Sou sócio de um clube de malucos… e gosto muito!
Confesso que vi a entrevista de Frederico Varandas à SIC já muito condicionado pelo que dela tinha ouvido dizer. Até pelos memes que circularam nas redes sociais (cheios de ó Teresa, ó Teresa, ó Teresa, dirigidos à minha colega Teresa Dimas, pivô do jornal em que ocorreu a entrevista). Quando a vi, fiquei preocupado, mas muito mais descansado. Afinal, os excertos que me iam chegando eram uma espécie de contrário do best of - eram o pior da entrevista. Ainda assim, e achando que Varandas teve razão em vários pontos que abordou, e desde logo na importantíssima necessidade de não governar para a bancada (ou não ser populista), ficou-me a impressão de que o Presidente do Sporting devia frequentar um curso de liderança.
Tive oportunidade de ser um dos oradores da Leadership Summit 2019, terça-feira passada, no Casino Estoril, onde defendi (entre outras coisas) que um dirigente deve ter peso, management e carisma. Penso que a Frederico Varandas tem faltado algo destas três categorias. Vejamos: peso ele teria de o conquistar, como aliás qualquer outro concorrente às eleições de 8 de setembro do ano passado. Até certo ponto conseguiu-o com a época anterior, mas falta ainda uma enorme caminhada na união do clube e na possibilidade de uma grande parte, tendencialmente a esmagadora maioria dos sportinguistas se reverem nele.
Quando ao management, ou gestão, ainda não me convenceu. As decisões das vendas e não vendas (de Bas Dost a Bruno Fernandes) podem ser explicadas financeiramente - e também concordo quando afirma que já o devia ter feito antes. Mas numa boa gestão a comunicação é essencial. A partilha com os sócios do que se está a fazer, sobretudo quando o que se está a fazer pode parecer errático, é fundamental. E essa envolvência, que poderia conduzir a uma comunhão de esforços, não foi feita. Soubemos que não se vendia Bruno por menos de 70 milhões (discutível), mas nunca soubemos que se ia vender Bas ou Raphinha. Menos ainda que levávamos com uns jogadores que estaremos dispostos a acarinhar e a puxar por eles, mas que, praticamente, nem sabíamos existirem. Como não se percebeu como Pedro Mendes não foi inscrito na Liga… enfim, por aqui há muito a melhorar.
Por último o carisma. Meu caro Presidente não levará a mal se eu lhe disser que esse é o seu ponto mais fraco. Tem a vantagem da honestidade, da aparência de ingenuidade, da crença no clube. Mas falta transmiti-la a quem dirige de modo a que os outros o sigam. Calma! Isso aprende-se, com treino e com o tempo. Por mim, estou disposto a dar-lhe o tempo justo.
Varandas ‘out’? E quem ‘in’?
Já aqui referi várias vezes que uma demissão da atual direção seria o maior dos tiros nos pés que o Sporting é useiro dar. É certo que, como reconhece o próprio presidente (quando distingue, e bem, a contestação espontânea da organizada), nós não aguentamos quatro derrotas seguidas (duas em casa com o Rio Ave), três penáltis cometidos por Coates e dois autogolos do mesmo jogador. Nem suportamos a incompetência de colocar um jogador em campo depois de ele ter sido o azarado da jornada. Porém, se substituirmos o atual presidente devido a maus resultados desportivos, quem para lá propomos? Eis algo a que ninguém responde com convicção.
Não me escondo atrás desta direção, à qual nada devo nem ela a mim. Já aqui disse que entendo que, infelizmente, o Sporting será o primeiro dos chamados clubes grandes (ou principais) a vender a maioria da SAD porque esse é um caminho fatal como o destino no panorama europeu. Já defendi que os estatutos do clube deviam ser mudados radicalmente e que as AG’s do Sporting não deviam ser como são, um local onde uns sócios demasiado fanatizados e vocais impedem qualquer serenidade de um debate. O Sporting tem emoção a mais e racionalidade a menos. Tudo é um caso; tudo é uma traição; tudo, ou quase, resulta em divisões.
Esta direção entendeu - bem ou mal - que o Sporting aguenta financeira e competitivamente evitando alienar a maioria da SAD. Muito bem, respeitemos. Salvo Rogério Alves, presidente da AG, não ouvi ninguém defender, ou vi alguém trabalhar, na mudança dos estatutos. Aqui parece-me incúria, porque parecendo de somenos, mas a governança de um clube é essencial. Quem estabelece o modelo e a forma de governação são, precisamente, os Estatutos.
Além do mais, a tecla de se ter salvo o clube da bancarrota é, de facto, muito importante, mas não colhe junto de muitos sportinguistas que não entendem o dinheiro desperdiçado nas vendas de alguns jogadores e na compra de outros. Pode dizer-se que há negócios que correm mal, ou que as circunstâncias de aperto impedem que sejam melhores. Mas, lá está, volto ao que já disse, tudo isso tem de ser partilhado na devida altura (assim que fechados os acordos) com os sócios. De outro modo, hão de me explicar para que me serve o Sporting ter maioria na SAD…
E chegamos à punch line da entrevista: o clube de malucos. É verdade que Varandas parece tê-lo dito sem querer. Quando Teresa Dimas, no seu papel de jornalista, insistiu, e bem, para que ele repetisse, não o fez. Mas é verdade! Somos um clube de malucos. Só um clube de malucos aguentaria todos estes anos com tantos sócios sem ganhar um campeonato de futebol sénior (nas modalidades as coisas são bem melhores); só um clube de malucos desperta tantas emoções, passando a vida em crises de dramatismo. Só um clube de malucos nos faz perguntar a cada um de nós por que ficamos deprimidos e tristes quando jogamos mal, sobretudo quando perdemos. Meu caro Frederico Varandas: eu reconheço-me num clube de malucos. Desde que nasci o Sporting venceu nove campeonatos, mas desde os meus longínquos 18 anos só venceu quatro. Mas não o troco por estes malucos do clube por nenhuns outros e continuo a torcer por ele.
Clube de malucos! Ainda que todos os génios do marketing lhe digam que não pode chamá-lo assim; mesmo que todos os especialistas de comunicação o informem que foi um erro dizê-lo - é algo que não me afeta nada. Certo que preferiria um clube mais ponderado e menos propenso à gritaria, mas bem pior é ser um clube de manhas, tiques, roubos de catedral e jogadas baixas. Com uma ponta de humor, e para citar Octávio Machado, «vocês sabem do que estou a falar».
Só uma ressalva, para quem não percebe: ser maluco pelo Sporting, não equivale a ser fanático.
E, já agora, um clube de malucos, é aquele que emenda a mão a tempo e recua na questão dos salários para os seus próprios dirigentes, com montantes que a maioria dos sócios não ganha em vários anos. Com os maus resultados desportivos e financeiros não poderia fazer outra coisa. Ainda assim, seria de loucos esperar que a AG da SAD, onde isso mesmo e a venda e compra de jogadores foi discutido, decorresse sem contestação.
Já esta noite, perante o LASK, para a Liga Europa, espero que este clube de loucos cometa a loucura de jogar bem e vencer.