Sporting mais forte

OPINIÃO03.02.202101:00

A contratação de Paulinho aguça o apetite leonino para a 2.ª volta. É caro? Caro é quem custa muito e não rende…

A tal estrelinha boa de Rúben Amorim deu sinal ao minuto fatídico de Jorge Jesus (90+2) e o Sporting venceu um Benfica que foi a Alvalade para não perder - a ponto de ter armado uma retaguarda com três centrais, numa descaracterização daquilo que tem sido a ideia de jogo da equipa e que, no fundo, revelou aquilo que o estado maior encarnado considerava prioritário: não permitir em caso algum que Sporting ganhasse e ficasse com nove pontos de avanço (uma diferença que até hoje nenhum candidato ao título conseguiu anular). Talvez por isso este tenha sido o Benfica mais inofensivo que passou por Alvalade em muitos, muitos anos. O líder teve a felicidade de marcar em tempo de descontos, quando quase toda a gente pensava que o jogo ia terminar empatado - um resultado que também se aceitava, porque o dérbi só produziu duas chances claras de golo -, mas creio que toda a gente viu que só houve uma equipa verdadeiramente empenhada em ganhar o jogo - o Sporting. E, como tem sido habitual, os jogadores de Rúben Amorim acreditaram até ao último fôlego que ainda era possível arranjar qualquer coisa. A tal estrelinha - há quem prefira chamar-lhe atitude - que lhes valeu pontos, vitórias e até reviravoltas ao cair do pano em seis jogos da presente temporada: FC Porto (2-2), Santa Clara (2-1), Gil Vicente (3-1), Farense (1-0), FC Porto (2-1, Taça da Liga) e Benfica (1-0).
Pode o Benfica lamentar a estrelinha boa do rival (e a saída destrambelhada de Vlachodimos, já agora…), mas creio que, no geral (isto também vale para a época), o Benfica só pode queixar-se de si próprio. Pensou o jogo de forma pequena (o que até é compreensível, dada a conjuntura) e não conseguiu o ponto pelo qual tanto porfiou. Nem pássaro na mão, nem três a voar: na realidade foram nove os pontos que o Benfica deixou fugir na jornada 16 (somando os três também perdidos para o FCP e para o Braga), depois de ter perdido seis pontos para os três rivais na jornada 15. A este ritmo será muito difícil a Jorge Jesus cumprir aquilo que prometeu no dia da apresentação. É que nem o Benfica joga o triplo do que jogava, nem sequer está como estava por esta altura na época passada. Pelo contrário. Vai no 4.º lugar com menos 13 pontos (!) do que o Benfica de Bruno Lage, que era líder à 16.ª jornada.
Os adeptos sportinguistas ainda ficaram a saber que Paulinho, avançado internacional português de 28 anos, vai reforçar a equipa, além de dois laterais - o veterano João Pereira, 36 anos, e o brasileiro Matheus Reis, 25 anos (Rio Ave), que não compete desde setembro. Paulinho passa a ser a contratação mais cara dos leões (16 milhões, mais Borja e o empréstimo de Sporar) e não faltará quem o ache caro, como caro, caríssimo!, foi Rúben Amorim há onze meses (hoje parece uma pechincha, não é verdade? Só o que ele valorizou a equipa…). Meus amigos, caro é quem custa muito e não rende, ou rende muito menos do que se esperava/apregoava. Não faltam exemplos disso no nosso campeonato. Creio que Paulinho é uma excelente aquisição e Rúben Amorim saberá por que razão fez tanta força na sua vinda. Trata-se de um avançado que aprecio particularmente (quem me segue na BOLA TV sabe que andei dois anos a pedir a Fernando Santos que lhe fizesse justiça…) e que parece perfeitamente adequado à ideia de jogo do Sporting. Falta saber como reagirá à pressão de jogar num grande; um grande que até poderá aspirar ao título… se a estrelinha boa do treinador (ou o que for) continuar a cintilar desta maneira.
 

Rúben Amorim chegou a Alvalade há onze meses apelidado de ‘caro’. Anteontem deixou o Benfica a nove pontos na luta pelo título...


Abel: agora o Mundial
 

ABEL FERREIRA venceu a Libertadores com o Palmeiras e tornou-se o sexto treinador português a ser campeão continental de clubes, depois de Artur Jorge (FC Porto), Manuel José (Al Ahly, quatro vezes), José Mourinho (FC Porto e Inter) e Jorge Jesus (Flamengo). Agora vai disputar o Mundial de Clubes no Catar. Defronta na meia-final (sábado) o vencedor do duelo que opõe, amanhã, o mexicano Tigres ao sul-coreano Ulsan Hyundai. O favorito absoluto ao título mundial é o campeão europeu Bayern Munique (joga com o vencedor do Al Duhail-Al Ahly) e, se tudo correr normalmente, é o Palmeiras quem lhe fará frente na final, marcada para dia 11 no estádio Education City na cidade de Al Rayyan. Há pouco mais de um ano, em Doha, o Flamengo de Jesus ofereceu réplica condigna ao Liverpool de Jurgen Klopp e só caiu no prolongamento (golo de Firmino aos 99’). Do Palmeiras espera-se o mesmo. Que chegue à final e não sofra um vexame como o que o Barcelona infligiu ao Santos de Neymar em 2011 (4-0) e ao River Plate de Gallardo em 2015 (3-0). Como escreveu o cronista Juca Kfouri, no Folha de São Paulo: «O que se exige de time brasileiro no Mundial é disputar a decisão. Ao chegar nela, a responsabilidade passa a ser do adversário europeu e só não pode haver goleada como o Barcelona impôs ao Santos em 2011. (…) Nem o Grémio, em 2017, contra o Real Madrid, nem muito menos o Flamengo, em 2019, contra o Liverpool, envergonharam o futebol brasileiro (…)» No mesmo jornal também escreve o famoso Tostão, campeão do Mundo em 1970. A propósito do Palmeiras-Santos no Maracanã, vejam o que ele escreveu sobre o jogo: «As grandes finais de uma competição geralmente são partidas ruins, truncadas, sem brilho, como a entre Palmeiras e Santos (…) As grandes finais não são partidas para ser analisadas nos detalhes táticos nem julgadas se são ruins ou boas. Existem para ser celebradas, poetizadas, para sempre.»
Que este espírito acompanhe o nosso valente Abel Ferreira no Catar. Boa sorte!