Um pedido a Sérgio Conceição
1 Confesso a minha pouca fé para este sábado: acho que o Sporting é o favorito para vencer a Taça. Porque tem uma -para nós, fatal - tendência para nos ganhar as finais, seja no futebol ou no hóquei em patins, como ainda recentemente se viu (embora a final tenha sido em Alvalade). Temo, assim, ver mais do mesmo: o Porto a fazer as despesas do jogo, ao ataque, a correr riscos, e o Sporting lá atrás, defendendo com eficácia e frieza, espreitando uma oportunidade de contragolpe ou (pesadelo absoluto) o desempate por penáltis. Sábado passado tivemos uma amostra disso quando o Sporting, ao fim de mais de uma hora sem fazer um remate à baliza e defendendo-se, superiormente comandado por Mathieu, marcou no primeiro remate efectuado. Acima de tudo, o que eu e todos os portistas não queremos é que a equipa se deixe levar pela tentação ou a acomodação de consentir que o jogo vá para penáltis. Aí, já sabemos que é morte certa: o nosso guarda-redes não vai defender mais de um penálti e os nossos cobradores vão falhar uns três. Mas há outro ponto que pode ser decisivo e que justifica o pedido que faço a Sérgio Conceição, que é a questão do guarda-redes. Sem Casillas, o nº 2 do FC Porto é Vaná e não Fabiano. Não que Vaná dê grandes garantias, porque não dá, mas sempre dá mais do que Fabiano, que é um erro de casting desde o início, sem quaisquer melhoras ao longo do tempo. Acontece, porém, que Fabiano foi o guarda-redes de todos os jogos anteriores desta edição da Taça e sabemos que existe essa tradição - sem justificação lógica, diga-se - de ser ele assim também o titular na final. Ora, o meu pedido é que Sérgio Conceição mande essa tradição às malvas e, por mais respeito que tenha pelos interesses de Fabiano, tenha mais pelos do clube e dos seus adeptos, como deve ser. É que já estamos escaldados com estas gentilezas. Há dois anos, fiz aqui idêntico apelo a Nuno Espírito Santo, para que na final da Taça com o Braga mantivesse a titularidade com Casillas e não com Helton, o guarda-redes da Taça. Ele assim não entendeu e o que aconteceu foi que Helton, com duas ofertas inqualificáveis e típicas, deu a Taça ao Braga, assim fazendo os adeptos portistas terem de se conformar com uma quarta época consecutiva sem ganhar um único troféu. Anos antes, poucos dias antes da final de Gelsenkirchen, Mourinho tinha feito o mesmo, confiando a baliza na final da Taça ao próprio Nuno Espírito Santo, que, é claro, cavou a nossa derrota. Eu, pessoalmente, já estou farto deste filme e por isso repito: o clube e os adeptos têm mais direitos do que um jogador, seja ele qual for. Se é para ganhar, que joguem os melhores.
2 Não percebi porque foi expulso Corona (e Acuña não). Não esperava que Frederico Varandas viesse pressionar antecipadamente a arbitragem da final. Não sei o que ganha o Sporting em criar logo um clima de confronto para a final. Mas que o criou, é um facto.
3 Já escrevi várias vezes que simpatizo com Bruno Lage, com a sua postura, o seu discurso e a sua ausência de vedetismo. Achei engraçada a sua homilia político-filosófica sobre futebol e desportivismo, mas não é razão para correrem a falar de «novo paradigma» ou «atitude revolucionária». Como dizem os espanhóis, é a ver. É fácil mostrar fair play quando se ganha, difícil é mostrá-lo quando se perde. Assim como é fácil dizer que não se fala de arbitragens quando só se tem razões para lhes estar grato e nenhumas para se queixar...
