Tudo nas mãos de Vitória
Como as coisas andam, francamente mal, é preciso reconhecê-lo, a ambição da família benfiquista não irá além da esperança num bom resultado em Munique, logo à noite, que pode ser a repetição do que aconteceu há dois anos (derrota tangencial) ou, no limite do imaginável, um empate. Mais do que isto, e sem poder contar com Salvio, não me parece possível atingir. Por outro lado, convém analisar a classificação do grupo: para o Benfica entrar nos oitavos de final da Liga dos Campeões, além de estar obrigado a somar seis pontos nos dois jogos que lhe faltam disputar, precisa ainda que o Ajax derrote o Bayern - mas, para isso, necessita de ganhar hoje por três golos de diferença - ou que os holandeses nas duas jornadas que faltam realizar somem apenas um ponto.
Não é nada fácil, de aí que Rui Vitória, com a sua incurável falta de jeito para comunicar, em vez de apregoar mais uma daquelas banalidades de matematicamente ser possível ou de recusar baixar os braços quando empatou com o Ajax na Luz, devia ter afirmado, logo, que a Champions ficou muito complicada e que assumia a candidatura a conquistar a Liga Europa.
Os benfiquistas teriam gostado, mas enquanto o treinador não perceber que o futebol é um pouco como a política, em que se promete o que em consciência se pensa ser alcançável e cumpre-se o que as conjunturas permitirem, vai ter dificuldade em reaproximar-se do povo.
Se Rui Vitória chegar ao final desta temporada e nenhum triunfo apresentar é normal que os adeptos fiquem desiludidos, zangados, desejosos de o ver pelas costas e, mesmo assim, antevendo o pior dos cenários, em idêntico espaço temporal, continuará a apresentar melhor registo que o seu antecessor, entretanto anunciado como presumível sucessor. O futebol vive de momentos e as pessoas, regra geral de fraca memória, reagem por impulsos.
Fixemo-nos, então, em factos, nos títulos de cada um:
Jesus ‘vs.’ Vitória
1.ª época
Jesus - Campeonato e Taça da Liga
Vitória - Campeonato e Taça da Liga
2.ª época
Jesus - Taça da Liga
Vitória - Campeonato, Taça de Portugal e Supertaça
3.ª época
Jesus - Taça da Liga
Vitória - Supertaça
4.ª época
Jesus - Zero
Vitória - Possibilidade de vencer Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Champions/Liga Europa
Em conclusão, comparando três épocas concluídas o desfecho é este: Vitória - seis títulos (dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e duas Supertaças); Jesus - quatro títulos (um campeonato e três Taças da Liga).
Não é simpático para Vitória ver-se confrontado com uma situação agreste que ele ajudou a erguer, por maus resultados e, sobretudo, por péssimas exibições da equipa. E se há um ano o penta voou em consequência do propalado desinvestimento do presidente (e Vitória, ao calar-se, validou essa linha de raciocínio, do meu ponto de vista injustamente), agora dispõe de plantel que chega e sobra para arrebanhar as provas que tem pela frente.
Se é capaz ou não se verá, mas se acreditar em fantasmas garantidamente vai falhar. Está tudo nas suas mãos. O resto é conversa fiada que deve divertir Vieira, imune a recados e que decide o que tiver de decidir quando entender e como entender.
Apartir de um determinado patamar, todos os treinadores têm qualidade e revelam a necessária competência para a função, sendo certo que a diferença ente eles não se faz pelas bazófias que debitam mas pelos títulos que ganham. Em razão disso, aprecie-se ou não o estilo, a personalidade, a filosofia, a oratória, o que se quiser, José Mourinho talvez não seja o melhor de todos, mas é, irrecusavelmente, muito especial. Na exata medida em que domina, como ninguém , no jogo da palavra e triunfa, como poucos, no jogo da bola.
Luís Filipe Viera não desiste do sonho europeu e o administrador Domingo Soares Oliveira foi mais explícito ao declarar que dentro de 15 anos o Benfica será um dos dez melhores clubes europeus.
A aposta está traçada. Para os jogos da freguesia descobre-se um génio do treino em cada esquina do bairro. Quando se fala em relançar esse projeto europeu precisa-se de um treinador com as unhas que o antecessor não teve e o atual ainda não provou ter.
Para se trilhar o caminho do sucesso, na perspetiva de uma instituição que pretende sublinhar a sua dimensão universal, a próxima mudança na orientação técnica, quando chegar a altura de a fazer, terá de responder, pois, às questões que o futuro coloca. Como Mourinho é inacessível, cabe a Vitória mostrar que está à altura da empreitada. Não lhe sobra muito tempo, mas ainda tem algum, o suficiente.
Montalegre - O clube da região de Barroso vai ser o representante dos fracos nos oitavos de final da Taça de Portugal frente a Paços de Ferreira e Leixões (ambos da Liga 2) e a 13 emblemas da Liga. Prémio merecido para o treinador José Manuel Viage e seus jogadores. Receber um dos grandes é o que todos querem para a festa acabar em beleza.
A campeã olímpica de futsal, Carina Dias, também é de Barroso, tal como Acácio da Silva, o ciclista que foi camisola amarela na Volta a França, camisola rosa na Volta a Itália, campeão nacional de estrada e chegou ao oitavo lugar no ranking mundial. Além das bruxas e das chegas de bois, Montalegre é terra de desportistas famosos.