‘The Times They Are A-Changin’
As mudanças no futebol, no país e no mundo são imparáveis. Não adianta ser contra, porque elas, inevitavelmente, irão seguir o seu caminho
Acanção, que se tornou num hino universal à impossibilidade de alguém conseguir travar a evolução dos tempos e a mudança nas sociedades, é de 1964, e foi escrita pelo já octogenário senhor Robert Allen Zimmerman, mundialmente conhecido pelo nome artístico de Bob Dylan, poeta, compositor, músico exímio, cidadão inconformado com a vida e com o mundo, inesperado prémio Nobel da Literatura, em 2016. Apesar dos seus 57 anos, a canção fala-nos da atualidade. Não existe estranheza nisso. É uma gloriosa afirmação da capacidade humana para evoluir e de não haver poder, quer ele seja familiar, político, económico, religioso, o que quer que seja, capaz de travar a marcha do desenvolvimento e do crescimento natural das sociedades. Algumas vezes, acontece de uma forma suave, serena, quase impercetível, de outras, torna-se pujante, arrebatadora, causando ruturas inevitáveis.
Olhar a História e entendê-la nas suas razões, mais ou menos racionais, é a melhor maneira de compreendermos que o mundo está em permanente transformação. Daí que o futebol, do qual se diz que é um espelho da sociedade, esteja, também ele, em mudança. Sim, «The Times They Are A-Changin» também para o futebol mundial. A entrada, sem regresso, da tecnologia no universo da arbitragem, as mudanças de regras em leis essenciais ao jogo, como é o caso da lei do fora-de-jogo, a aprovação do sistema de investidores externos, como modelo de sucesso na sociedade capitalista e que deixa a repousar nos museus a ideia romântica do amor à camisola, são apenas alguns sinais, absolutamente evidentes e plenos de significado, que nos provam que o futebol está em mudança e a única dúvida que se poderá colocar é a de saber até onde irá já nesta fase de transformação.
Muda o futebol mundial e muda, necessariamente, o futebol dos clubes portugueses. O que não deixa de ser um assunto de crucial importância, apesar de acabar quase sempre escondido e atirado para debaixo do tapete nas centenas discussões públicas, avulsas, e que preferem a superficialidade e a banalidade.
John Textor quer investir no Benfica
Olhe-se com atenção para a mais recente reunião entre os novos administradores da SAD do Benfica e o americano John Textor. O que significa, para além de um simples e peculiar negócio? O que significa, para lá do sonho idílico da presumida entrada das ações do Benfica na bolsa de Nova Iorque? Curiosamente, dizia o meu amigo Dias Ferreira, há já algum tempo, no programa Quinta da Bola, da estoicamente independente BOLA TV, que o Benfica seria o primeiro a experimentar os benefícios de se associar a investidores de peso. Uma ideia premonitória e que Dias Ferreira confessa que gostaria de ver replicada no seu Sporting. Como dizia a canção-ícone de Bob Dylan, numa tradução livre, «a vossa antiga tradição está rapidamente a envelhecer/ por favor saiam da nova, se acharem que não podem ajudar».
Como já terão percebido, o futebol não muda sozinho. É o país e o mundo que estão a mudar. Muda como a Terra gira, permanentemente, e as velhas gerações apenas têm de perceber isso e adaptarem-se, ou deverão sair para não atrapalhar. Mais do que as velhas gerações, todas as gerações, velhas e novas, que se cristalizam no seu tempo e na sua pequena realidade. Os tempos estão a mudar e é preciso saber mudar com o tempo. Não vale a pena ter medo da mudança. É como ter medo da morte. Não é por isso que a senhora de negro não irá chegar quando muito bem entender.
Sou, orgulhosamente, da geração dos anos 60, que sempre jogou do lado da mudança.
FILIPA MARTINS. FILIPA, QUEM?
É a pobre realidade portuguesa. O nome de Filipa Martins continua a dizer pouco ou mesmo nada, mesmo para aqueles que se afirmam interessados no desporto. E, no entanto, a Filipa, 25 anos, conseguiu uma proeza inédita ao conseguir estar na final all-around do campeonato do mundo de ginástica artística, que se realizou no Japão, classificando-se no sétimo lugar. É um feito notável. Ter uma portuguesa entre as melhores ginastas do mundo, mas não devidamente assinalado. A verdade é que a ignorância é quase sempre injusta.
O PAI DE MOEDAS E A BOLA
José Moedas, pai de Carlos Moedas, atual presidente da Câmara de Lisboa, foi durante muitos anos correspondente de A BOLA, em Beja, no Alentejo. Politico ativo, jornalista com cargos de responsabilidade na imprensa regional, o Zé Moedas tinha especial ligação ao nosso jornal, que sentia como também seu. Conheci-o, em Beja, ainda com o meu pai e, mais tarde, fui por ele convidado para alguma sessões públicas para falar de desporto e comunicação e também para apresentar um livro meu. Era um homem de valores. Espero que transmissíveis...