4 Por falar em arbitragens, só mais uma reflexão de final de campeonato: foi com um sorriso irónico de orelha a orelha, que vi os mesmos, os mesmíssimos comentadores e jornalistas que passaram a primeira metade do campeonato a gritar que o FC Porto estava a ser beneficiado pelas arbitragens, a passarem depois a segunda metade a criticarem o FC Porto quando este passou a queixar-se do benefício do Benfica. Se soubessem há quanto tempo, há quantos anos sem fim, estamos, os portistas, habituados a esta duplicidade de critérios, compreenderiam a ironia de que falo.
5 Disse Pizzi que na segunda parte dos jogos parecia que o Benfica ia sempre um passo à frente dos adversários. Concordo inteiramente, é um dos mistérios da prestação benfiquista nos últimos 20 jogos. Partidas houve em que o Benfica parecia entrar já cansado, sempre vários passos atrás dos adversários, e depois, subitamente, explodia a meio das segundas partes e partia para aquelas cavalgadas de golos que o fizeram chegar ao score final pornográfico de 103 golos.
6 Nos 19 jogos em que Bruno Lage pegou no comando do Benfica para disputar os últimos 57 pontos do campeonato, o FC Porto perdeu 11 desses pontos, tendo ganho 46. Insisto que me parece uma prestação mais do que razoável e sobretudo se a compararmos com a das outras equipas que também disputaram a Champions até aos quartos, excepção feita ao Manchester City e ao Liverpool, em Inglaterra. E mais do que razoável para quem tinha uma margem de segurança de 7 pontos de avanço. O que não era de todo normal nem expectável era que Bruno Lage tivesse ganho 55 desses 57 pontos, em resultado de 18 vitórias e 1 empate. Quando ele diz que para o ano o Benfica voltará ainda mais forte, eu temo pelo interesse do campeonato: será que o Benfica vai ceder apenas 2 empates em toda a época?
7 Mas, por mais voltas que se dê ao texto, o futebol irá sempre depender de pormenores sem controle. No jogo do título, no Dragão, o pormaior é que o Benfica soube ganhá-lo e o FC Porto não soube, ao menos, empatá-lo. Mas com 1-2 no resultado, se uma bola que bate na barra de Vlachodimos tem entrado um palmo abaixo, hoje estaríamos a falar de outro campeão. Um pormenor de um jogo decisivo.
8 Só de muito má-fé alguém poderia associar o Benfica ao facto de a casa do árbitro Jorge Sousa, escalado para o jogo da Luz, ter aparecido pintada com os dizeres «Benfica ou morte, 1904». Mas é preciso ainda mais má-fé para que o Benfica se tenha apressado a comunicar que o autor ou autores da proeza só podiam ser...adeptos portistas! E que, a propósito, tenha vindo, pela enésima vez, recordar um episódio semelhante em que dois presumíveis adeptos portistas terão insultado e ameaçado um árbitro à saída de um treino - episódio que a propaganda benfiquista fez passar à história como «a invasão de um centro de treinos de árbitros por uma claque portista». Como se sabe, no Benfica tais coisas não sucedem, não só porque não tem claques, como porque os seus adeptos são todos muito civilizados, conforme esclareceram em comunicado. Respondeu-lhes muito bem Francisco J. Marques, recordando que, em 2102, sete adeptos benfiquistas foram condenados em tribunal por ameaças ao árbitro... Jorge Sousa. Que bela ocasião perdida para estarem caladinhos!
9 A APAF (e o Benfica, claro) querem o FC Porto condenado por causa da tarja erguida pelos Super Dragões contra os árbitros. Ironia máxima, o Benfica quer o Dragão interditado, o que só dá vontade de rir, vindo de quem já tem uma meia dúzia de interdições do estádio suspensas à espera de melhor oportunidade de decisão da justiça desportiva. Neste caso, porém, para além da dificuldade em responsabilizar o clube pelas faixas que os adeptos exibem, não sei em que disposição constitucional pretende a APAF sustentar aquilo que, para todos os efeitos, não é mais do que uma tentativa de silenciamento da liberdade de expressão. Se tratassem de livrar-nos de alguns exemplares da arbitragem que por aí andam, isso sim, era melhor serviço prestado a todos.