Uma claque não serve, de certeza, para insultar
ESTES tipos têm alcunhas como Macaco ou Mustafá (no Benfica não sei, porque o Benfica não tem claques, como todos sabem; aqueles silvos a imitar um very-light que ouço em Alvalade são acessos de loucura coletiva que dão a certos adeptos benfiquistas que estão em certos lugares por trás de uma rede). Têm, no geral, a atitude e o corpo de seguranças de discotecas e usam t-shirts com caveiras e símbolos que andam entre as reminiscências do nazismo e dos nacionalismos mais agressivos. Andam em grupo, em alcateia, melhor se diria, e seguem, no geral, algum que se considera macho-alfa e dá o mote das palavras que gritam.
Os gritos estão longe de serem, principalmente, de incentivo ao seu próprio clube. São muitas vezes insultos a outros clubes, sejam eles os que vão estar em campo nesse dia, seja mesmo contra clubes que nem em campo estão. No Pavilhão João Rocha ouvi um desses grupos (GOA, como agora lhe chamam) insultar benfiquistas num jogo contra o Porto Salvo. Não faz sentido, mas não é o sentido que alguns desses energúmenos buscam.
Ultimamente membros dos tais GOA, ou Grupos Organizados de Adeptos, serviram também, pelo menos no Sporting de que posso falar com conhecimento de causa, para insultar, intimidar e ameaçar sócios do próprio clube. Acham-se mais sportinguistas do que os outros, talvez por gritarem mais ou por, não tendo mais que fazer, passarem a vida nas imediações do estádio. Não falham uma Assembleia Geral, onde têm oportunidade para mostrar por que razão a democracia direta e participativa só funciona entre cavalheiros e se torna perniciosa com arruaceiros. Na última, ao impedirem Sousa Cintra de falar, chegaram ao ponto de inviabilizar uma crítica à Direção que eles próprios detestam (já agora uma palavra de apreço para a reação do vice-presidente João Sampaio a estes incidentes).
Estão presentes nas redes sociais em força - sabe-se lá quantos são, porque não se sabe quantos nomes usa cada um - sempre com avatares e pouca informação. A mim, desde a morte lenta ao rápido assassínio da minha família, já preconizaram de tudo. Gosto especialmente dos que escrevem «tic-tac-tic-tac», imitando um relógio, sem saber que o tempo corre contra eles e que os relógios digitais já não fazem esse barulhinho.
O esplendor da cobardia
NA última AG do Sporting, realizada faz hoje oito dias, já depois das medidas desta Direção, numa das coisas boas que fez, para disciplinar o apoio aos famosos GOA, uma das claques, ou parte dela, mostrou o esplendor da sua cobardia. Como sempre, atuando em conjunto, insultaram de todas as formas a Direção e o presidente do clube.
Quero deixar claro que não fui apoiante de Frederico Varandas, como de nenhum dos candidatos, por via das funções que tinha na Comissão de Fiscalização que antecedeu as eleições. Apenas cumprimentei o presidente duas vezes, em ocasiões formais, e não o conhecendo. Mas, como bem analisou o Conselho Fiscal e Disciplinar, aquele comportamento dá lugar a sanções, de acordo com o Estatuto do nosso clube. Essas sanções foram aprovadas sob proposta do querido líder que alguma dessa rapaziada idolatrava, mais pelo que recebia em troca do que pelos resultados (quase nenhuns) que o tal líder apresentou.
Como alguém escreveu, e me fez chegar, se alguns desses adeptos ou claques se tornam «o sustento de marginais e indigentes, um albergue de cadastrados e de candidatos a cadastrados, um centro comercial de droga, uma ameaça a sócios nos estádios, recintos e assembleias gerais; se usa a violência física ou verbal contra atletas, treinadores, técnicos e outros sócios, se essa violência é gratuita ou patrocinada, se essa violência é espontânea ou instigada, se acha que está acima dos outros sócios, se ataca e desvaloriza o clube e o seu bom nome, se causa prejuízos de milhões de euros ao clube, se faz com que o clube pague centenas de milhar de euros em multas por causa daquilo que destrói por onde passa e pelo que faz, se nem sequer é chefiada por jovens, mas por delinquentes de meia idade que exploram a ingenuidade de jovens desenraizados, se nem sequer apoia o clube, se nem sequer honra a paixão e o amor ao clube de quem a fundou, então não serve».
Como dizem os espanhóis, podia dizê-lo mais alto, mas não mais claro. Palavra por palavra. É uma excelente descrição de alguns dos artistas que por aí andam a desestabilizar o Sporting, o futebol e o desporto em geral. Não pode haver mais contemplações e espero que a mão do Conselheiro Baltazar Pinto e da sua equipa no Conselho Fiscal e Disciplinar seja justa, mas sem contemplações.
Qual democracia?
SÓ tive pena que Frederico Varandas e a Direção não sejam mais pedagógicos, quando uma vez mais, na aprovação das contas se colocou a questão do número de votos vs. o número de votantes. Muita gente, a começar por aquela que pretende atacar esta Direção e derrubá-la lançando o clube numa situação tão delicada como a que há ainda pouco vivemos, entende que cada sócio deveria ter um voto. Mesmo sportinguistas que nada têm a ver com esta guerra e que foram sempre exemplares na sua conduta, defendem o mesmo.
Devo dizer que acho totalmente errado. O facto de os sócios mais antigos terem mais votos é justificado em clubes com as características do Sporting. O sistema um homem (ou uma pessoa, se preferirem) um voto é bom e operativo para as eleições políticas, porque não haveria modo de fazer distinções. Por exemplo: quem paga mais para o Estado teria mais votos? Quem fosse mais velho, mesmo que já não faça contribuições, mas viva daquelas que os mais novos fazem, teria mais poder? Seria tudo bastante bizarro. Além disso, a possibilidade de votar em Portugal (para o Governo e Presidente) exige que se seja português de nascença, ou se passe pelas vias previstas na lei da nacionalidade. Nada a ver com clubes.
Num clube, se toda a gente que entrasse pudesse votar de igual para igual com aqueles que passaram uma vida a ser sócios, não só havia um convite à golpada, como não recompensaria a fidelidade. Mesmo os que, com boa-fé, dizem que só poderiam votar sócios com mais de cinco anos, por exemplo, esquecem que os sócios mais antigos são menos vulneráveis a fantasias mais ou menos populistas (e mesmo assim…) e contribuíram financeira e emocionalmente para o clube ao longo de muitos mais anos.
A ideia da democracia política - o pior de todos os regimes excetuando todos os outros, segundo Churchill - não é transponível para associações, como o não é para empresas, sociedades comerciais e muitas outras atividades que necessitam de um múnus cultural estável. Ou seja, de uma forma de estar e de ser que seja reconhecível por todos os que lá estão. Os clubes têm meios e fins imutáveis. No Sporting, o que atraiu e atrai cada sócio tem de manter-se através também daqueles que contribuem para essa estabilidade. Os mais antigos, os que respeitam a identidade do Sporting Clube de Portugal.
Que passa, por exemplo, por não apertar o pescoço (como Luís Filipe Vieira) a quem diz mal do presidente, algo que está a passar entre os pingos da chuva do debate. Sim, não há só exaltados no Sporting.