Vamos ao Mundial?...
Outras perguntas para 2022: Duopólio Sporting-FC Porto? Champions para City ou PSG? Mo Salah de ouro?
PRIMEIRO texto do ano ainda sob o efeitos do campeonato inglês e dos seus espetáculos fascinantes, como o recente Chelsea-Liverpool (2-2), duelo de recentes campeões europeus que é bem capaz de ter sido o melhor jogo da época até ao momento. Hoje é dia de fazer perguntas em voz alta relacionadas com o ano futebolístico que temos pela frente. Começo por aquela que mais me aflige e para a qual, infelizmente, encontro mais dúvidas que certezas.
PORTUGAL VAI AO MUNDIAL?
BASICAMENTE é a interrogação que milhões de adeptos da Seleção, nós incluídos, começaram a fazer depois de terem visto Portugal falhar em casa, com a Sérvia, por culpa própria, a qualificação direta para o Catar. A dúvida, legítima face às deprimentes atuações da Seleção nos jogos decisivos com irlandeses e sérvios, adensou-se assim que o sorteio nos destinou a Itália como adversário mais provável para o mata mata definitivo no dia 29 de março, no Estádio do Dragão. Isto, como é evidente, se Portugal tiver vencido antes (dia 24), no mesmo estádio, a Turquia do alemão Stefan Kuntz; e se a Itália, também a jogar em casa (Palermo), tiver feito o mesmo à Macedónia do Norte na outra meia-final. O mais provável (espera-se) é que tenhamos mesmo uma final Portugal-Itália no Porto. O que suscita alguma angústia, dada a condição atual dos italianos, campeões europeus, e o facto de nunca em 88 anos terem falhado dois Mundiais seguidos - lembro que a Azzurra falhou o Mundial da Rússia (2018) depois de perder o play-off a duas mãos com a Suécia (0-1 e 0-0). Antes só tinham falhado o Mundial de 1958, na Suécia. A dúvida é legítima: tem Portugal capacidade para eliminar uma seleção dificílima de bater e que, ainda por cima, é uma potência histórica dos Mundiais? Conseguiremos produzir esse escândalo a jogar o futebol que temos jogado, receoso, falho de ousadia e de autoridade? Bem sei que a final, se lá chegarmos, será em casa e que Fernando Santos até já venceu a Itália por duas vezes, mas… será que vamos falhar a nossa primeira grande competição desde 1998 (Mundial de França) tendo do nosso lado o maior goleador de todos os tempos e uma mão cheia de jogadores com assento nas elites de Manchester, Liverpool e Paris?
Infelizmente, é uma possibilidade!
Certezas, só uma: Portugal ou Itália, um deles fica pelo caminho. O que é péssimo para o Mundial e para o negócio da FIFA e dos catarianos. A Itália é uma lenda da competição, mas Portugal, não se esqueça!, é uma das grandes potências futebolísticas do séc. XXI e tem uma lenda viva em Ronaldo.
SCP-FCP: LUTA A DOIS?
OS co-líderes do campeonato terminaram o ano fazendo prova de categoria: o Sporting somou a 17.ª vitória nos últimos 18 jogos, o FC Porto passou duas vezes por cima do Benfica no espaço de uma semana. Com o clube encarnado mergulhado em dúvidas e incertezas (sendo cedo para quantificar os efeitos da convulsão que originou a saída do treinador), campeões e vice-campeões são favoritos claros na corrida ao título e não só pela vantagem que detêm neste momento. É pelo resto. São ambos máquinas competitivas bem trabalhadas e afinadas, não andam aos ziguezagues e não têm perdido tempo e energias com psicodramas de terceira categoria. O FCP vai na quinta época com o hipercompetitivo Sérgio Conceição, o Sporting vai para o segundo ano com o hipercompetitivo Rúben Amorim. Todos os adeptos percebem que há um projeto, uma ideia forte, um rumo claro e definido tanto em Alvalade como no Dragão. Na Luz, com Rui Costa demasiado ausente nos folhetins de dezembro, continua a não se perceber qual é o rumo. Se é que há algum.
O Sporting luta pelo primeiro bicampeonato desde 1954. O FC Porto luta pelo terceiro título em cinco anos de Conceição. Prevê-se luta titânica. O jogo entre ambos a 13 de fevereiro no Dragão promete fazer parar o País. O Benfica está atrasado, mas ainda na luta. Com Nélson Veríssimo, já se percebeu, vai recomeçar do zero e tem de melhorar rapidamente a consistência do seu futebol. Doutra maneira continuará a perder terreno para os rivais. O que não se sabe é se Veríssimo é apenas um cuidador ou, pelo contrário, uma aposta firme de futuro. No primeiro caso, em junho próximo o Benfica recomeçará tudo de novo, mais uma vez.
CITY/PSG: É DESTA?
MAIS de uma década e muitas centenas de milhões depois, nem Manchester City, nem Paris Saint-Germain constam do rol de vencedores da Champions, o objetivo supremo dos respetivos proprietários, os estados árabes Abu Dhabi e Catar. O mais perto que estiveram disso foi na condição de finalistas vencidos. O PSG em Lisboa (2020), o City no Porto (2021). O City, com Cancelo e Bernardo em grande plano, atravessa um ótimo momento (lidera a Premier com vantagem considerável) e é, no papel, um dos candidatos mais fortes ao título europeu. O Sporting é o adversário nos oitavos de final e Pep Guardiola é imensamente favorito nessa eliminatória exatamente como era perante o Mónaco de Leonardo Jardim (em 2017), o Tottenham de Mauricio Pocchetino (2019) e o Lyon de Rudi Garcia (2020). O PSG passeia em França e também é, em teoria, candidato à orelhuda - embora a equipa não tenha dado o salto qualitativo que se esperava com a inclusão de Messi, que apresenta na cidade-luz o registo goleador mais esquálido dos últimos vinte anos (apenas 6 golos em 16 jogos). Veremos se é desta que um dos primos árabes multimilionários inscreve o seu nome no álbum de ouro da Champions. Sem essa consagração, o City continuará a não passar de um Gulliver para consumo doméstico e o PSG continuará a olhar invejoso para um certo cartaz que os adeptos do Marselha levam para os jogos com o rival parisiense: «Munich, 1993». O único título europeu de um clube francês.
SALAH DE OURO?
Oegípcio Mo Salah encontra-se, aos 28 anos, no auge da sua arte. Com todo o respeito por Lewandowski e Mbappé, acho que é preciso ser-se muito cego ou muito fanático para não reconhecer que o avançado do Liverpool é, neste momento, o melhor jogador do Mundo - claramente acima da concorrência. Já o disse várias vezes na BOLA TV: aquilo que Salah tem feito nos últimos cinco meses lembra Ronaldo e Messi no auge das respetivas carreiras: a capacidade de ser decisivo em (quase) todos os jogos - com golos de autor em catadupa e assistências primorosas, com jogadas e movimentações geniais, enfim, com a simples presença em campo. Salah é um virtuoso puro. Um génio de Aladino capaz de ludibriar qualquer defesa, de sentar qualquer guarda-redes, de iluminar qualquer estádio. O passarito de praia mais veloz e eficiente de todos, como diria o cronista Jorge Valdano. Se continuar a correr assim, Mohamed Salah Hamed Mahrous Ghaly será um justo Bola de Ouro, mesmo que o troféu acabe desviado para Messi ou outro vencedor mais institucional.