Verdadeiramente colossal

OPINIÃO16.08.202004:00

1Sei bem que estamos, para além de um novo e intrigante tempo de policiamento dos discursos, a viver momentos singulares do futebol europeu. Estamos a viver, sem qualquer entusiasmo interno, a final a oito desta singular Liga dos Campeões e com a singularidade de a transmissão televisiva não nos fornecer, salvo em rápidos  instantes, uma panorâmica da tribuna presidencial. Vemos, e revemos, e bem, os jogadores suplentes e as suas expressões, o banco e seus intervenientes e os staffs de apoio, e por vezes de verdadeiro suporte, dos clubes envolvidos. E aquela nova singularidade regista-se e, decerto, é uma nova regra imposta à empresa que filma e faz a distribuição das imagens da Luz e de Alvalade para todo o mundo. Vimos, e bem, os jogadores, a sua festa ou a sua desilusão, a comunhão sentida ou a divisão vivida, a alegria quase não contida e a dor claramente assumida. Mas o que vimos, particularmente na noite da passada sexta feira,  num despido mas majestático Estádio da Luz, foi um hino ao futebol de ataque. Foi um jogo colossal do Bayern de Munique. Mais do que uma humilhação do Barcelona foi a plena afirmação de um coletivo. No Bayern,  que também passou esta época por uma substituição de treinador,  houve «diversão no campo», como bem disse, no final, Thomas Muller. O Bayern é uma equipa de futebol. O  Barcelona um conjunto de jogadores. No Bayern a estrela é o coletivo. No Barcelona, por vezes, é Messi e mais dez. No Bayern, agora, há união, no Barcelona sente-se, há semanas,  clara desunião. Mas esta vitória colossal e esta derrota por números colossais puseram num oito a proclamada superioridade catalã! Agora importa reconstruir uma equipa e juntar algumas peças. Agora, em Barcelona, haverá, decerto, um Verão quente, enquanto na Baviera esta goleada colossal ficará registada como um momento marcante na história do clube. Como, em Paris e no PSG , há alegria reforçada após a reviravolta face à Atalanta ou, também,  em Leipzig após a sua indiscutível vitória face a um Atlético de Madrid que também precisa de umas quentes férias para se reformar e reanimar. São os ciclos na vida e, logo, igualmente no futebol. E já no Dicionário do Diabo de  Ambrose Bierse lemos que «a consolação é o facto de sabermos que alguém melhor do que nós está mais infeliz do que  nós»!  E é esta consolação que minimamente conforta o Atlético de Madrid face à derrota colossal do Barcelona. E com a sugestiva nota que há 15 anos - quinze ! - a Liga dos Campeões não tinha nos jogos das suas meias finais Messi ou Cristiano Ronaldo. Para mim, e permitam-me a ousadia da provocação colossal, fica o registo de ter televisto o Barcelona  sofrer oito golos… no Estádio da Luz!

2O Benfica está a contratar grandes jogadores. Nomes certos e nomes seguros. Nomes que entusiasmam  e nomes que motivam. E um assumido benfiquista sabe bem que nas próximas duas épocas temos de consolidar a nossa direta presença na fase de grupos da Liga dos Campeões. Na verdade com o apuramento direto de dois clubes portugueses para os grupos que dão milhões desta Liga cuja final se realiza , de hoje a oito dias, no nosso Estádio da Luz - e daí a saudação a quem construiu o novo estádio e com esta significante dimensão! - um assumido benfiquista, para além das legítimas, por vezes colossais, diferenças de opinião, sabe que importa criar todas as condições  para uma constante participação, em tempos de múltiplas mudanças, na principal competição do futebol europeu e uma das mais significativas, em termos de diferentes retornos - incluindo da necessária visibilidade de jogadores! - do futebol mundial. E com Jorge Jesus na liderança há convicção , segura, que está  a ser moldada uma equipa conquistadora. E, logo, vencedora. Não uma equipa para uma época mas, sim, para, pelo menos, três épocas. Agora é o tempo do trabalho e das escolhas. Muito trabalho e difíceis escolhas. E com vontade. Muita vontade. E se chegar Cavani, que será uma colossal contratação, a vontade triplica. Já que, regressando a Maquiavel, «onde há uma vontade forte não pode haver grandes dificuldades»! Pela minha parte acredito. Pela minha parte combino ambição com decisão, maturidade com novidade, realidade com qualidade, oportunidade com personalidade, destino com sucesso. E com Epicteto sabemos que «sucesso é encontrar aquilo que se tenciona ser e depois fazer o que é necessário para isso»!

