Sim, há mesmo mudança de paradigma

OPINIÃO10.08.202004:00

JORGE JESUS aproveitou uma entrevista à BTV para clarificar algumas ideias e expor uns quantos conceitos. No fim, tudo espremido, valeu a pena o esforço. Ficou a saber-se, por exemplo, que a versão oficial, em relação ao que o Benfica disse dele e ele disse do Benfica,  afirma que tudo não passou da defesa intransigente de cada um dos emblemas. Porém, o que, à época, aconteceu, foi além disso, porque de um lado e do outro a questão passou a ser pessoal e não institucional, e foram pisadas várias linhas vermelhas. E tanto se tratava de uma querela entre pessoas, que foi precisamente na base pessoal que Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus se voltaram a aproximar e, numa primeira fase, abandonaram os processos que corriam em Tribunal; depois, retomaram as relações de amizade para, finalmente, Vieira decidir que logo que fosse possível JJ regressaria ao Benfica. Esteve quase para ser, na substituição de Rui Vitória, acabou por ser  na substituição do substituto de Rui Vitória. Do novo discurso de Jesus, a parte mais interessante é a da teoria do treinador de futebol, hoje aqui e amanhã ali, sempre pronto a morrer pelo clube que representa. Num ambiente tantas vezes inquinado pela clubite, esta frontalidade potencia a esperança de virmos a ver, num futuro não muito distante, o desaparecimento da figura do inimigo, onde deve existir um rival.

Mas a parte desportiva da entrevista também foi suculenta, porque JJ não teve nenhum problema em colocar na proporção certa a magna questão da influência da formação na equipa principal. Jesus sabe bem que a única coisa que importa é ter, a cada momento, uma equipa ganhadora; e que só numa estrutura forte é possível integrar, com sucesso, os talentos do Seixal. Se tivesse havido, no Benfica, quem não se deixasse iludir, as carreiras de Gedson, Ferro, Alfa Semedo, Nuno Tavares, Svilar e Florentino teriam tido percursos bem mais sólidos. As etapas que os obrigaram a queimar, apenas os prejudicaram (e ao Benfica).    
   
Pelo que está a ver-se, à Luz estão a chegar elementos de grande valor (Everton Cebolinha é mega-craque) e os nomes que são falados mostram que, seja por ser ano eleitoral depois de uma péssima época, seja porque estamos a assistir à mudança de paradigma (e estamos!), o Benfica está a construir um plantel muito forte. Mas, como sempre, é preciso deixar a bola começar a rolar...