Um festeja, outro tenta passar despercebido e o terceiro está em eutanásia

OPINIÃO29.05.201801:54

1 - Pelo que vou lendo, o Benfica compra um novo jogador a cada três dias que passam e lança a vista sobre outro todos os dias. São quase todos sul-americanos e predominantemente argentinos, o seu novo território de eleição - onde, então se propõe levar a cabo o tal projecto de recrutamento a que há tempos Luís Filipe Vieira chamava «a espinha dorsal da Selecção». Dos 23 que Fernando Santos agora chamou para a Rússia, porém, está lá apenas um, Rúben Dias, e esse, salvo melhor opinião, está justamente para representar o Benfica, porque é representado por Jorge Mendes e porque beneficiou de uma intensa campanha de imprensa a seu favor para ir à Rússia. Pode ser que daqui a uns tempos se faça um bom central, mas por ora tudo o que lhe vi foi um jogo de cotovelos ao nível do Sérgio Ramos, mas sem a qualidade futebolística do Sérgio Ramos. A anos-luz, aliás.

2 - Como portista, também não fico mais contente. Íamos ter na Rússia o Danilo, mas a sua lesão impediu-o; íamos ter o Ricardo Pereira, mas entretanto vendemo-lo. Assim, não vamos ter ninguém. Porém, ao contrário do Benfica, a contenção nas compras, de que com tão bons resultados dêmos mostras na época passada, está a manter-se nesta, por enquanto. Renovou-se o contrato com o Sérgio Conceição, que era o principal, e renovou-se também com Casillas: são duas aquisições feitas em casa. E vendeu-se: todos os emprestados, como Boly e Indi, que tinha cláusula de compra facultativa, e Ricardo, bem vendido, até porque assim que se percebeu que podia sair, deixou logo de se aplicar como até então. Como quem não quer a coisa, o FC Porto já terá facturado próximo dos 50 milhões em vendas de activos não essenciais, o que é excelente. Infelizmente, não vai ser possível segurar Marcano e temo muito que, por absoluta incúria passada, o mesmo venha a suceder com Diogo Dalot. Se a este juntarmos a provável saída de Miguel Layún e a tentação de vender o fabuloso Alex Telles, ficamos subitamente dizimados de laterais. E vai haver ainda o assédio a Marega.

3 - Sérgio Conceição manifestou o desejo de fazer tal como no ano passado: chamar a estágio todos os emprestados e vê-los em acção, antes de os dispensar. É uma boa, séria e justa atitude. Entre eles, estão jogadores que, pelo pouco que vi deles na altura, me pareceram merecer uma oportunidade, casos de Chidozie e Mikel. Creio que dali, e antes de ir ao mercado, ele encontrará melhores e mais baratas soluções. Vai seguir-se o doloroso jogo das dispensas, uma responsabilidade que nenhum treinador se pode eximir. Se fosse eu a decidir, era assim. Os cinco jogadores que julgo mais importantes na conquista do título foram, por ordem decrescente: Marcano, Alex Telles, Marega, Felipe e Brahimi. Os cinco primeiros  que eu dispensaria, de trás para a frente: José Sá, Fabiano, Maxi Pereira, André, Paulinho e Gonçalo Paciência.

4 - Frederico Varandas tem, logo à partida, uma vantagem que muita falta tem feito ao Sporting: cara de gente séria. Serviu o clube e seguramente que continuaria a servi-lo como Presidente com a mesma dedicação e uma dignidade a que os sportinguistas há muito não estão habituados. Digo isto apenas por intuição, sem o conhecer de lado algum, mas também sabendo que há gente que prefere seguir os demagogos e caminhar com eles para o abismo. Como já se percebeu, dificilmente o Sporting vai ter Assembleia Geral alguma a 23 de Junho, quanto mais não seja porque Bruno de Carvalho não quer e é ele que tem de fornecer os meios financeiros e logísticos para a sua realização. E como também já se percebeu sobejamente, ele jamais sairá do Sporting pelo seu pé pois não teria para onde ir. Quem lhe daria emprego e para fazer o quê - para ficar a falar de si mesmo horas a fio ou redigir longos textos sobre si próprio no facebook? Aquilo a que ele e algumas almas ingénuas chamam a «reestruturação financeira» do Sporting -isto é, o perdão de dívidas face à alternativa do calote, puro e simples - prosseguirá face a credores sem garantias. Mas quando for preciso, e vai ser brevemente, novos créditos apenas para manter o barco a flutuar, aí é que o naufrágio se tornará inevitável, mostrando como, ao contrário do que ele diz, cada dia que passa com ele desesperadamente agarrado ao poder como uma lapa só conduzirá a um poço sem fundo. Não é nada que me diga respeito ou que me incomode por aí além, a não ser do ponto de vista sociológico, mas é incrível pensar como é que tão fraco e previsível personagem conseguiu armadilhar o Sporting a este ponto!

5 - Dezenas de envelopes contendo um total de 60 mil euros em cash apreendidos em Alvalade  no gabinete do chefe, no âmbito da ‘Operação Cash-Ball’, se não eram para comprar pacotinhos de droga, seriam para quê?

6 - A máquina de ganhar títulos de campeão europeu que é o Real Madrid lá conseguiu conquistar o 13.º da sua história, quarto nos últimos cinco anos. Não foi um grande jogo e o Real esteve longe, bem longe, de ser a melhor equipa europeia da época - o 3.º lugar no campeonato espanhol e os 17 pontos de distância do campeão Barcelona chegam para o atestar. A meu ver, o jogo foi decidido por Sérgio Ramos, quando ao minuto 29 arrumou Mohamed Salah, o prodígio egípcio e grande esperança do Liverpool. Não, não me venham dizer que não houve maldade no lance: de qualquer outro jogador, eu ainda podia acreditar, de Sérgio Ramos, não. Ao nível do grande futebol, ele é o mais sarrafeiro e o mais anti-desportivo dos jogadores, há anos sem fim. Aquela jogada, a maneira como ele continuou a agarrar o braço de Salah e caiu com ele enrolado no chão sempre a agarrar-lhe o braço, é feita para o aleijar. E, de facto, tira-o do jogo - até aí dominado pelo Liverpool. Depois, foram os dois incríveis frangos do guarda-redes alemão dos ingleses e o golaço de Bale. Uma vitória sem grande história nem grande brilho do Real. Apagado em todo o jogo (acontece aos melhores!), Cristiano Ronaldo resolveu trazer mais história ao jogo. com aquelas infelicíssimas declarações sobre a sua iminente saída do Real - mais uma vez e mais uma vez no pior momento, quando o clube, os companheiros e os adeptos festejavam a vitória e ele resolveu dar a ideia de estar a pensar sim no contrato. Ouvidos pela RTP, na Cibelles, em Madrid, os adeptos do Real, mostravam-se conformados: «Ele é assim, já estamos habituados!». Pior, porque mais realista foi a frase de um companheiro de equipa: “Quer sair? E para onde iria ele?”. Ronaldo  há muito que já fez o suficiente para, como escreveu Camões, se ir da lei da morte libertando. Mas nem ele consegue ir da lei da vida libertando-se. Messi tem menos dois anos e continua fabuloso, acaba de ganhar os títulos de melhor marcador do campeonato espanhol e a Bola de Ouro, de melhor marcador europeu; e Neymar tem menos dez anos. É a lei da vida.