Três lições numa semana

OPINIÃO02.11.202003:00

Não sei se este é o momento mais difícil de Sérgio Conceição enquanto treinador do FC Porto. Sei que Conceição já passou por muitos momentos complicados no Dragão e sempre arranjou maneira de lhes dar a volta. Mais: sempre encontrou, até, forma de usar os momentos mais complicados para ganhar, ele próprio, força numa estrutura que, como todas as estruturas, não será tão unida como parece nos bons momentos e que, como todas as estruturas, mostra as suas divisões quando as coisas não correm como esperado. E, ao mesmo tempo, sempre conseguiu Conceição, nos piores momentos - e repito, já teve muitos como treinador do FC Porto - unir o balneário em torno de um objetivo que assumem, treinador e jogadores, como só seu. Eles contra tudo e todos, mesmo contra os maus que existem dentro de casa. Não me parece, pois, que o treinador esteja muito chateado com o desabafo de Marega depois das críticas do líder dos Super Dragões à derrota em Paços de Ferreira. Pelo contrário. Sabemos, por exemplos passados, que se calhar Conceição, mesmo que não o assuma, até promove este tipo de reações. Aos mais desatentos poderá parecer que, com falta de dinheiro e de resultados, o dragão está dividido. Mas todos sabemos que, ali, as coisas poucas vezes são o que parecem. E o mais provável é que no balneário, onde efetivamente se ganham campeonatos, o FC Porto saia ainda mais unido deste momento especialmente conturbado. Não seria a primeira vez. É, portanto, bom que os adversários não menosprezem um grupo que já deu provas mais do que suficientes de que não se rende.

Luís Filipe Vieira venceu as eleições mais concorridas da história do Benfica. Ganhou em todas as frentes, é um facto. E, como se costuma dizer, contra factos não há argumentos. Não foi, também é verdade, o único que ganhou naquela quarta-feira histórica para o clube da Luz. João Noronha Lopes, com mais de 30 por cento dos votos, não deve assumir (como não assumiu) o resultado como uma derrota. Afinal, nunca ninguém como ele tinha feito frente ao presidente encarnado, obrigando-o, até, a sair do escudo com que sempre se protegeu e a dar o peito às balas num conjunto de entrevistas que, provavelmente, não estavam nas contas quando a campanha arrancou. Vieira ganhou e ganhou bem, merecendo a confiança dos benfiquistas que, indiferentes aos processos judiciais nos quais Vieira está envolvido (a presunção de inocência ainda conta para alguma coisa, afinal), lhe mostraram gratidão por aquilo em que transformou o Benfica, realidade inegável e assumida, até, pelos seus adversários. Ainda assim, passar de percentagens próximas ou superiores a 90 por cento para percentagens abaixo dos 65 por cento deve servir para Vieira perceber que o Benfica não é seu. Nem ele é o Benfica. Já houve outros que confundiram as duas coisas e deram-se mal. Se os resultados das eleições de quarta-feira serviram para que Vieira aprendesse essa lição, então o grande vencedor desse dia será, inquestionavelmente, o Benfica.

Nuno Almeida e André Narciso prestaram, na última sexta-feira à noite, um péssimo serviço ao futebol português. Bem sei que, nesta alturas, a tentação é, sempre, colocar as lentes vermelhas, azuis ou verdes e analisar o trabalho dos árbitros consoante aquilo que mais interessa a cada clube. Mas neste caso concreto, a atuação de árbitro e VAR do jogo entre Paços de Ferreira e FC Porto, em especial naquela incompreensível primeira parte, foi tão vergonhosa que não é sequer uma questão de terem prejudicado os pacenses e beneficiado o dragão. Tudo se resume a uma questão bem mais profunda: ambos prejudicaram, e muito, a arbitragem portuguesa. Que é bem mais grave.