Vieirismo ou mudança
Os benfiquistas optam hoje pela continuidade ou pela mudança. A campanha foi globalmente rica em contratações e renovações e pobre em discussões e debates. É pena que não os tenha havido: da discussão costuma nascer a luz. Creio que nenhuma candidatura apresentou um projeto estruturado de futuro. Quer dizer, nenhuma apresentou um documento em que se diga expressamente «temos de caminhar para isto/para chegar lá temos de fazer isto, isto e aquilo/não podemos fazer isto, isto e aquilo/… e temos de deixar de fazer isto, isto e aquilo». A campanha decorreu em torno de ideias avulsas, algumas válidas, outras lapalissianas, outras eleitoralistas, outras irrealistas. Nesse aspeto, nada de novo e o mal não é do Benfica. Sinceramente, não me lembro de uma eleição clubística em que um candidato tivesse apresentado um projeto apelativo e ao mesmo tempo rigoroso, sensato e sustentado (… e se há motivos para olhar o futuro próximo com alguma cautela). Tanto João Noronha Lopes (sobretudo este) como Rui Gomes da Silva, naturalmente ao ataque, fizeram valer alguns pontos que parecem óbvios. Luís Filipe Vieira, naturalmente à defesa, refugiou-se no passado e na obra feita, passando uma esponja sobre tudo o que não lhe interessa ver debatido ou escrutinado.
Os adeptos escolhem entre a continuação do vieirismo e a necessidade de mudança a que o futebolista Bernardo Silva apelou anteontem nas redes sociais de forma particularmente contundente. Se escolherem Noronha Lopes ou Gomes da Silva, os benfiquistas encerram um longo capítulo (17 anos) na história do clube e abrem um novo ciclo. Se escolherem Vieira, os benfiquistas reelegem o presidente a) da retoma económica e desportiva, da obra feita, dos negócios em catadupa, das parcerias de milhões, dos resultados financeiros; b) mas também da política desportiva errática e incongruente, da opacidade e das traficâncias, dos processos judiciais e das buscas no Estádio da Luz, da imagem pública e credibilidade do clube degradadas como nunca…
Tudo somado e atendendo à conjuntura - os resultados do futebol ajudam -, suspeito que o Benfica vai viver mais quatro anos de vieirismo. Veremos o que vai pesar mais quando chegar a hora do acerto de contas - se as virtudes ou as misérias de Luís Filipe Vieira.
Sporting ‘a solo’ - e bem
Grande que se preze deve subsistir por si próprio, sem prejuízo de uma ou outra aliança estratégica - todas as grandes empresas as fazem em função daquilo que consideram ser a defesa dos seus melhores interesses. Deixar-se utilizar/manobrar por um par da mesma grandeza, sabendo de antemão qual é o resultado… é outra coisa: chama-se masoquismo. Nessa perspetiva, Frederico Varandas cortou a eito. Já estava de costas voltadas para Vieira, agora virou costas a Pinto da Costa. Para voltar a ser grande no futebol, o Sporting tem de seguir em frente a solo. Ganhar voz, corpo, espaço, autoridade e perigosidade própria - não a que advém de estar aliado ocasionalmente ao sr. X ou ao senhor Y. Ainda para mais defendendo Varandas - já o disse publicamente por mais de uma vez - que Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira representam o tipo de dirigismo que o Sporting liminarmente rejeita. Disse ainda Varandas que o Sporting «tem valores de que não abdica» e que «não vai jogar sujo». Uma visão muito estimável, mas completamente desfasada da realidade - da nossa realidade, atenção!!! O tempo se encarregará de lhe mostrar como funciona o futebol português (estranha-se que ainda não tenha percebido, mas enfim…). Para ganhar ao Benfica e ao Porto, o Sporting, no mínimo, tem de jogar com as armas deles. Ponto.
Noite de Porto… gueses
Regresso normal do FC Porto às vitórias na Champions - a 86.ª em 196 jogos, muito mais do que a soma (54) dos triunfos de todos os outros clubes portugueses neste modelo -, num jogo intenso, bem disputado… e com algum público (aleluia!) nas bancadas. A diferença final (2-0) terá sido demasiado penalizadora para o combativo Olympiakos de Pedro Martins, mas o FCP mostrou possuir aquilo que normalmente faz a diferença na Champions: frieza e capacidade de perceber em tempo útil os sinais do jogo. Em Kiev, o competente Luís Castro manteve o Shakhtar na liderança do grupo da morte que deverá, por este andar, condenar um gigante (Real Madrid, Inter…?) à despromoção para a Liga Europa. Em Madrid, exibição memorável de João Félix (aleluia!), que virou com dois golos a desvantagem diante do Salzburgo (1-2 para 3-2) depois de assinar pontapé de moinho que teria dado golo de sonho. Agora é preciso dar continuidade ao brilhante fogacho e não «desaparecer» nos próximos dez jogos. Continuidade é o que tem Diogo Jota no Liverpool: segundo jogo a marcar, segundo jogo a ser decisivo numa equipa fortíssima onde parece estar a pegar de estaca ao jeito de Bruno Fernandes no Man. United. Há jogadores assim, de imposição rápida…