Treinador 'à condição' e VAR 'na condição'

OPINIÃO04.12.201803:00

1Começo pelo fim. Um importante meio de assegurar a verdade desportiva, continua a sua rota de descredibilização. Refiro-me ao VAR, ou melhor a certos VAR que por aí andam. Afinal o que deveria ser o mais objectivo possível acaba por ser o mais adequadamente subjectivo. Decisões sobre penáltis que ninguém viu nem reclamou (vide o que deu a vitória ao Sporting contra o Chaves) ou que existiram e que os instrumentos ao dispor do VAR permitiriam ajudar o árbitro de campo a tomar a decisão acertada (vide o que um jogador do Braga fez sobre um jogador do Rio Ave, ou o cometido por Brahimi no jogo do Bessa) só são alteradas pelo VAR se houver - passe o pleonasmo - certeza absoluta. Perante isto, basta ‘ter’ 1% de não certeza (!) para inclinar uma decisão qualquer a favor ou contra. É o que, infelizmente, começa a fazer doutrina. Pergunto se a decisão seria a mesma, caso os lances citados fossem a favor da equipa contrária? E a propósito: os VAR são classificados? Fábio Veríssimo, cada vez mais varíssimo, e Tiago Martins, cada vez mais aziago, são o paradigma do VAR-artista, aliás, em conformidade com a sua imponente incompetência nos relvados.

2No futebol está-se sempre a inovar. Desta feita, no Benfica, foi inventada uma nova forma de chicotada psicológica. Num ápice, mudança de treinador. Só que o treinador demitido e o treinador admitido são o mesmo treinador: Rui Vitória. É o que se pode chamar uma auto-chicotada psicológica. Daí que, no seu discurso de reinvestidura (leia-se conferência de imprensa), o treinador tivesse tido um discurso de rentrée.
Assim, o novo ex-treinador se apresentou na Luz, depois da luz que, overnight, o presidente viu e seguiu, qual Rei Mago em tempo de advento natalício ao encontro de Jesus (o menino, naturalmente). Aconteceu que não havia outro, nem nas areias da Arábia, nem sequer no presépio do Seixal.
Reconheço que a situação criada é difícil de enfrentar. Mas, não me sinto sossegado com a solução, que não sei se devo classificar como definitivamente provisória ou provisoriamente definitiva.
Certo ou errado, para quem vê de fora estes momentos fica a sensação de um TINA, o conhecido acrónimo do inglês ‘There Is No Alternative’, como é conhecida, entre outras, a receita de austeridade-tipo do FMI. O repristinado técnico do Benfica ficou numa posição muito periclitante: mais seguro na proclamação, mais inseguro na realidade. Ou seja, utilizando aquele termo gramaticalmente indigente que tantos gostam de usar, temos um Rui Vitória à condição. Só ainda não sabemos qual a condição determinante, ainda que eu tenha o meu palpite que aqui não revelo.
Como benfiquista, lamento que a inexpugnabilidade da ‘estrutura’ tenha soçobrado e que tenha passado para o exterior uma (quase) tomada de decisão por uns poucos dirigentes. Como os jornalistas não adivinham, só posso tirar uma conclusão, tal é a de que houve mensageiro para o exterior, não sei em nome de que intuito, mas jamais em favor de qualquer nobre valor benfiquista!
Luis Filipe Vieira foi assim obrigado - com louvável transparência e não entrando nas habituais mentirolas ou disfarces muito comuns no futebol português - a reconhecer uma decisão que afinal não era definitiva, a enfraquecer o seu próprio campo de manobra como presidente e a vulnerabilizar o técnico. Perplexo fiquei com a perplexidade do director do futebol, quando às sete e meia da manhã, Vieira o informou da decisão de manter Vitória. Tudo muito confuso, permeável e permutável…

