Toni: autoridade, honestidade e lucidez
Toni concedeu uma notável entrevista a A BOLA, onde descodificou o futebol do Benfica. Com um saber imenso, feito de mais de cinco décadas ao mais alto nível, o antigo treinador do encarnados, campeão, como técnico, em 1988/1989 e 1993/1994, finalista da Champions em 1987/1988, e vencedor, como jogador, de oito edições do Campeonato Nacional da I Divisão, não tem, aos 74 anos, qualquer agenda escondida, e aquilo que transmite é o que resulta da experiência acumulada, a que deve associar-se uma preocupação pelo futuro do Benfica, clube que o marca de forma indelével, depois de ter nascido numa casa de belenenses e de ter bebido o hidromel só disponível na Lusa Atenas.
Numa era de paraquedistas, a que se associa uma profissionalização de matriz liberal, sem alma nem mística, a opinião desinteressada de Toni deve ser entendida como um bálsamo, que deve ser incorporada por quem tem de tomar decisões, como contributo útil para a descoberta da fórmula que possa tirar o Benfica da vulgaridade futebolística em que tem vindo a viver. Mas, ao mesmo tempo que Toni, de cátedra, disse o que lhe ia na alma, muitos outros, arquitetos, advogados, economistas, engenheiros, químicos, e até jornalistas, que nunca tiveram ligação direta ao jogo, usam o palco mediático para dizerem de sua justiça, para indignação dos que beberam da água benta dos balneários.
Devo confessar que a experiência que se colhe no interior das quatro linhas é inestimável, e que há coisas que só quem andou lá dentro e partilhou uma cabina percebe integralmente; mas, ao mesmo tempo, mentiria se não dissesse que me cruzei, ao longo da vida, com jornalistas com fina análise do jogo e da condição humana que lhe subjaz, e que chegam a conclusões sublimes sobre o que que importa transmitir, de forma exemplar, à opinião pública. Da mesma forma, seria estúpido que o futebol recusasse, por razões corporativas, a opinião de arquitetos, advogados, economistas, engenheiros, químicos, e até jornalistas, que conhecem o jogo pela ótica do consumidor, e que são capazes de transmitir uma verdade que estará sempre mais próxima da generalidade dos adeptos. Estes contributos são enriquecedores para o jogo, obrigam-no a transcender a bolha onde muitas vezes tende a encapsular-se e não devem ser, de forma alguma, ostracizados...