Sucesso desportivo como alavanca para o sucesso financeiro

Sucesso desportivo como alavanca para o sucesso financeiro

OPINIÃO11.06.202306:30

A situação financeira da FC Porto SAD degradou-se apesar das excelentes participações na Liga dos Campeões e das muitas vendas

T ODAS as empresas em Portugal devem ter a noção de que se pretendem crescer, de uma forma consistente, têm de se direcionar para o exterior. O futebol é o melhor exemplo que podemos ter. O mercado externo tem sido fundamental para gerar receitas, através da venda de jogadores, o que permite equilibrar as contas.


JORGE MENDES 

Q UANDO avaliamos as contas dos principais clubes, nos últimos vinte anos, percebemos que há uma fórmula que tem vindo a ser repetida constantemente: vendas sucessivas de talento trabalhado e desenvolvido nos nossos clubes para campeonatos de outra dimensão. A fórmula que começou na década de 90, com a afirmação de jogadores como Luís Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, entre outros, foi-se tornando mais apurada. Cristiano Ronaldo e o sucesso desportivo do FC Porto, nos anos de 2003 e 2004, foram o passo que faltava para que os tubarões olhassem para o nosso mercado como uma fonte de abastecimento de jogadores com qualidade, jogadores esses que estariam já preparados para ajudar equipas de outra dimensão a lutar por títulos, nas competições internas e na Europa. Não foi só o talento ou os resultados que validaram a estratégia. Jorge Mendes tem sido o grande elo de ligação entre clubes vendedores e compradores. Ganhou dimensão e credibilidade num mercado que funciona muito na base da confiança. Criou casos de sucesso, que tornaram Portugal na grande fonte de recrutamento dos melhores clubes europeus. Soube vender e potenciar sonhos nos momentos certos. Se Jorge Mendes tem tido muito sucesso com a sua operação, não é menos verdade que tem sido um parceiro fundamental para o equilíbrio financeiro dos clubes.


LFV - INFRAESTRUTURAS + PARCERIA 

A NALISANDO os três grandes clubes percebemos que, neste momento, o Benfica é aquele que tem melhores rácios financeiros. Muitos vão dizer que isto se deve aos grandes gestores que o Benfica tem na sua estrutura. Não concordo, mas respeito! Tenho por norma analisar números, tendências e realidades, de forma a poder justificar as minhas opiniões. Assim, o grande responsável pela atual situação financeira desafogada do Benfica é Luís Filipe Vieira. O mais engraçado é que não lhe atribuo o mérito por o Benfica estar muito bem organizado, porque não está. Existem demasiados desperdícios, falta de controlo interno, custos que não se conseguem explicar, numa máquina que foi montada por LFV e validada por Domingos Soares de Oliveira. Também existem suspeitas de conflitos de interesse e falta de transparência nas tomadas de decisão operativas. Não foi, claramente, pela maneira como o clube/SAD foram desenvolvidos ou pela forma, muitas vezes arcaica, sem transparência e com a perceção de que estava acima da lei, que destaco LFV.  O mérito que lhe atribuo tem a ver com a visão que teve. A perceção de que tinha que desenvolver infraestruturas de excelência, para poder potenciar o talento. A noção de que uma parceria com Jorge Mendes poderia gerar um grande retorno financeiro e, como complemento, a criação da marca formação Benfica. Esta estratégia partiu da sua cabeça. Todos à volta colheram os louros e muitos tiraram proveito financeiro, porque as vendas astronómicas dão para tudo. Hoje, o Benfica tem a sua formação validada em todo o mundo e é um case study, o que lhe permite ter retorno de várias formas: transferências com selo de qualidade, atrair talentos, mesmo tendo a concorrência de outros clubes, ou ainda desenvolver programas de formação Benfica, que podem ser vendidos em todo o mundo. 