3O certo é que a chicotada psicológica vingou, se olharmos para o resultado diante do Feirense, constituindo até a vitória mais folgada esta época no Estádio da Luz e construída nos segundos 45 minutos. Mas atenção, não nos iludamos. Na primeira parte, vimos mais do mesmo: futebol lento e pastoso, ausência de jogo vertical, movimentos que não resistiam a mais do que dois ou três passes. E o que nos valeu? Dizem os sábios - numa lógica que é sempre resultadista, ou seja, o comentário é sempre função do desfecho da partida - que a ‘mensagem’ do treinador ao intervalo foi decisiva. Oxalá assim tenha sido, mas cá para mim, o que foi determinante foi o golaço de Jonas que desbloqueou mental e psicologicamente a equipa. Depois, sim, jogou-se melhor, com também o melhor Rafa, e os golos surgiram com naturalidade. Um ponto mantém-se igual: o da bipolaridade da equipa que alterna, durante os noventa minutos, jogo fluido com jogo parado, entusiasmo com apatia, vontade com descrença, eficácia com incapacidade.
Nesta fase, porém, reconheço que o fundamental é ganhar. O remédio para uma crise é voltar à normalidade de vencer os jogos e contrariar as estatísticas agoirentas que enxameiam os jornais e as televisões.
Desta feita, o esquecido Zivkovic foi titular. Cervi saiu. João Félix deixou de jogar. Krovinovic ganha ritmo com três minutos em campo, quando já se estava há mais tempo a ganhar folgadamente. Samaris, esse, está proscrito (antes ‘tapado’ pelo genial Filipe Augusto (!), este ano atrás de Alfa Semedo…). Haverá certamente razões para tudo isto, mas custa-me a perceber como é que, de supetão, jogadores titulares passam para fora e vice-versa, sem se saber bem porquê.
Ainda outra questão: no defeso, o Benfica contratou, entre outros, alguns atletas com nome feito, ou esperançosos, encabeçados por Ferreyra e continuados com Castillo, Conti, Lema, Gabriel e, evidentemente, Vlachodimos. Se exceptuarmos o guarda-redes (excelente), constatamos o até agora fracasso de todos os outros. De quem é a responsabilidade? Do presidente? Da estrutura do futebol? Do treinador? Dos próprios jogadores? Quanto à defesa, Conti tem cara de aterrorizado quando as câmaras o focam, Lema é um mistério (ainda que me pareça melhor que Conti), e substitutos para as laterais é coisa para esquecer.
Um aspecto, porém, me deixou muito satisfeito no jogo contra o Feirense. Refiro-me ao modo genuinamente feliz e solidário como os jogadores festejaram os golos diante dos adeptos. Sentiu-se ali a libertação de energias subjugadas pelos últimos resultados (e exibições), percebeu-se também que o balneário tem preservado a unidade e a cumplicidade necessárias num plantel. Este ponto alimenta a minha esperança de que tudo continua a ser possível na senda de uma época de reconquista.
4Coincidência ou talvez não, jogar contra o Benfica está a ser demasiadas vezes um poderoso vitamínico ou elixir para os oponentes. Senão vejamos: o Belenenses que está a fazer um excelente campeonato a jogar fora de casa, ainda não tinha vencido no ‘seu campo’ (Jamor). Logo se estreou a ganhar lá, na partida contra o Benfica. O Moreirense ainda não vencera fora, logo teve a sua primeira vez na Luz. O lanterna vermelha, D. Chaves, nunca mais repetiu a exibição de luxo que fez contra o… Benfica. O velhinho Arjen Robben, que este ano ainda não tinha marcado um golo na Champions e que, aliás, já não facturava há … 14 jogos, marcou contra o Benfica (e logo dois)! O Renato Sanches que ainda não se estreara a brilhar e a chutar golo, brilhou e marcou ao seu antigo clube. O treinador croata do Bayern que estava na corda bamba e que empatara os 3 últimos jogos em Munique, foi reabilitado depois da farta vitória sobre o SLB.