‘Special’ mesmo quando não o é
Há homens cuja obra e personalidade se confundem de tal forma que criam a dúvida aos simples mortais: ele é bom pelo que faz ou por ser quem é? Uma dessas raras pessoas é José Mourinho. Basta analisar a imprensa online europeia para perceber o impacto que teve a sua entrada no Tottenham. Os números também ajudam: vai ganhar mais do dobro daquilo que Jurgen Klopp recebe no Liverpool. À exceção de Guardiola (e talvez do próprio Klopp no futuro, depois de fazer o prometido ano sabático), que outro treinador conseguiria um contrato desta envergadura depois de tanto tempo de paragem e após ter sido despedido de três clubes (Real Madrid, Chelsea e Manchester United)? A resposta está na persona criada por Mourinho. Daniel Levy, presidente dos spurs, é conhecido por ser provavelmente o dirigente mais difícil de negociar da Premier League e não é famoso por ser um mãos largas. Se decidiu investir tanto no treinador português mais titulado de sempre é porque acredita que Mourinho ainda tem a aura dos grandes comandantes. Não pertencendo ao G4, o Tottenham não sente a pressão de ser campeão e talvez tenha sido positivo este passo para o setubalense. Durante algum tempo Mourinho sabia mais que os outros em campo e depois goleava na comunicação; com o passar dos anos os outros já sabiam tanto como ele mas ainda perdiam na sala de imprensa; mais tarde parecia saber menos que os rivais e tentava empatar através dos microfones. Vindo de trás, quer na classificação (o Tottenham é 14.º) quer na recuperação do tempo, eis uma ótima oportunidade para Mourinho mostrar que conseguiu reinventar-se, que aproveitou a ausência para redefinir conceitos. Porque o futebol e o mundo mudaram. No fundo, para mostrar que o velho Mourinho ainda anda por aí. Se assim for será uma grande notícia.