Setembro

OPINIÃO01.09.202003:15

1 - Entramos hoje em Setembro num tempo de futebol onde já não se distingue o fim do velho e o começo do novo. Insondáveis tempos os que agora vivemos, que vão do confinamento físico ao mental. Por agora, não é ainda possível perceber como vão estar os estádios no decurso das competições em termos de espectadores. Entretanto, vamos ter jogos entre selecções da tal Liga das Nações, sem que muitos dos jogadores tenham feito, ao menos, um jogo e outros quase indo directamente das férias para o hotel da selecção (além da inoportunidade para equipas que, simultaneamente, jogam o apuramento europeu). Melhor ou pior, as actividades económicas tentam acomodar-se a um enquadramento jamais observado, reduzindo encargos, adaptando modos de trabalho, adiando investimentos, diversificando a oferta nesta luta contra um inimigo invisível. Pelo que li e ouvi no quente mês de Agosto, parece que no mundo do futebol se aparenta viver numa ilha isolada distante do mundo real em que nações, empresas e famílias enfrentam tantas ameaças e incertezas. Os milhões continuam a parecer (o que é diferente de aparecer) fartos, os salários idem aspas, as contratações de sonho espreitam e ainda estamos a mais de um mês do fim de um quase eterno mercado. Estádios vazios, lugares de temporada não adquiridos, publicidade rarefeita, media e canais televisivos em desespero ou enormes dificuldades parecem ser secundarizados na miríade fantasista do que já não volta.

2 - Lisboa recebeu a fase final da Champions. Sem confusões, como também sem grande proveito. Por cá os jogos - com a excepção da final - não foram vistos pela grande maioria das pessoas, agora que estão limitados a um canal pago. Ganhou como era previsível a melhor equipa, o Bayern de Munique. Ganhou a melhor concepção de futebol como desporto associativo. Ganhou a melhor conciliação entre disciplina, robustez e eficácia desempenhada por jogadores sem vedetismo em overdose, e com uma incomparável entrega a um jogo em que mais do que as fintas e fintinhas conta a qualidade dos movimentos e dos passes. Como foi bom ver uma final bem disputada, na qual a equipa alemã estando a ganhar por 1-0 não se retraiu, não entrou em picardias ou disfarces de lesões para que não se jogasse. Gostei que os bávaros tivessem ganho, mas tive pena de ver Neymar derrotado na final, ele que é o mal-amado dos media futebolisticamente correctos, ao contrário de outros que têm sempre óptima imprensa a socorrê-los. Ficou patente que as eliminatórias a uma só mão tendem a favorecer a imprevisibilidade do resultado e, consequentemente, a dar acrescidas oportunidades às equipas menos favoritas. Compreende-se que assim tenha sido, embora não seja modelo que me agrade. Curiosa foi a circunstância de os dois adversários do grupo onde esteve o Benfica - falo do Lyon e do Leipzig - terem chegado longe, em particular os franceses que - recorde-se -  na derradeira jornada da fase de grupos, estavam fora da Champions e da Liga Europa a 3 minutos do fim do seu jogo… Ficou assim mais claro que o pior sorteio é quando calham 4 equipas de valor semelhante, onde a distância entre ser primeiro ou último é muito mais estreita. Uma palavra final para o fim do Barça mágico. Já estava pré-anunciado, depois da saída desses dois grandes magos do futebol que foram Iniesta e Xavi Hernandez (estranha e injustamente sempre postos de lado na atribuição do melhor jogador mundial, por causa da obsessão maniqueísta mediaticamente alimentada entre Messi e Ronaldo). Antes já saíra Neymar. Ronald Koeman tem um grande desafio à sua altura, com ou sem Messi. Uma última nota: vi o Bayern a jogar contra o Barcelona com o resultado já muito desequilibrado como se o jogo estivesse empatado, chegando a 8 golos e mais seriam se a partida tivesse demorado mais uns minutos. Não vi ninguém comentar esta atitude bávara como imoral ou ético-desportivamente ignóbil. E, por associação de memória, logo me lembrei da vitória em 2018/2019 do Benfica marcando 10 golos ao Nacional. Lembram-se do que os espevitadores do costume disseram então?

3 - Terceira final em sete edições na Youth League e ainda não foi desta que o Benfica a venceu. Não era suposto que a maldição de Béla Guttmann se estendesse aos mais jovens. Com a minha idade tive o privilégio de, no futebol sénior, ver o meu clube vencer duas Taças dos Campeões em 1961 e 62, e a amargura de o ver perder outras cinco finais, bem como 3 finais da Liga Europa e UEFA. Houve de quase tudo nestes jogos: contra o Milan em 63, num jogo (ainda sem substituições) em que o SLB jogou, de facto, mais de meia-hora sem M. Coluna. Se fosse hoje haveria substituição e Trapattoni teria levado cartão vermelho. Em 1965, contra o Inter jogado em casa do adversário num lamaçal em que o SLB também acabou com 10, por lesão do guarda-redes Costa Pereira e o defesa Germano a ir para a baliza por 33 minutos. Na sua quinta final em 8 anos, em 1968, defronta o Man. United de novo no país do adversário, perdendo no prolongamento, depois de Eusébio ter falhado o golo da vitória a 2 minutos do fim do tempo regulamentar, que, em regra, teria convertido. Em 1988, foi o PSV a vencer no desempate por penáltis (apesar de o Benfica ter concretizado os primeiros 5 penáltis, o que, em geral, chega para vencer…), não tendo jogado o jogador mais influente Diamantino, por 3 dias antes se ter lesionado gravemente. Na outra competição, depois da derrota contra o Anderlecht (1983), já neste século houve a injusta final contra o Chelsea, perdida no minuto 92 e, contra o Sevilha, de novo por penáltis, com uma arbitragem vergonhosa que tudo permitiu durante o jogo e também nas grandes penalidades ao guarda-redes do Sevilha adiantado sistematicamente. Verdadeiramente normal, foi apenas a derrota contra o quase invencível Milan por 1-0 em 1990.
Voltando à final da Youth League, também aqui a maldição pairou. Penálti não convertido e bola na barra nos instantes finais. Apesar da tristeza e da infelicidade, o Benfica voltou a provar por que razão tem uma das mais prestigiadas escolas de formação que tem dado craques de muito valor ao futebol, assim como tem possibilitado retornos financeiros cruciais.