Três anos
Terminei a carreira há três anos e, desde então, confesso com alguma surpresa, muita coisa mudou na minha vida. A incerteza sobre o futuro próximo deu lugar ao aparecimento de novos desafios. A angústia de deixar uma carreira estável e emocionante deu lugar a outras metas, a renovados objetivos. A coisas novas. Pessoalmente, concretizei o sonho de uma vida: escrever um livro. Aproveitei a maré e lancei um site. Pelo meio, criei algumas páginas nas redes sociais, hoje seguidas - confesso, com alguma vaidade e orgulho - por mais de 120 mil pessoas. O objetivo? Aproveitar cada canal, cada plataforma, cada hipótese de chegar ao adepto para levá-lo a entender antes de criticar, a perceber antes de condenar. A saber antes de crucificar.
Tive o prazer de ser coautor de várias obras dedicadas ao futebol, aos seus intérpretes e, sobretudo, à defesa dos bons valores no desporto. Tive também a honra de ser convidado pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto para ser Embaixador da Ética Desportiva, missão que abraço com entusiasmo e que me inspira, diariamente, a lutar por causas moralmente válidas. Procuro aceitar os amáveis convites que me dirigem para estar presente/participar em congressos e palestras, tertúlias e colóquios, núcleos e formações de arbitragem. Vou a clubes e coletividades, escolas e universidades, aqui e ali, além e acolá. Já lá vão mais de cem, faltam muitas mais ainda... Tento apoiar o maior número possível de ações de solidariedade, particularmente as que me tocam, as que sinto merecerem ampla divulgação. No entanto, sinto que posso e devo fazer muito mais nessa área. Muito mais mesmo.
Sou crítico feroz de qualquer tipo de violência no desporto, em particular da mais evidente e frequente: a cometida sobre árbitros distritais de futebol/futsal. Nos últimos dois anos, mais de cem foram alvo de agressões físicas. Uma atrocidade. Por isso tenho feito e vou continuar a fazer muito barulho, porque acredito que água mole em pedra dura tanto bate... até que fura. Não há outro caminho quando só há um caminho.
Profissionalmente e para além deste jornal, colaboro noutros dois órgãos de comunicação social. O programa Ó Sr. Árbitro, um dos projetos que mais me entusiasmou, mostrou ao povo o melhor do futebol e da arbitragem regional, de norte a sul do País. Experiência memorável, em 16 episódios inesquecíveis. O Dia Seguinte continua a ser o mais difícil de todos os desafios: tentar ser a voz do equilíbrio, da sensatez e da coerência num formato extremamente exigente, onde a subjetividade e a paixão são tantas vezes mais fortes do que a certeza e a razão.
No meio de um longa lista de afazeres (confesso que não sei parar), há sempre espaço para aprender, para crescer e para tentar fazer ainda mais e melhor. Com humildade genuína e forte sentido autocrítico. Há, sobretudo, espaço para respeitar a opinião de quem continua a achar que este velho malandro - o tal que marcou o penálti do Jardel, em dezembro de 2001 - só vê faltas e cartões para um lado, só prejudica a arbitragem e só dá cabo dos próprios árbitros. Não podemos agradar a todas as pessoas, mesmo compreendendo, nalguns casos bem definidos, o que verdadeiramente as move.
Venham mais três anos. E depois desses, outros tantos. Há muito por fazer, porque o futebol é, na verdade, mais do que a discussão de uns quantos lances manhosos...