Um Benfica (in)explicável

OPINIÃO15.06.202004:00

Sigam-me! Um. Uma equipa é exponencialmente melhor quanto melhores os jogadores. Dois. Nenhum treinador que recupera sete pontos em modo rolo-compressor pode ser mau. Três. Há técnicos-gestores, que delegam as decisões aos atletas (Ancelotti, Zidane, Rui Vitória); os que idealizam processos que potenciam as individualidades (Wenger, Pochettino); os meticulosos e obcecados com o detalhe (Klopp, Jesus, Mourinho, Conte); e, por fim, os experimentalistas (Guardiola, Tuchel). Agora, ouçam! «São os jogadores que tomam as decisões, o meu trabalho é que, nesse momento, a equipa esteja posicionada para oferecer-lhes várias soluções.» Palavras de Lage.

O processo-Lage é dependente das figuras que pretende potenciar. Tal não seria mau se os expoentes Pizzi e Rafa fossem regulares - durante a época e até durante os jogos - ou não se mostrassem sobretudo de consumo interno - o que explica o fraco rendimento na Champions -, mas não é o que acontece. Os dois só são referências a este nível porque há muito que o Benfica desinveste, algo pelo qual só Luís Filipe Vieira pode responder. Porque melhores jogadores definem melhor, o pouco criado provavelmente teria valido o título, mesmo com Lage.

Estrategicamente, o técnico sabe o que fazer. Os overlappings interiores de Almeida em Portimão não foram acidentais, tal como não o foi o ataque de Rafa ao espaço entre central e lateral. Contudo, nem sempre tem ajudado. Depois de ser um upgrade em relação a Vitória no modelo mais trabalhado e até a Jesus pelo maior equilíbrio posicional, foi incapaz de, por exemplo, fugir à regressão que significa ter três pontas-de- lança em simultâneo. Ou de tentar coisas novas.

Já o FC Porto assenta mais no processo, cru e direto, e vence pelo desgaste e pelo cansaço. Com tanta ajuda, a maior formatação será suficiente para a festa.