Tese, antítese e síntese

OPINIÃO25.04.202207:00

Benfica (sem público) perdeu 12 pontos na Luz em 2020/2021 e 15 (com público e menos um jogo) em 2021/2022. A tudologia é uma arte

HÁ pouco mais de um ano, quando Portugal estava no auge da pandemia e o Benfica, implacavelmente marcado pelo Covid-19, perdia pontos atrás de pontos (15 entre as jornadas 12 e 20), começou a nascer ideia de que, podendo até fazer algum sentido, carecia de fundamento prático: se não houvesse pandemia e os estádios pudessem ter adeptos, com a Luz repleta a apoiar, nunca o Benfica teria perdido tanto ponto, sobretudo em casa. À primeira vista, a ideia tinha lógica, pois os adeptos encarnados costumam empurrar a equipa para níveis exibicionais bem superiores. Se houvesse adeptos em Alvalade, argumentavam os mesmos, aquilo iria ser uma rebaldaria logo ao primeiro empate do Sporting. Também fazia algum sentido, pois sabe-se que os adeptos leoninos, a perder ou a ganhar, costumam dramatizar as coisas. Porém, as duas teses careciam, repete-se, de confirmação prática. O Sporting foi campeão sem adeptos e o Benfica, igualmente sem adeptos, não foi além do terceiro lugar. Era, simplesmente, uma ideia. Ou duas.
 

ENTRÁMOS em 2021/2022 e, com Luz e Alvalade com a possibilidade de enchentes, a ousada tese começou por não se confirmar e mais tarde, já com 2022 bem lançado, sofreu o definitivo requiem: argumentar que a não presença de adeptos nos estádios em 2020/2021 contribuiu para a péssima época do Benfica e a excelente temporada do Sporting passou a ser tese sem ponta de sustentação. E a antítese pode ser facilmente entendida por dois números: 12 pontos perdidos na Luz (sem público) pelo Benfica nas 17 jornadas de 2020/2021 e 15 perdidos (com público) nas 16 já realizadas em 2021/2022 (ainda falta o jogo com FC Porto). Mais pontos perdidos em casa na história encarnada apenas em 1996/1997 (20), 2007/2008 (18), 1987/1988 (18, mas com 19 jogos em casa) e 1991/1992 (16). Repete-se: falta ainda o jogo com o FC Porto. O Sporting leva oito pontos perdidos em Alvalade (Gil Vicente e Santa Clara ainda jogarão no terreno dos leões) contra igualmente oito em 2020/2021 (sem adeptos).
 

PODEMOS, assim, tirar uma conclusão: é bom ter adeptos a apoiar, mas não é condição necessária e suficiente para se ganhar  jogos e ser campeão nacional. O mais importante numa equipa de futebol são os jogadores (La Palisse não diria melhor). Depois, os treinadores. Finalmente, a estrutura que rodeia o futebol e ainda os adeptos. Há quem diga que devemos incluir as equipas de arbitragem, mas, sinceramente, não dou para esse peditório. Esse peditório fica, em síntese, para os tudólogos. Que estão para tudo como os psicólogos para a psique. Ou os astrólogos para os astros.