Uma equipa para a Europa, não para a maledicência interna
1 - Dezasseis pontos conquistados na fase de grupos da Liga dos Campeões em resultado de cinco vitórias e um empate (que bem poderia ter sido outra vitória), uma vitória conquistada no sempre terrível ambiente do estádio do Galatasaray jogando de início com seis jogadores habitualmente suplentes e mais três suplentes entrados depois, o mítico recorde de António Oliveira igualado vinte anos depois, e um baú de dinheiro que tanto jeito dá: este é um FC Porto para a Europa e, mesmo que não vá além dos oitavos (o que vai depender em grande parte da generosidade do sorteio), a SAD do FC Porto bem pode mandar erguer já uma estátua a Sérgio Conceição e ao seu grupo de bravos. E somem-se a isso as 12 vitórias consecutivas, desde a derrota, quase inexplicável, do jogo da Luz, e aí temos um FC Porto de facto muito acima do padrão luso. Muito acima da inveja e da maledicência internas. Já sabem: os cães ladram...
Em Istambul, Sérgio Conceição arriscou o recorde de pontos e os 2,7 milhões em jogo dando oportunidade a vários jogadores habitualmente não utilizados. Vários, provavelmente demasiados. Dos que estiveram em jogo mais tempo, Diogo Leite abriu alguns buracos comprometedores (mas também Felipe e Alex Telles) e Maxi abriu crateras. Mas foram sobretudo Adrián López e Sérgio Oliveira (este apesar do golo marcado, todo ele fruto de uma genial construção entre Marega e Hernâni), quem mais desaproveitou a oportunidade: foram simplesmente inexistentes. Não há milagres. Já Hernâni, sim, esse aproveitou bem a oportunidade, e Marega foi monstruoso a aguentar o ataque, tantas vezes sozinho. Num jogo em que o FC Porto foi bafejado pela sorte, a vitória ficou a dever-se em 80% a Marega e à diferença abissal da eficácia das duas equipas na hora de rematar: enquanto que o Gala perdeu várias oportunidades em frente à baliza, o Porto facturou nos três remates enquadrados, sem que o uruguaio Muslera tivesse feito uma só defesa. Mas também a jogar apenas com cinco titulares, fora de casa e já com tudo garantido, frente a uma equipa que precisava de pontuar, a sorte era precisa. E, apesar da grande tremedeira defensiva (curiosamente, o sector em que Sérgio Conceição menos mexeu), a equipa não jogou nunca à toa nem perdeu o norte. Passado o sufoco inicial, percebeu que podia ganhar e fez por isso, com inteligência e classe. Bravo, Porto, agora vamos dar um saltinho até aos Açores. Treze é número de sorte.
2 - Na jornada anterior, não consegui ver o célebre penalty de Brahimi no Bessa, que tantos viram tão claramente. Nenhuma repetição da jogada me mostrou o tal toque de Brahimi na perna do jogador do Boavista e a única coisa que consegui ver foi este em desequilíbrio a ir em direcção ao jogador do Porto. Se foi ele que tocou em Brahimi ou este que tocou no pé do boavisteiro para o derrubar (e para quê, se ele já ia em queda?), é coisa que, por mais que insistam, não vi. Mas como não quero ser hipócrita, digo que, nesta jornada, vi sim Filipe rasteirar subtilmente Nakajima na área do Porto. Era penalty e possivelmente o 2-0 para o Portimonense, ainda antes dos 20 minutos. Será que o Porto conseguiria dar a volta ao jogo, para mais frente àquela que terá sido a melhor equipe nacional que enfrentámos este ano? Será que conseguiria reproduzir aqueles arrasadores oito minutos da segunda parte que viraram o resultado de 1-1 para 4-1? Ninguém sabe, mas lá que aqui o meu clube foi favorecido naquele lance, foi. Não há como negá-lo, mesmo sabendo de ginjeira que, em idênticas circunstâncias, jamais verei os adeptos dos outros clubes reconhecerem o mesmo.
3 - Pena que aquele histérico benfiquista que segue e comenta ao segundo os jogos do Porto no Twitter - e que, para mal dos meus pecados, tem o mesmo nome que o personagem principal de um romance meu - sempre tão atento aos erros de arbitragem, supostos ou reais em favor do FC Porto, não tenha tido uma palavrinha que fosse sobre o erro de arbitragem que abriu caminho à esforçada vitória do Benfica sobre a reserva do Paços de Ferreira no jogo da Luz para a Taça da Liga. Da mesma maneira que de certeza que ficará calado da próxima vez que o Benfica voltar a ser beneficiado ou o FC Porto prejudicado. Enfim, sinceramente, tenho pena de quem faz disto profissão. E ainda lhe dá o nome de qualquer coisa de «imprensa».
4 - Independentemente dos casos de arbitragem, que sempre existirão - mas que às vezes existem mais para uns lados do que para os outros - confesso que me tenho divertido em grande com as discussões à roda do VAR. Com as intermináveis explicações sobre a interpretação das regras do célebre Protocolo - que parece que estão sempre a mudar e a tal ritmo que ninguém consegue estar actualizado com elas - e com as queixas de que há VAR a mais ou VAR a menos, que o VAR fica calado quando devia falar ou fala quando devia fazer-se de múmia. Ninguém se entende. E eu rio-me. Rio-me, porque desde sempre que adivinhei que aqueles que imaginavam que o VAR, num golpe de magia científica (uma contradição em termos) iria conseguir dissipar de uma vez por todas e quaisquer dúvidas sobre arbitragem, hoje devem estar a viver momentos de angustiante decepção. É que eles, pura e simplesmente, esqueceram-se de uma coisa chamada factor humano. Essa coisa com nome de personagem do Além, espécie de deus acima dos homens, infalível e incorrigível, afinal não é mais do que outro ou outros homens, fechados numa cabine a olhar para um écran de televisão, a verem em imagens o que o árbitro de campo e os juízes de linha viram de perto e ao vivo. E se às vezes as imagens, vistas e repetidas, ajudam a descortinar coisas que escaparam à vista desarmada de quem está no campo, outras vezes, não ajudam nada - e basta assistir às discussões dos programas televisivos para o constatar. Sendo que, ainda por cima, muitas vezes os VAR são árbitros retirados ou que são ou foram bem piores do que aqueles que estão lá em baixo. Acrescentem a tudo isto as confusas e eternamente mutáveis regras do sagrado Protocolo, e está instalada a completa salganhada. Mas lá que o VAR veio dar um jeito tremendo aos tais programas televisivos, disso é que também não há dúvida.
5 - Registei que os presidentes do Vitória de Guimarães e do Sporting de Braga, Júlio Mendes e António Salvador, prestaram-se a servir de testemunhas abonatórias do Benfica no processo dos e-mails. Foram explicar ao tribunal que é comum e absolutamente normal oferecer bilhetes para a tribuna presidencial dos estádios, lugares na garagem VIP, acesso aos jogadores, camisolas autografadas e outras gentilezas do género a adeptos. A todos os adeptos? Não, seguramente que não. Só a alguns adeptos especiais ou a quem o clube pretende compensar por alguns serviços prestados. Gostaria também de saber se terão explicado ao tribunal que é igualmente normal e corrente nos clubes que dirigem ter adeptos desses infiltrados nos tribunais, como oficiais de justiça, quebrando as passwords de magistrados, a fim de terem acesso a processos em investigação e em segredo de justiça envolvendo o respectivo clube, para depois passarem essas informações ao clube que lhes paga com as tais gentilezas. E gostaria de saber que nome dão a isso lá pelo Minho. Não há dúvida: os amigos são para as ocasiões.