Sérgio, Jorge, Abel e Rafael: homens do ano
Treinadores do FC Porto e do Palmeiras, presidente Pinto da Costa e Leão do Milan com sucessos indiscutíveis no ano horrível de Ronaldo
A PROVEITO o último artigo do ano para falar sobre aqueles que considero terem sido as figuras futebolísticas nacionais de 2022. Destaco quatro nomes: a dupla portista Sérgio Conceição e Pinto da Costa; Abel Ferreira, treinador do Palmeiras; e Rafael Leão, avançado do Milan e da Seleção. Se tivesse de eleger só um, escolheria Sérgio Conceição, o homem que conduziu o FC Porto a uma segunda dobradinha em três anos (o que nunca tinha acontecido na história do clube), reforçando o domínio portista iniciado por Pinto da Costa na década de 90 do século passado.
De Sérgio Conceição deve acrescentar-se que está prestes a igualar/ultrapassar José Maria Pedroto como treinador portista com mais jogos ganhos (213 contra 214), podendo ainda tornar-se, no dia 28 de janeiro (final da Taça da Liga, se o FCP chegar lá e ganhá-la…) o treinador portista com mais títulos conquistados (tem oito, como Artur Jorge). Tudo isto num tempo em que o clube vive de cinto apertado sem dinheiro para grandes vícios.
Sérgio é ótimo treinador, grande taticista e um aperfeiçoador de jogadores; percebe-se a léguas que é emotivo, hipercompetitivo e apaixonado pelo que faz, mas não ganha nada por ter tão mau perder e ser tantas vezes expulso (cá, porque na Champions é mais recatado: sabe que as multas e os castigos são a doer). Era de um treinador com o seu perfil futebolístico que a Seleção precisava agora. Com ele o FCP em 2022 só não ganhou a Taça da Liga e terminou o ano com uma reviravolta espetacular na Champions (duas derrotas a abrir seguidas de 4 vitórias) que lhe permitiu passar pela quarta vez à fase eliminatória.
Pinto da Costa também podia ser tranquilamente o homem do ano. Não pelos títulos que a equipa de futebol conquistou, que isso é a rotina da sua longuíssima presidência; mas por um motivo muito especial: comemorou a 17 abril passado 40 anos na presidência do FCP, um marco de tal maneira espantoso e bizarro (quarenta anos!) que não deve haver nada igual no resto do Mundo. Conhecem algum presidente (seja do que for) que esteja há 40 anos seguidos no poder? Como quer que seja, falar de Pinto da Costa, aos 82 anos de idade e 40 no cargo, é falar de um gestor desportivo sem par que continua a incendiar paixões e ódios embora já sem a intensidade de outrora. As conquistas dos presidentes históricos dos outros dois grandes comparadas com as dele parecem brincadeiras de juniores. Lembremo-las. Em 40 anos com PC, o FCP ganhou 66 títulos (59 domésticos, 7 internacionais) contra 36 do Benfica (todos domésticos) e 22 do Sporting (todos domésticos). Ou seja, Pinto da Costa deu cabo da supremacia do futebol lisboeta e fez do FC Porto o maior clube do país no que interessa, muito acima dos rivais. Sozinho, tem mais campeonatos (23) que Benfica (13) e Sporting (3) juntos. Há muita gente que anda a dizer há imeeeeenso tempo que o FCP está em «fim de ciclo» (numa alusão à idade de Pinto da Costa), mas esse fim de ciclo está custoso de chegar.
Se Abel Ferreira tivesse ganho a terceira Libertadores consecutiva a juntar ao título brasileiro brilhantemente alcançado com o Palmeiras seria certamente o homem do ano. Ainda assim, é impossível não admirar e elogiar o que este homem tem conseguido na etapa brasileira à frente do Verdão: ganhou tudo! É o treinador que 30% dos futebolistas do Brasileirão queriam ver à frente da seleção canarinha (Guardiola recolheu 26% das preferências).
Quanto a Rafael Leão, foi em nossa opinião o melhor futebolista português do ano. Eleito melhor jogador da Serie A aos 23 anos, Leão foi o homem que conduziu (com golos e assistências) o Milan ao primeiro scudetto em 11 anos e transformou-se, por isso, numa estrela de primeira grandeza, com direito a manchetes regulares na Gazetta dello Sport e outros. Um avançado eletrizante (ainda algo intermitente e distraído…) que devia ter tido mais palco no Mundial do Catar. E mesmo assim fez dois golaços…
Sérgio Conceição levou FC Porto à segunda ‘dobradinha’ em três anos, algo inédito no clube
AI, CRISTIANO
DOIS mil e vinte e dois foi o pior ano da sua longa e fabulosa carreira, em termos desportivos (nenhum título, apenas 16 golos contra os 46 do ano anterior) e institucionais (perda de titularidade e saída com polémica do Man. United, desilusão no Mundial, fecho de portas na elite europeia, etc., etc.). Mesmo o passo que pode vir a dar (Al Nassr, Arábia Saudita) não se coaduna com aquilo que ele sempre representou para milhões de adeptos: um atleta hiper-ambicioso que construiu uma carreira única a competir nas ligas mais difíceis e exigentes do Mundo (Inglaterra, Espanha e Itália). Lembro que os mais de 800 golos que marcou e todos os seus títulos foram conquistados nas maiores competições de clubes e de seleções contra as melhores equipas do mundo, as melhores defesas do mundo e os melhores treinadores do mundo. Sim: Cristiano venceu tudo nas big three (Premier League, La Liga, Serie A) e fez-se uma lenda a brilhar na créme de la créme - a Champions, onde é recordista de tudo e mais um par de botas.
É por isso difícil aceitar o fim, na alta competição, da maior máquina de competição que o futebol conheceu. Que 2023 nos traga de volta o verdadeiro Ronaldo (de cabeça limpa) e não este de 2022. E se puder ser na Europa…
VIVA REI PELÉ
A doença está a minar o corpo de Rei Pelé, o maior futebolista de todos os tempos. Com 82 anos e notoriamente debilitado, definha a cada dia que passa a esperança de o vermos fintar este último e terrível adversário. O Brasil sustem a respiração e tenta não pensar no dia em que...
Nunca vi Pelé jogar. Mas vi filmes e vídeos suficientes dele para perceber o porquê da sua deificação em vida. Que atleta mais extraordinário… e que coisas assombrosas ele fazia!!! Vivem os irmãos brasileiros dias de angústia assim como todos os que conseguem ver no futebol a poesia e beleza plástica que ninguém expressou como Edson Arantes do Nascimento. Se tivesse de escolher um momento de todos os que vi do imortal Pelé escolhia o passe que ele fez para Carlos Alberto martelar o quarto golo do Brasil à Itália na final do Mundial de 1970. A jogada mais bela (samba!, fantástico exercício de geometria punitiva!) da equipa mais bela de todas: o inigualável Brasil de 70, com Pelé nos comandos. Força, meu Rei, força!