palavra Ugarte e Morita) e que Amorim, em vésperas do clássico, tem de pensar/agilizar soluções novas. Com os que estão e com o que há de vir. Fica para a memória o fabuloso golo com que Matheus se despediu de Alvalade. Que siga os exemplos dos antigos leões Ronaldo, Nani e Bruno Fernandes na melhor liga do planeta.