Sporting - um arsenal de recursos

Sporting - um arsenal de recursos

OPINIÃO22.03.202305:30

Jogo em Londres não aconteceu por acaso, mas por emergir o valor de alguns jogadores, fruto do trabalho da equipa técnica

O Sporting podia não ter passado aos quartos de final da Liga Europa e eu, provavelmente, diria que no futebol não há milagres e, portanto, o resultado que se esperaria era certamente a vitória do clube que comanda a Premier League sobre o quarto classificado da Liga portuguesa, pese embora se chamar Sporting Clube de Portugal.

Em Portugal, que me lembre, fala-se do milagre das rosas da Rainha Santa Isabel e o de Fátima, mas daquele diz-se que não é verdade e deste há quem não acredite nele. No futebol há coisas que parecem milagres, mas não são milagres. E a vitória do Sporting não foi um milagre, mas uma vitória do mérito e com mérito.
Na verdade, o jogo que o Sporting fez em Londres, não aconteceu por acaso, pese embora a irregularidade de que tem dado mostras, mas por força de estarem a vir ao de cimo o valor de alguns jogadores, fruto do trabalho da equipa técnica.

O Sporting começou a época desfalcado de alguns dos seus melhores valores, não só da equipa que foi campeã, como daquela que se lhe seguiu e que teve pontuação idêntica, e que conquistaram a Taça da Liga. Seria natural, pois, que não conseguisse melhor rendimento no campeonato, pese embora os excelentes jogos que fez com o Eintracht de Frankfurt (fora) e com o Tottenham, cá e lá. Os jogos com o Marselha trazem-nos situações para esquecer.

Também na Liga Europa o Sporting foi bipolar: não nos podemos esquecer da performance de Alvalade e de uma exibição na Dinamarca.

Finalmente, em termos europeus, ficam para memória futura os jogos com o Arsenal, em particular o disputado no Emirates. Olhando para os muitos jogos que já temos nas competições europeias, só já tenho na memória o jogo dos anos sessenta com o Manchester United. Mas foi outro tempo e outro tipo de jogo.
Dos tempos mais recentes, designadamente neste milénio e neste século, fica realmente para a história este jogo com o Arsenal em que quase nada faltou para ser perfeito. Até um grande golo de Pedro Gonçalves fica para história, pese embora a arte do golo de Nuno Santos no foro nacional, que para a história também ficou.
Mas este jogo provou acima de tudo que o Arsenal tem recursos financeiros que o Sporting não tem, mas o Sporting tem um arsenal de recursos humanos - jogadores e treinadores - que o Arsenal, se calhar, gostaria de ter.

Se o Sporting tivesse mais recursos financeiros - e nem precisava que fossem os mesmos das equipas de topo - poderia bater-se com elas regularmente e sair vencedor desses confrontos não esporadicamente, mas regularmente. Não teria necessidade de vender tantos jogadores e, em consequência, estar sempre a reconstruir a equipa.

O Sporting tem um arsenal de jogadores e treinadores de grande qualidade, isto é, de recursos humanos. Não precisa de um arsenal de recursos financeiros. Precisa apenas de um projecto financeiro sólido para manter esses recursos humanos, porque vender jogadores para sobreviver, pode ser um modo de vida, mas não um projecto, e, muito menos, um projecto ganhador.


OS DE CÁ E OS DE LÁ

N ESTES dias que intermediaram o artigo de hoje e o da semana passada, mais dois (pelo menos) artigos de opinião surgiram sobre a arbitragem. Ambos de sentido e autoria corporativa.

Num deles, invoca-se a participação da APAF, a convite da Liga Portugal, numa reunião para discutir «documentos estruturantes» como os Regulamentos Disciplinares, de Competições e de Arbitragem, e a apresentação de propostas de alteração em matéria disciplinar.

Não conheço essas propostas, mas pelo objectivo enunciado se pode constatar da pouca vontade em melhorar a arbitragem, uma vez que se quer é «criar ferramentas punitivas a curto prazo», designadamente, a perda de pontos por parte de quem entendem ser os prevaricadores.

Parece-me evidente que os clubes, tal como diz o articulista, infelizmente não vão aprovar tais ferramentas. Acontece que o meu infelizmente tem um sentido diferente.

Na verdade, digo infelizmente porque a arbitragem não atingiu ainda credibilidade e prestígio suficiente para que as penas possam ser tão graves. Os árbitros já decidem jogos e, em consequência, campeonatos, com o que fazem em campo, só faltava agora que as críticas valessem pontos. Quando tivermos uma arbitragem estruturalmente credível e prestigiante, então sim, haverá autoridade moral para pedir a punição exemplar de quem prevarica. Só se pode pedir respeito, quando se respeitam os outros!...

Outro artigo, versa sobre uma ideia já antiga de termos árbitros estrangeiros nos jogos cá do burgo. Estou de acordo que não resolve a questão da arbitragem em Portugal, porque, antes de mais, é um atestado de incompetência e falta de credibilidade, e, por outro lado, não resolve a questão de fundo.

Pode aliviar a situação de imediato e, sobretudo, obrigar os árbitros portugueses a arbitragens mais competentes e credíveis, porque alguns deles sabem e podem ser mais competentes e credíveis. Assim, como a entrada dos Uber veio melhorar os serviços dos táxi!...

Porém, não venham com o argumento de que os de lá não são melhores que os de cá, porque os árbitros de outros países também erram. É uma verdade que todos erram e o erro é inerente à natureza humana. Mas a sensação que têm as pessoas que seguem o futebol internacional, designadamente os adeptos portugueses, é diferente: o erro de cá é consequência de incompetência e da parcialidade no julgamento, ao contrário dos erros de lá! Quando um árbitro num mesmo jogo, tem uma dualidade de critérios, é o quê? É um erro? Claro que não: é incompetente ou é parcial.

De resto, que os de lá são melhores que os de cá, foi o certificado que a FIFA passou aos de cá e aos de lá!...


RUI NABEIRO

Q UASE todas as semanas tenho de completar o meu espaço com um comentário sobre o falecimento de alguém que conheci ou gostaria de ter conhecido melhor. É a consequência de quem já viveu três quartos de um século.

Conheci o comendador Rui Nabeiro muito antes das minhas andanças pelo futebol, e conheci-o fora do futebol, no seu mundo empresarial. E desde que o conheci sempre tive por ele uma grande admiração: simples, humilde, trabalhador, empreendedor, com enormes preocupações sociais, dedicado à sua terra. Sempre me tratou com enorme simpatia e por isso guardo dele uma boa memória.

À sua família deixo aqui o meu sentido pesar, porque mais Homens destes fazem cada vez mais falta a Portugal!