Sporting sem paz nunca será capaz...
Cada clube tem a sua circunstância, e a do Sporting comporta uma tendência autofágica acentuada. Do nada, em entrevista a A BOLA, ainda há poucos dias, o ex-presidente Sousa Cintra decidiu elogiar José Peseiro, e como as homenagens são geralmente contra alguém, acertou em Frederico Varandas, que não se ficou, contra-atacando com desprezo: «Sousa Cintra disse um chorrilho de disparates.» O que é que o Sporting ganhou com este bate-boca? Rigorosamente nada. Estava a poeira a assentar depois deste arrufo Cintra-Varandas quando outro ex-presidente, Bruno de Carvalho, escolhendo o momento, veio a terreiro clamar contra o mundo, perseguido, traído e abandonado, umas vezes por medo dele, outras por inveja ou má-fé, sem esquecer os incompetentes de que se rodeou, segundo disse.
Se a desagradável troca de palavras entre Sousa Cintra e Frederico Varandas não fez nenhum sentido, já a intervenção de Bruno de Carvalho tem justificação estratégica plena. O ex-presidente do Sporting vai ser ouvido esta semana no processo em que está acusado de 98 crimes e, no próximo sábado, realiza-se a Assembleia Geral (AG) do Sporting que terá como ponto na ordem de trabalhos a sua expulsão de sócio do clube de Alvalade. Por isso, com um timing apurado, agarrou com as duas mãos o espaço que o Expresso lhe deu e, de uma penada, disparou em três direções, procurando condicionar o tribunal (atacando a procuradora Cândida Vilar), inquinando a AG do último sábado (insinuando culpas de Frederico Varandas, «se houvesse uma imagem minha a rir como Varandas naquela altura em Alcochete, já estava preso em Guantánamo») e preparando a próxima AG (através de uma estudada vitimização, trazendo para a praça pública coisas que deveria manter no recato do privado).
Francamente, não acredito que o tribunal seja influenciado pelo que Bruno de Carvalho disse; quanto muito estaria a falar para os seus fiéis. E a AG do último sábado, apesar dos incidentes conhecidos, acabou com a aprovação do orçamento/Varandas, por larga maioria. Falta saber o que vai acontecer na AG que funciona como órgão de recurso da expulsão que o Conselho Fiscal e Disciplinar decidiu. Mas, de tudo isto, apenas uma coisa é absolutamente certa: aos 113 anos, sem paz interna o Sporting terá mais passado do que futuro...