RUI COSTA - FUTEBOL + ORGANIZAÇÃO + VALORES

N O capítulo desportivo Rui Costa teve um ano muito positivo. Reestruturou o futebol, com uma estratégia assente em três pilares: Rui Costa (RC), Roger Schmidt e Lourenço Pereira Coelho (LPC). Roger Schmidt foi uma aposta dos dois, RC e LPC, que encaixou na perfeição, porque conseguiu acrescentar um futebol vibrante, aglutinador, que se enquadra no ADN Benfica; conseguiu valorizar ativos; olha para a formação sem receios e aposta no talento; validou todo o seu processo com o título de campeão e quartos de final de Champions League. A dificuldade e a exigência no próximo ano serão maiores. Por este motivo, será fundamental que RC se preocupe em reorganizar a estrutura fora das quatro linhas. É verdade que o discurso de RC demonstra uma diferença e o vencemos por nós e não contra os outros é, sem dúvida, um passo de gigante. Fica apenas a faltar tudo o resto: reorganizar a máquina Benfica; acabar com os desperdícios e com as quintas que existem dentro do clube; torná-lo mais eficiente, transparente e credível. Deverá recriar o que conseguiu fazer no futebol e que assenta nos três pilares que referi. Escolher um CEO que tenha a perceção de que não vai fazer milagres, que queira contribuir e não apenas valorizar-se e que saiba qual o seu papel numa grande empresa como o Benfica. O próximo CEO deverá ter visão, conhecimento da indústria e evolução do futebol, abertura para continuar a crescer em áreas que estão em desenvolvimento, controlar e justificar os gastos na vertente desportiva e operativa, controlar o funcionamento interno do clube e saber comunicar e representá-lo institucionalmente. Por exemplo, um CEO não pode (ou não deve) dizer, publicamente, que não percebe como é que a centralização dos direitos de TV pode valer 300M€. Pode até pensar, mas nunca dizer porque, ao fazê-lo, está a desvalorizar as receitas do seu clube. Por fim, um CEO deve ter a humildade de perceber que o seu sucesso está muito dependente da performance desportiva.


FERNANDO GOMES VS. SÉRGIO CONCEIÇÃO 

F ERNANDO GOMES, administrador do FC Porto SAD, proferiu recentemente a seguinte afirmação: «O FC Porto vai querer responder em termos de sucesso desportivo ao que tem sido o sucesso financeiro». De uma forma muito simples, apresento alguns dados que nos permitem analisar esta incrível afirmação. Sérgio Conceição é treinador do Porto desde 2017/2018. Em 30 de junho de 2018 o capital próprio da SAD portista era negativo em 103.036.548 €. Em 30 de junho de 2022 o capital próprio era negativo em 169.794.223€. De 2018 até 2022 o montante total de empréstimos, praticamente, não foi alterado. Contudo, o factoring passou de 145M€ para 200M€. Factoring não é mais do que a antecipação de receitas futuras, o que significa que o FC Porto está a hipotecar o futuro, no presente! As receitas hipotecadas vão desde passes de jogadores, valores a receber de transferências efetuadas, valores do contrato de direitos de TV do grupo Altice, bem como os prémios de acesso aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Em termos desportivos, nestes seis anos, o Porto ganhou 10 títulos, chegou duas vezes aos quartos e duas aos oitavos de final da Champions League. Realizaram-se vendas incríveis como as de Vitinha, Fábio Vieira, Luis Díaz, Danilo ou Fábio Silva, entre outros. Em suma, podemos concluir que o sucesso desportivo esteve bem presente, apesar da perda de qualidade ano após ano. Também podemos concluir que a situação financeira da FC Porto SAD se degradou, de forma substancial, apesar das excelentes participações na Liga dos Campeões e das muitas vendas de jogadores de elevado valor. Assim, comprova-se que, como disse Sérgio Conceição (em outubro de 2022), a vertente financeira não tem correspondido à evolução dos jogadores e do sucesso desportivo, ao contrário do que foi referido, esta semana, por Fernando Gomes.


A VALORIZAR

Vicente Pereira - nadador (Síndrome de Down)
Tem 17 anos e tem Síndrome de Down. Esta semana conseguiu fazer aquilo que nenhum nadador com trissomia 21 tinha feito: 50 metros livres abaixo dos 30 segundos. Tem três recordes do mundo de pista longa e dois em pista curta. Tem vários mundiais e europeus no currículo, sem qualquer apoio do estado. Não recebe homenagens do Presidente da República, porque não tem o protagonismo de outros. Vicente é aquilo que poucos se podem orgulhar: é o exemplo do que o desporto deve ser. Personifica os valores que queremos passar à nossa sociedade: persistência, dedicação, motivação, trabalho e superação. Obrigado Vicente por representares Portugal. Obrigado por nos mostrares que não existem impossíveis. O desporto é fundamental para o Vicente, assim como o Vicente é fundamental para o desporto.

City campeão
O City fecha uma grande época com mais um titulo. Guardiola tem um leque de grandes jogadores à disposição mas o que o diferencia é a sua proposta de jogo. Três títulos numa época é um prémio para a enorme qualidade que o Man City demonstrou todo o ano.

Inter Campeão
Fez uma ponta final de época muito positiva. Demonstrou uma enorme união, foco e concentração que lhe permitiram obter um sucesso inesperado na Liga dos Campeões. Foi crescendo ao longo da competição que terminou com o titulo de campeão europeu