Ténis do Lidl

OPINIÃO05.12.202003:00

O Lidl lançou uma linha de produtos desportivos, ostentando o logótipo da empresa, com t-shirt, meias, chinelos e ténis de corrida. Os preços eram baratos, agora são caríssimos, com tudo esgotado. Os ténis (ou sapatilhas, como se preferir) custavam 14,99 € e agora estão à venda por milhares de euros.


A questão é antiga, sem resposta clara: são as marcas, e suas estratégias, que fazem os consumidores, ou o contrário? Aponto para a primeira opção, pois mesmo quando se pensa, como me parece vulgar neste caso, que há uma atração do consumidor pela autocomiseração humorística, pela ostentação do barato, devemos considerar que, antes, já a marca dessa forma o planeara.


Vi recentemente no Disney + um programa de reportagens, O Mundo segundo Jeff Goldblum. Uma delas era sobre ténis, como são feitos, quem os compra, quanto custam, tendo ficado espantado ao saber de quem pague dezenas de milhares - sim - por pares de ténis personalizados, inclusivamente de marcas desconhecidas. É um estranho mercado de oposição à marca, de culto, no qual a Adidas e a Nike, que tudo o resto dominam, não podem, como se compreende, entrar.


Aqueles da minha geração  lembrar-se-ão, nos anos 80 e 90, de umas meias brancas, com raquetas cruzadas no cano, que passaram a motivo de ridicularização do velhinho que as calçava com pantufas, do turista que as punha com sandálias, ou de quem as usava com calças de fazenda. Hoje, são uma marca registada portuguesa, Raquetes, constando que bem-sucedida, até no estrangeiro.


A moda é por definição algo que vai e vem, em busca de nós, porquanto tantas vezes, como me parece visível neste fenómeno Lidl, quando não sabemos bem o que queremos alguém aparece a esclarecer-nos, vendendo-nos algo. É na resposta que damos que nos definimos, pois se aceitamos pagar de mais por algo banal já não somos apenas consumidores, somos o próprio produto.