Sporting e o ‘guião certo’

OPINIÃO22.08.202206:30

Contratar médio de peso ou continuar com Ugarte e Morita e, a espaços, fazer entrar Mateus Fernandes com o guião certo, como diria JJ?

Ofutebol é um mundo de emoções. Num ápice furacões passam a brisas e vice-versa. Parece ser, neste início de época, o caso do Sporting. Perdeu em dois anos, por imperativos de mercado, opções estratégicas de direção e treinador ou lesões graves, cinco jogadores importantíssimos (Nuno Mendes, João Mário, Pablo Sarabia, João Palhinha e Matheus Nunes) e mais quatro importantes (Feddal, Tiago Tomás, Daniel Bragança e Tabata). Dificilmente poderemos considerar, mesmo com a entrada de oito bons jogadores (Paulinho, Ugarte, Esgaio, Edwards, St. Juste, Morita, Trincão e Rochinha), que o plantel está mais forte. Ou, pelo menos, que tem a mesma força e o mesmo equilíbrio. Claro está que, como atrás se escreveu, se num instante um furacão pode passar a brisa e vice-versa, daqui a três ou quatro jogos poderemos ter engolir esta tese. St. Juste pode vir a revelar-se central de eleição, Ugarte e Morita poderão formar dupla de aço a meio-campo e Trincão, Edwards e Rochinha talvez se catapultem para, com a ajuda de Paulinho, darem ao Sporting os golos que, sem ponta de lança mais fixo, parecem mais complicados de chegar.

TALVEZ seja esta a fase mais delicada de dois anos e meio de Rúben Amorim como treinador do Sporting. A perda do 3.º lugar em 2019/2020 (depois de o ter recuperado ao SC Braga), o prematuro afastamento da Liga Europa (LASK) e da Taça de Portugal (Marítimo), os três empates em quatro jornadas seguidas da Liga (Moreirense, Famalicão e B SAD) em 2020/2021 ou a péssima entrada na Liga dos Campeões (Ajax e Dortmund) de 2021/2022 parecem estar longe da contundência deste início de 2022/2023 (empate em Braga, derrota no Dragão, saídas de Tabata e Matheus Nunes e declarações de Rúben Amorim). Claro que, de novo, o furação pode passar a brisa num instante (ganhar jogos e adversários diretos perderem pontos). Para já, porém, importante será não piorar o que está mal: 1) dar mostras de que a polémica saída de Matheus Nunes não afetou a relação presidente-treinador; 2) esclarecer se a eventual incoerência aventada, nas entrelinhas, por Rúben Amorim, é ou não flecha apontada a Frederico Varandas; 3) contratar alguém para o lugar de Matheus Nunes (pelo menos deste).

Ofuturo pode passar por Mateus Fernandes. É visto por muitos como o jovem de maior potencial dos que já trabalham com Rúben Amorim e é o mais parecido, se é justo fazer-se esta comparação, com Matheus Nunes. Porém, Mateus Fernandes tem apenas 18 anos e necessita do tempo de maturação adequado. Há quem precise de pouco e quem precise de muito. A carreira de Palhinha ficou marcada, a 4 de fevereiro de 2017, quando já tinha mais de 50 jogos na Liga e ia a caminho dos 22 anos, porque, frente ao FC Porto, no Dragão, demorou um pouco mais a subir no terreno e fez com que Soares, em posição regular, fizesse o 1-0. «O FC Porto foi melhor na primeira parte porque o João Palhinha não levou o guião certo», disse Jorge Jesus, então treinador do Sporting. Só quase três anos depois, após uma época no Sporting com apenas 11 jogos e dois anos fulgurantes no SC Braga, Palhinha subiu ao nível que o seu potencial deixava adivinhar. É isto que Rúben Amorim não quererá. Para já, os leões têm parecem ter duas possibilidades: contratar um médio de peso ou continuar com Ugarte e Morita e, a espaços, fazer entrar Mateus Fernandes. Com o guião certo, claro.