Uma questão de gosto

OPINIÃO18.11.201800:45

Não sei se Jorge Jesus voltará ou não ao Benfica. Ou se o seu regresso a Portugal se dará através de nova oportunidade no Sporting. Ou pelo há muito badalado e nunca concretizado ingresso no FC Porto. Sei, apenas, que gosto de Jesus - e isto não quer dizer que não goste de Rui Vitória ou Sérgio Conceição, porque gosto e uma coisa não invalida a outra. Talvez esta admiração especial por Jesus tenha, só, a ver com o facto de tê-lo conhecido há quase 20 anos, na Amadora e depois em Leiria, no tempo em que nos era permitido (a nós, jornalistas) assistir a mais do que 15 minutos do treino, o que possibilitava relações profissionalmente bem mais estreitas do que aquelas que se conseguem criar hoje. É provável que seja por isso. Seja pelo que for, a verdade é que sempre o admirei, tanto no aspeto tático - coloco-o, sem reservas, no lote de melhores treinadores da história do futebol português - como em todos os outros. Gosto da maneira apaixonada como fala de futebol. Gosto da simplicidade com que olha para o jogo e entende que uma equipa que pratique bom futebol está, sempre, mais perto do sucesso. Gosto dos riscos que corre, mesmo que às vezes a coisa não corra bem. Gosto da forma genuína como aborda, até, os temas mais sensíveis. Gosto daquela confiança que muitas vezes soa a bazófia - prefiro-a  à falsa modéstia, que é coisa que por aí há com fartura. E gosto do modo como consegue brincar com as suas limitações - admiro pessoas que se conseguem rir de si mesmas.


Tem defeitos? Claro. Como toda a gente. E talvez por isso - e só por isso - não tenha conseguido chegar a patamar que lhe permitisse mostrar que é mais do que um treinador para consumo interno. Por cá ficou, portanto, até que um conjunto de circunstâncias absolutamente impensáveis o levou a emigrar. É pena. Porque Jorge Jesus faz cá falta. Porque com ele o futebol é muito menos enfadonho, dentro e fora de campo. E só por isso espero que volte depressa. Seja em que clube for.

Não sei se Bruno de Carvalho mandou que fossem a Alcochete bater nos jogadores do Sporting. Ou se disse, efetivamente, para lá irem e fazerem o que quisessem. Ou se foi apenas conivente. Também não sei se devia ou não ter chegado ao tribunal algemado à vista de toda a gente. Mas sei que não gosto de julgamentos populares. E gosto de acreditar que a Justiça, e por consequência aqueles que têm a função de aplicá-la, sabem o que estão a fazer, sem se deixarem influenciar por mesquinhos desejos de vendetta que podiam facilmente acabar em humilhação desnecessária, mesmo para quem sempre destratou tudo e todos, indiferente a se tinham família ou não, ou se eram, de facto, culpados ou inocentes daquilo que os acusam. Não sei se Bruno de Carvalho saiu desta situação uma pessoa diferente, como o próprio disse. Mas sei que seria bom, em especial para o próprio, que fosse verdade. Porque acima de tudo está, sempre, o homem. Que merece - como todos - ser julgado em sede própria e por quem sabe do assunto. E não por gente que julga saber muito sem saber quase nada.

Não sei se o Governo vai, ainda, lembrar-se do futebol e incluí-lo também na redução do IVA para os bilhetes dos espetáculos ao vivo, como fez com as touradas. Sei que gosto de futebol. E sei que não gosto de touradas. E sei que todos deviam poder assistir ao vivo, com regularidade, ao espetáculo de que de facto gostam, seja ele qual for. Porque embora o futebol movimente muito dinheiro, alguém se devia lembrar que nem um desses muitos milhões de euros vai para o adepto normal. A esse o futebol só dá despesa. E se comprar bilhete para um jogo fosse um pouco mais barato talvez o adepto normal pudesse fazê-lo mais vezes. Eis uma razão para repensar a coisa. A outra é, ainda, mais simples: permitir que um espetáculo como a tourada seja taxado a 6% e o futebol a 23% é, só, uma forma de discriminação que o futebol não merece.