3Tenho lido e ouvido muito acerca de programas desportivos, sua «toxidade», sua natureza, sua persistência e, até, escuto comentários de especialistas de tudo a respeito da sua «extinção». Um destes domingos darei, aqui, em profundidade, a minha modesta opinião. Já que só os homens (e as mulheres…) calados, em silêncio, é que não erram! Fui um dos pioneiros desses debates na então RTP, primeiro na 2, e depois na RTP 1. E ainda não havia nem RTP 3 nem RTP Memória… Com os Doutores Dias Ferreira e Guilherme Aguiar, e sob a moderação atenta e sagaz de Paulo Catarro, discutíamos as incidências dos jogos, as especificidades da política desportiva e as singularidades do nosso futebol.  Foi há vinte e cinco anos. Tinha algum  cabelo e farto bigode ! Depois fui seduzido - sim seduzido! - e transferi-me  para a SIC Notícias , para O Dia Seguinte, e depois por direto e agradável impulso de José Eduardo Moniz  para a emergente TVI 24 e para o Prolongamento! Conheço bem a realidade e a singularidade dos debates, os seus momentos de externa intromissão - por autónoma decisão da Direção do respetivo canal! - e neles convivi com cidadãos empenhados, com profissionais de excelência e desportista de eleição. Aprendi que a neutralidade clubística é um colossal eufemismo e que as audiências, em regra, são determinantes para o estímulo permanente ou para a crescente desilusão. E as audiências são as receitas, ainda mais neste tempo de colossal escassez de publicidade nas televisões, sejam nas generalistas, sejam nas do cabo. Convivi com grandes Senhores da vida - sim desta vida vivida na linguagem serena do Doutor Joaquim Barbosa , decerto hoje a olhar , com orgulho, para sua praia de Sines - como Manuel Serrão , Eduardo Barroso e o saudoso, e querido, Pôncio Monteiro, entre outros. Como Pedro Santana Lopes, e, aqui, e agora n’ A BOLA TV, com monstros do nosso futebol jogado, entre tantos outros, como Toni e Álvaro Magalhães, Diamantino e José Couceiro, Henrique Calisto e Vítor Manuel, Dias Ferreira  e Luís Castro. E, aqui, uma palavra especial para este grande Senhor e treinador do nosso futebol e que estando nas meias finais da Liga Europa merece uma referência especial e o sincero desejo de muitas felicidades. Em todos os debates assumi uma regra: o debate, mesmo que duro, não poderia romper com a amizade construída. Nunca mesmo. E, assim,  continuamos , mesmo não sendo tóxicos, a colossalmente conviver como aconteceu há poucos dias em Fátima no fantástico Tia Alice e oportunamente ocorrerá, sob o impulso do Bruno, na Cascata de Pedra, ali mesmo à entrada de Mangualde, na saída da A25. E como nos ensinam os Textos Judaicos, «o bem estar da vida obtém-se com o aperfeiçoamento da convivência entre os homens». E este convívio faz bem! Bem hajam José Eugénio e Manel, Eduardo e Ricardo, Manel e José(s), Vítor e Hermínio, Paulo e Joaquim por tantos  momentos de intensa fraternidade! Bem hajam mesmo!