Táticas e perigos
Bruno Lage virou de pantanas o futebol do Benfica. O mais impressionante está na rapidez (fulgurante!) da sua certeira, e profunda, revolução. Pegou de estaca! O tempo, provavelmente no curtíssimo prazo dos próximos jogos (cruciais!), irá dizer da capacidade para muito florir o vistoso jardim por Lage tão velozmente plantado.
Jovem treinador nem pestanejou, anunciando, categórico, mal pegara no leme: regresso ao 4-4-2. O esquema tático do Benfica tetracampeão (2 anos com Jorge Jesus, 2 anos com Rui Vitória - este criticado por não mudar, apenas copiando o antecessor!). Acontece que Bruno Lage, passando a 2 pontas de lança, tem, muitíssimo arguto, o enorme mérito de não aplicar o 4-4-2 convencional - nesse sentido, ele é falso… Se fosse o puro, com 2 médios centrais e 2 extremos, os atuais protagonistas do fulcro da linha média não aguentariam. A grande distância entre ter Javi Garcia ou Matic, Witsel ou Enzo Pérez, e ter Fejsa, em declínio, ou Samaris, na parceria com Gedson, cheio de talento, mas menino, ou com Gabriel, ainda em fase de adaptação - foi muito por isso, creio, que Rui Vitória sentiu necessidade de alterar para 3 médios centrais o seu anterior, e vitorioso, esquema.
Estratégico 4-4-2 de Bruno Lage às vezes aproxima-se do losango (esquema de, por exemplo, Paulo Bento nos 4 anos de Sporting vice-campeão), mas, em rigor, só se aproxima. A chave mestra: Pizzi falso ala direito; de facto, salta para dentro, como 3.º centrocampista e maestro pautando ofensivas e... ritmos. No flanco esquerdo, Rafa, ou Cervi, ou Zivkovic, com instruções mistas: mais verticalidade, mas também tendo de fechar por dentro na recuperação da bola e na posse desta - que o mesmo é dizer, lá está!, na solidez do meio campo.
Lançar o talento de João Félix (tão jovem!) como 2.º ponta de lança - ora recua, ora deambula para os flancos, muito bem se entendendo com Seferovic e com… Pizzi - tem sido precioso trunfo. Seferovic está na melhor época, e de longe!, da sua carreira (já com Vitória começara a impor-se, após quase sair…); nunca fora grande goleador… e ei-lo com mais golos do que na soma dos 4/5 anos anteriores!
Gabriel: outra enorme diferença. Atenção: quem muito insistiu neste reforço, concretizado em última hora, foi Rui Vitória. Depressa lançado no onze, não enganava quanto a poder dar superior consistência/poder atlético ao meio campo; mas, sem pré-época, escasso ritmo… - e o menino Gedson entrou pleno de gás (ambos, em simultâneo, não cabem no esquema de Lage; mas Gedson possui polivalência para também suprir ausências de… Pizzi). Ah!, Salvio de novo lesionado (para um mês)…
Claras deficiências, filhas de crassos erros na resma de contratações para esta época! Jogando com 2 pontas de lança, o Benfica tem 2 e meio… (ímpar classe de Jonas tantas vezes em longas baixas clínicas). E na defesa pode surgir caos! Débeis alternativas a Almeida e Grimaldo. Problemões já aí estão nos centrais: Jardel e o indefinido Conti lesionados; obrigatória chamada do menino Ferro (tão prometedor quanto sem traquejo, numa posição fulcral), agora tendo de cumprir suspensão; Rúben Dias com 4 cartões amarelos… (e outro = expulsão deveria ter visto frente ao Aves…). Que defesa, daqui a semana e meia, no Dragão, jogo do título para ambos!?
FC PORTO em Tondela, não podendo ter mais um tropeção... Sob martírio de lesões (Aboubakar, Marega, Brahimi, Danilo) e, de certeza, sem Soares (castigado), algum destes pilares já terá alta clínica? Curioso: FC Porto no outro polo, face ao Benfica: problemões… no ataque.
SPORTING acordou, atropelando SC Braga surpreendentemente (?) inofensivo (de facto, os ares de Lisboa são-lhe desastrosos: 6-2 na Luz, 3-0 em Alvalade; derrota, 1-0, muito injusta teve no Dragão: sofreu o golo quase no final, após jogar muitíssimo bem e enviar 2 remates aos ferros…). SC Braga ainda possui margem de 4 pontos na disputa pelo 3.º lugar. Precisa de mais estofo… - muitíssimo mais quando receber FC Porto e Benfica…
Keizer inovou: 3-4-3 (muito importante o recém-contratado Ilori). Absolutamente decisivo: Bruno Fernandes, que craque em híper forma!, sobre quem Abel Ferreira desabafou ser «o abre latas». Um dia, num Benfica campeão tem-te-não-caias, Trappatoni soltou «Graças a Deus temos Simão». Keizer bem poderia reconhecer: «Graças a Deus temos Bruno Fernandes.»