Veja as diferenças
1 - «Conhecemos a história do Fabril. O adversário torna-se mais ou menos frágil, dependendo do que nós fizermos, porque somos claramente favoritos para este jogo, mas sempre com o máximo de respeito», Sérgio Conceição, na antevisão do jogo da Taça, com o Fabril.
Como ele previra, o oponente, naturalmente motivadíssimo, apenas conseguiu fazer o que o dragão lhe consentiu, o qual apresentou no histórico estádio Alfredo da Silva, no Barreiro, uma equipa formada na sua grande maioria por elementos habitualmente suplentes, enriquecida com Otávio e Manafá.
A mensagem do treinador portista foi assimilada e refletiu-se na atitude dos jogadores, preparados para não facilitarem e evitarem os percalços que originam as festas da Taça. Os menos utilizados do plantel dos dragões não só respeitaram os avisos que lhes foram transmitidos como souberam aproveitar a oportunidade para provarem ao treinador que pode contar com eles.
Toni Martínez assinou um golo de sonho e não foi por acaso que o festejou de forma tão calorosa, pelo significado do momento, talvez suficiente para conquistar a confiança plena de quem tem o poder de decisão. Taremi, outro dos reforços a reclamar a entrada no clube dos titulares, voltou a sobressair, com um golo e uma exibição muito interessante. A par de Manafá e de Otávio, foram dos elementos que mais contribuíram para a qualidade do produto final, o que deve ter deixado o treinador imensamente agradado, por verificar que este simples jogo de Taça lhe permitiu captar mais dois entusiastas da causa portista, cujos objetivos desportivos se mantêm intactos.
Depois do jogo, afirmou Sérgio Conceição, a propósito da estreia do lateral-direito: «O Carraça estreou-se e jogou como se tivesse jogado já muitos jogos. Essa é a demonstração mais do que evidente de que diariamente há muito trabalho e quando têm oportunidade fazem por me complicar a vida, porque, claramente, tenho muitas soluções interessantes.»
Sobre o resto: «Defensivamente estivemos muito bem, muito seguros, não deixámos o Fabril chegar ao nosso terço defensivo. Dou tanto valor a esses momentos como aos jogadores que fazem golo. Satisfeito, por isso, com toda a equipa.»
2 - «(…) O Paredes está a fazer um bom campeonato, tem pretensões de subir de divisão e é só um jogo. Sabemos que a Taça de Portugal nos traz muitas surpresas, mas estamos preparados, sempre com respeito muito grande pelo adversário», Jorge Jesus, na projeção do jogo da Taça, com o Paredes.
Tal como Conceição, também o treinador benfiquista elegeu dois titulares a tempo inteiro (Gilberto e Pizzi) para formar em redor deles um onze, embora com o seu quê de disfuncional, sem uma lógica nítida de progressão competitiva, de que resultou um desempenho global imperfeito, em que os mais velhos cumpriram em serviços mínimos e os mais novos esforçaram-se, mais no sentido de não se comprometerem do que com a pretensão de aspirarem ao que quer que fosse, por saberem que a convocatória de oito ou nove miúdos da equipa B foi uma opção ocasional, à margem de qualquer estratégia consistente.
Depois do jogo, declarou Jorge Jesus, sobre os avançados: «Achei que Ferreyra e Gonçalo tinham de fazer mais e tirei-os, mas piorei a equipa. Não fiquei desiludido mas esperava mais, não tanto do Ferreyra, treina-se há um mês connosco. Mas o Gonçalo tem-se treinado, já jogou na B e na seleção… esperava mais.»
Sobre os centrais: «Os dois que jogaram estiveram bem, mas o Paredes não colocou dificuldades.»
Sobre a equipa: «Serviu para compararmos alguns jogadores e muitos deles não conseguiram fazer a diferença.»
Sobre a formação: «O Paredes esteve bem organizado e os miúdos que entraram estavam muito nervosos.»
Sobre outras coisas: «Há muito a fazer, sem dúvida, mas não é só no plano técnico e tático. Há muito a fazer em outros pormenores e outros valores que entendo para a equipa poder ser campeã, é um trabalho à parte… não sabem o que estou a dizer, mas eu sei.»
Jesus sublinhou ainda que foram os mais velhos que «estiveram bem na primeira parte e seguraram o resultado na segunda».
Tudo quanto disse o treinador benfiquista é verdadeiro, mas espanta-me que estivesse à espera que as coisas pudessem correr muito melhor. Além de não haver necessidade de apontar o dedo ao jovem Gonçalo Ramos e inocentar o crescido Facundo Ferreyra, provavelmente o mistério mais misterioso no futebol português.
3 - Conclusão a extrair: com um discurso coerente e aglutinador, Sérgio Conceição quer todos os jogadores dentro do barco; em contraposição, com uma mensagem enigmática e desagregadora, Jorge Jesus já lançou alguns pela borda fora. Duas formas de exercer a liderança…
Nota final - Na minha última crónica escrevi, erradamente, que o Rio Ave, na época finda treinado por Carlos Carvalhal, alcançou a sua segunda participação nas provas da UEFA. Em rigor, foi a quarta. Agradeço a quem me corrigiu, mesmo aos adeptos do futebol engelhado que deixam sempre a marca das suas alfinetadas.