Vieira, Jesus e o Vampeta nu

OPINIÃO20.07.202004:00

vIEIRA, e não o Benfica, concretizou o maior desejo: resgatar o Jesus-treinador, mas também o Jesus-amigo, companheiro de almoçaradas. O mesmo que chegou a processar, pasme-se, por espionagem industrial.


Negócios à parte, na altura encerrou-se o ciclo. Abriu-se a porta a uma formação sem correspondência na equipa principal, já depois de o lateral-esquerdo Bernardo Silva e de o destro Cancelo terem saído por preço de tabela. Dividido entre ganhar e fazer milhões, Vieira não cobriu o que pensava ser bluff e deixou Jesus reforçar o rival. A formação, com técnicos de perfil mais de estrutura, passou a criar mais craques, vendidos depois ainda mais caros, e assegurou a continuidade de vitórias. Só que a espiral negativa desde fevereiro tirou o chão de debaixo dos pés de Vieira.


Dois títulos em três perdidos para um FC Porto com problemas financeiros, é ainda acusado de desinvestimento e de falhanço europeu. Sente que, apesar da concorrência frágil, precisa de amealhar pontos. É Vieira, e não o Benfica, quem recebe de braços abertos o anti-formação, o ex-amigo e ex-inimigo com o habitual isso já lá vai, dá cá um abraço. Jesus, em conjunto com vários reforços, tem agora de garantir a fase de grupos da Liga dos Campeões, o que assegurará a reeleição em outubro. O resto pouco importa. Para Vieira, não para o clube.


O Benfica dependerá da competência de Jesus, que já não terá, contudo, o efeito surpresa de 2009 ou o avanço de conhecimento que transplantou da Europa para o Brasil. Na Luz, ficam a mandar dois  temperamentais, umas vezes felizes outras zangados, e a quem pouco interessam os adeptos. Mesmo que os inundem com fotos de Vampeta nu! É na relação profissional e pessoal entre Vieira e Jesus que o futuro encarnado assenta. A não ser que falhem a Champions e percam as eleições.