‘The last dance’
FOTO: ANDRÉ ALVES

OPINIÃO ‘The last dance’

OPINIÃO26.05.202409:53

'Mercado de valores', por Diogo Luís

O futebol está em constante evolução. Passou de um simples desporto para uma indústria com um alcance e um mediatismo únicos no mundo. A transformação é muito visível na melhoria das infraestruturas e de toda a organização em torno dos eventos desportivos.

Hoje temos estádios com mais conforto e que nos proporcionam mais entretenimento fora do relvado. Se é verdade que toda esta evolução foi importante para que outras áreas de negócio se pudessem desenvolver, o futebol, apesar de se ter transformado numa indústria, será sempre um desporto caracterizado pela emoção, paixão, alguma irracionalidade e pelo convívio que promove.

A final da Taça de Portugal é o jogo que melhor caracteriza o futebol atual, porque é um equilíbrio entre o presente e o passado. Do passado traz a alegria e o convívio nas matas do Jamor, onde adeptos podem confraternizar, entre si, num dia de festa. Do presente, traz uma maior organização, preocupação com a segurança, melhores condições de trabalho e preocupação com as infraestruturas (exemplo: estado do relvado).

Não tenho dúvidas de que o Jamor, com toda a envolvência que o caracteriza, continua a ser o melhor palco para fecharmos uma época desportiva.

FC Porto: a(s) despedida(s)

Num ano muito atribulado para o FC Porto, o jogo de hoje é uma oportunidade para sair com algo positivo da época que está prestes a terminar. Como se costuma dizer, a última imagem é aquela que fica.Em causa poderão estar duas despedidas: a de Pinto da Costa e a de Sérgio Conceição. Além de estar em disputa um título importante, que pode amenizar a deceção que foi esta época, para estas duas personalidades este jogo ganha uma dimensão diferente. No mesmo dia, poderão despedir-se do FC Porto o presidente e o treinador com mais jogos no clube.

Por outro lado, já todos perceberam que o dia 28 de maio será o primeiro dia de uma nova vida no Dragão. O que os adeptos esperam é que a gestão seja responsável, transparente, clara, capaz, eficiente e que mantenha o clube no caminho das vitórias. Já a nova administração deve ter bem presente o estado em que vai herdar o clube, com um enorme endividamento, com fornecedores e credores a exigirem pagamentos, com grande parte das receitas antecipadas e com uma liquidez muito reduzida para fazer face aos compromissos financeiros.

O primeiro passo será o de desenvolver um modelo de jogo que se enquadre no ADN do clube, com um plantel capaz (dentro das suas capacidades) e com um treinador que se identifique com o novo caminho a seguir. Em simultâneo, é fundamental conseguir transmitir uma imagem de tranquilidade, sobriedade e credibilidade a todos os agentes que interagem com o clube. Do ponto de vista anímico, assim como é importante para Pinto da Costa e Sérgio Conceição (caso faça o seu último jogo) despedirem-se com uma vitória, para André Villas-Boas a conquista da Taça poderá ser o empurrão e a motivação para iniciar a próxima época com um sorriso nos lábios, mesmo com todas as dificuldades inerentes. 

Sporting: a oportunidade

O Sporting hoje tem a oportunidade de fechar a época com uma dobradinha, algo que já não consegue desde 2002. Uma vitória no Jamor frente ao FC Porto irá significar a hegemonia nas competições internas. Se vencer a Taça de Portugal ficou apenas a faltar a Taça da Liga, ganha pelo SC Braga que eliminou (injustamente) o Sporting nas meias-finais.

Numa época marcada por recordes (de pontos e de vitórias) a liderança dos leões foi inquestionável. Assim, este jogo também tem um grau de importância elevado para Sporting. Para poder definitivamente mudar de filosofia, é importante que o clube verde e branco saiba responder afirmativamente nos momentos de decisão, de forma a retirar o receio que largos ciclos sem ganhar, de uma forma consistente, provocaram nos adeptos leoninos. Assim sendo, uma vitória no jogo de hoje representará mais um passo de afirmação.

No futebol tudo é efémero, como tal, não existe muito espaço para festejos. Em termos estratégicos, uma vitória no jogo de hoje permitirá ao Sporting ganhar mais motivação, carimbar uma época memorável e entrar na próxima temporada com a confiança em máximos.

Em simultâneo, a estrutura do Sporting também sabe qual o efeito que uma derrota terá no rival, que está a atravessar um contexto de transição e para quem a vitória no jogo de hoje pode reduzir o impacto de uma época muito abaixo das expectativas.

Rui Costa: esclarecimentos

Rui Costa deu uma entrevista em que fez aquilo que tinha de fazer. O único caminho que tinha era o de reforçar a confiança em Roger Schmidt. Após uma renovação de três anos, com um contrato muito dispendioso, deixar cair o treinador alemão significaria que o projeto de Rui Costa deixaria de existir e implicaria o pagamento de uma indemnização substancial.

Ao longo da entrevista, Rui Costa assumiu as responsabilidades. Se é uma realidade que nem sempre as coisas correm como os líderes pretendem, também é verdade que os insucessos são oportunidades para crescer, corrigir erros e melhorar. Podemos especular sobre quais os reais motivos que fizeram com que Rui Costa mantivesse Roger Schmidt: a crença nas qualidades do treinador? A estabilidade do projeto? O custo da rescisão? A certeza que uma mudança de treinador iria colocar o foco todo em Rui Costa?

Se os erros desportivos deverão ser corrigidos, pouco ficámos a saber sobre os erros nas restantes áreas. Por exemplo, na comunicação, irão existir alterações? Irão ajudar o treinador a comunicar com os adeptos? Na parte financeira, o presidente do Benfica está preocupado com o trajeto que o Benfica está a seguir? Tendo em conta que os custos fixos estão a ficar descontrolados e as receitas fixas não os conseguem cobrir. Neste ponto, Rui Costa utilizou o chavão de que o Benfica, como todos os clubes portugueses, têm de vender. O que Rui Costa se esqueceu é que o Benfica já vendeu Gonçalo Ramos por € 65 M e esteve presente na Liga dos Campeões que lhe garantiu um encaixe de € 43 M. Mesmo assim necessita de fazer um encaixe financeiro (ou uma venda de um atleta) de € 40/50 M (líquidos) para ter resultado positivo.

A pressão vendedora do Benfica é cada vez maior, demonstra o rumo que está a ser seguido e acaba por ter reflexos no rendimento desportivo.

Outro ponto importante são as constantes acusações, por parte do Ministério Público, de práticas de gestão pouco transparentes e danosas para o clube. Neste campo e analisando os três grandes, podemos concluir que Sporting e FC Porto decidiram cortar com o passado, optando por equipas de gestão mais profissionais e transparentes. No caso do Benfica, por opção, tal não aconteceu. Por este motivo, sempre que surge uma suspeita ou acusação, o impacto é muito maior e a resposta por parte da sua administração nunca é a ideal!